Eu escrevi um poema horrível! É claro que ele queria dizer alguma coisa... Mas o quê? Estaria engasgado? Nas suas meias palavras havia no entatnto uma ternura mansa como a que se vê nos olhos de uma criança doente, uma precoce, incompreensível gravidade de quem, sem ler os jornais, soubesse dos sequestros dos que morrem sem culpa dos que se desviam porque todos os caminos estão tomados... Poema, menininho condenado, bem se via que ele não era deste mundo nem para este mundo... Tomado, então, de um ódio insensato, esse odio que enlouquece os homens ante a insuportável verdade, dilacerei-o em mil pedaços. E respirei... Também quem mandou nascer no mundo errado...
ai daqueles que se amaram sem nenhuma briga aqueles que deixaram que a mágoa nova virasse chaga antiga ai daqueles que se amaram sem saber que amar é feito pão em casa e que a pedra só não voa porque não quer não por que não tem asa.
Tens uma paleta a que faltam algumas cores. Talvez porque há substâncias a que não soubeste dar expressão. Ou porque elas são incolores. Ou porque em toda a realidade há fendas que nem pela palavra nem pela cor alguma vez saberás preencher.
Tu és a antecipação do último filme que assistirei. Fazes calar os astros, os rádios e as multidões na praça pública. Eu te assisto imóvel e indiferente. A cada momento tu te voltas e lanças no meu encalço máquinas monstruosas que envenenam reservatórios sobre os quais ganhaste um domínio de morte. Trazes encerradas entre os dedos reservas formidáveis de dinamite e de fatos diversos.
II Tu não representas as 24 horas de um dia, os fatos diversos, o livro e o jornal que leio neste momento. Tu os completas e os transcendes. Tu és absolutamente revolucionária e criminosa, porque sob teu manto e sob os pássaros de teu chapéu desconheço a minha rua, o meu amigo e o meu cavalo de sela.