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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
DIA DE NATAL

Dia de Natal
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros - coitadinhos - nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha~se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra - louvado seja o Senhor! - o que nunca tinha pensado comprar.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda~o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus,
doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
António Gedeão
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
PARA TUA FOME
SE TODAS AS TUAS NOITES FOSSEM MINHAS

Se todas as tuas noites fossem minhas
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.
Hilda Hilst
QUEEN - Love Of My Life -
Artista: Queen
Música: Amor da Minha Vida
Amor da minha vida
você me feriu
você partiu meu coração
e agora me abandona
amor da minha vida
você não consegue enxergar
traga-o de volta
traga-o de volta
não o tire de mim
por que você não sabe
o que isso significa para mim
Amor da minha vida
não me abandone
você levou meu amor
e agora me abandona
amor da minha vida
você não consegue enxergar
traga-o de volta
traga-o de volta
não o tire de mim
por que você não sabe
o que isso significa para mim
Você se lembrará
de quando isso acabar
de quando estiver
superado
quando eu envelhecer
eu estarei lá
ao seu lado
para te lembrar
como eu ainda te amo
Eu ainda te amo
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
NATAL
Natal
Todos os anos à hora marcada
desces do céu onde é o teu lugar.
E logo o erro já me não diz nada
e fico a acreditar.
Aéreo encanto de uma voz perdida
no que de voz começa em ser criança,
nada de vida em ti é ainda vida,
e é o que não cansa.
Ficasses tu assim no que hás-de ser
e não seres nunca um homem por inteiro…
Porque o teu berço tem mais p'ra dizer
que o teu madeiro.
Fica-te aí, sorri, que tudo é vão
no mais que fores quando fores gente.
Toda a verdade está nessa ilusão
de estares presente.
Que o teu sorriso não é de ninguém;
nem é de ti, que inda o não sabes ser,
nem é dos outros, que já só o têm
em o estar a ver.
Mas perto e longe, por tê-lo e não tê-lo
é que tudo é belo.
Vergílio Ferreira
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