Você nunca está só. Sempre a seu lado Há um pouquinho de mim pairando no ar. Você bem sabe: o pensamento é alado... Voa como uma abelha sem parar. Veja: caiu a tarde transparente. A luz do dia se esvaiu... Morreu. Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente... Esta sombra sou eu. O vento ao pôr do sol, num balanço de rede, Agita o ramo e o ramo um traço descreu. Este gesto do ramo na parede Não é do ramo: é meu. Se uma fonte a correr, chora de mágoa No silêncio da mata, esquecida de nós, Preste bem atenção nesta cantiga da água: A voz da fonte é a minha voz. Se no momento em que a saudade se insinua Você nos olhos uma gota pressentiu, Esta lágrima, juro, não é sua... Foi dos meus olhos que caiu... Olegário Mariano
Um amor que chega sem ser esperado... Que não pede permissão para entrar... Mas que invade o corpo inteiro... Como se dono fosse do meu ser... Um amor que vi aos poucos dentro de mim crescer! Um amor que a distância não impediu, De aflorar na minha existência tão sem graça. Que me trouxe a alegria de estar vivo... Que despertou a emoção adormecida! Quando descobri que estavas em minha vida, Ah esse amor que chega a doer de tanta saudade... Que anseia em seus braços um dia ser aconchegado. Que sonha com seu rosto um dia acariciar. Em teu corpo os delírios do prazer sentir... E o seu coração com o meu amor seduzir! Ah esse amor..., esse amor... Que deixa meu corpo em brasas. Quando em sonho muitas vezes acordado. Sinto o seu corpo sob o meu, e Assim por ti estar sendo amado. O que seria de mim se não sonhasse! Talvez perdesse a esperança.... Mas eu sonho, e tenho esperança. Que um dia em nossas vidas vou lhe encontrar, Com meu carinho e meu amor poder dizer, Que eu nasci para lhe amar e ser amado por você! Juliana Olivery
Pintei com coloridos paus de giz Sobre a face polida duma lousa Uma cabana, assim como quem ousa, Procurar um lugar pra ser feliz. Pintei-a sobre dunas junto ao mar Disfarçada por entre canaviais Pra poder resistir aos vendavais Do esverdeado azul do teu olhar. Quatro paredes, tecto, mais um chão, É quanto basta pra minha emoção, Que o luxo da paisagem mais importa. Uma cama com uns lençóis de linho, E a ternura macia do meu ninho, Pra quando o amor vier bater-me à porta. Cândido
O sol entrou feliz pela janela e tudo iluminou alegremente. Há um cão que ladra, e um pássaro desgrana ligeiras harmonias em torrentes. De costas em meu leito, sinto um vago desejo de adorar essa distâncias, de me perder na cerração dos lagos, de me cegar na luz dessa alegria; de ir cantando por um caminho agreste e de sentir todo o dulçor das tardes, o coração repleto da celeste chama de amor que nos caminhos arde. Pablo Neruda
Rosas, ó rosas desfolhadas, De tantas recordações amorosas, Marcam as páginas amareladas No meio do livro silenciosas. Os poemas, no livro aprisionados, Vertem lágrimas de sangue Sob as pétalas, olhos estagnados, Da folha de papel exangue. Pétalas que inspiraram meus sonetos, Notas que ritmaram meus cantos, Hoje são apenas esqueletos Dispostos em vários cantos Dum jardim sem vivacidade, Porque se foi num raio de lua Para o céu da minha saudade O meu amor deixando na rua, Refletido numa poça d’água, Seu rosto firme de traços bonitos, Na testa fundos vincos de mágoa Lembrando dores de velhos atritos. E só restaram as rosas ressecadas, Rosas, rosas, rosas e mais rosas, Entre as folhas do livro abandonadas Sufocando as estrofes suspirosas. Maria Hilda de J. Alão
Quando quiseres te encontrar comigo Eu estarei sempre no entardecer... Vem ver o mar e o sol a se esconder E traz todo esse amor que tens contigo. Não me procures nos salões de vício Nem nos bares escuros da cidade, Nem nas esquinas de qualquer maldade, Pois entendo isso como um desperdício. Quando tu precisares dum aconchego Dum beijo, dum carinho, dum chamego, Eu troco pelos teus beijos de mel. E te envolvo nos meus lençóis de linho Nas noites em que escrevo com carinho Estes meus guardanapos de papel. Cândido
“Não estejas longe de mim um só dia, Porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia, e te estarei esperando como nas estações quando em alguma parte dormitaram os trens. Não te vás por uma hora porque então nessa hora se juntam as gotas do desvelo e talvez toda a fumaça que anda buscando a casa venha matar ainda meu coração perdido. Ai que não se quebrante tua silhueta na areia Ai que não voem tuas pálpebras na ausência Não te vás por um minuto, bem-amado, Porque nesse momento terás ido tão longe que eu cruzarei toda a terra perguntando se voltarás ou se me deixarás morrendo.” Pablo Neruda