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sábado, 19 de junho de 2010
AMOR E MEDO
DAS EMOÇÕES...
DO TEU CHEIRO...
SONHO DE TERRA LIVRE

Entre o desejo que me sustenta
E as palavras que semeio
Com lápis de pedra rasgo o pensamento
E escrevo na alma do povo
Mais do que o coraçao dita:
Delírios no combate do ser
Entre o desejo
Fonte de saber-
E que o desejoe os rios
Juntos
Me saibam nascer
Aqui
Na minha alma de papel
Sob o ser ou não ser desta história
Meu sonho de terra livre
Em palavras escritas com tinta de sangue
Ó exposto desagrado
.
by Jorge Pereira
quinta-feira, 17 de junho de 2010
PECADORA

Tinha no olhar cetíneo, aveludado,
A chama cruel que arrasta os corações,
Os seios rijos eram dois brasões
Onde fulgia o simb’lo do Pecado.
Bela, divina, o porte emoldurado
No mármore sublime dos contornos,
Os seios brancos, palpitantes, mornos,
Dançavam-lhe no colo perfumado.
No entanto, esta mulher de grã beleza,
Moldada pela mão da Natureza,
Tornou-se a pecadora vil. Do fado,
Do destino fatal, presa, morria
Uma noute entre as vascas da agonia
Tendo no corpo o verme do pecado!
Augusto dos Anjos
ESPERA-ME

Espera-me!
Não desesperes!
Se a vida tardar
Vai edificando sua condução.
Mesmo com pètalas da tua dor
Assenta o designio no coração de enxada
No arado do teu corpo em chamas
Com lanças de mel no sonho
Vida que surge sem tempo
Num ateia a esperança
Num charco de lama
Onde postrado e ao vento
Deténs dermente
A miragem de meus negros olhos
Bebendo o desejo da tua liberdade.
by Jorge Pereira
SOPRA UM VENTO

Sopra um vento entre mim e ti
nascido como todos
quando escavávamos dentro de nós
escavando a distância
foi já tempestade fechada em nevoeiro
hoje é apenas brisa
afrouxada na distância
recebo esse sopro suave como uma carícia
de quem ao largo me acena
enquanto parte
sempre entre nós um vento
ar com que te respiro
enquanto o longe nos escava
a distância.
Ana Viana
AMOR AMANTE

Ah, esse teu perfume que me deixa
saudade e desperta doce lembrança,
ainda está em minhas mãos…
*
Ah, esse teu olhar que minh’alma invade
e me desnuda a ser em louco desejo,
e desperta doce lembrança,
ainda está em meu olhar…
*
Ah, esse teu corpo que se entrega
e se perde na carícia, no beijo,
e que recebe meu corpo quase cego,
e desperta doce lembrança,
ainda sinto ao meu lado…
*
Ah, esse amor que me consome,
maltrata sufoca e conforta,
é alimento, é vida, sabor de pecado…
faz renascer minh’alma quase morta…
*
Ah, essa saudade que sinto a
todo instante…
e desperta doce lembrança,
a certeza de que vivo,
de que amo… e sou amante…
Carlos Saad
PRESÍDIO

Nem todo o corpo é carne … Não, nem todo,
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco …?
E o ventre, inconsistente como o lodo? …
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor … Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo …
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono …
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão-Ferreira
terça-feira, 15 de junho de 2010
DISSESTE-ME

Disseste-me...
Foi nessa madrugada até ser dia
Na mesa um chá quente e o licor
Os dois ali sentados na varanda
Olhando a lua devagar.
Do silêncio, tu disseste
Coisas da vida que nos fazem viver!
"Repara na beleza e na cor
Que cada noite dá a todos nós!
No entanto, a correria dos minutos de cada dia
Faz perder o sentido da magia
Das coisas simples que nos fazem viver.
Viver a luz do Sol que agora chega
Tornar os nossos sonhos realidade
Abraçar a saudade
Sentir dor e alegria
Sentir a paz e o valor da nossa idade
Ter pureza de criança no olhar
Subir a uma árvore e provar
O fruto que ela dá sem resistir
Pisar as folhas secas numa tarde outonal
Saber de onde vimos
E p'ra onde queremos ir..."
Coisas da vida que nos fazem viver!
Foi nessa madrugada até ser dia
Os dois ali sentados na varanda
Olhando a lua devagar.
Do silêncio, tu disseste
Coisas da vida que nos fazem viver!
(Isabel Noronha)
ELLA FITZGERALD


Ella Fitzgerald
Nasceu em 25 de abril de 1917 em Newport News , Virgínia, e morreu em Beverly Hills, em 15 de junho de 1996. Cantora americana de jazz, foi sem dúvida, uma das vozes mais influentes do séc. XX. Inspirou inúmeros cantores com a sua voz intensa e fresca que, aliada a uma extraordinária musicalidade, permitiu-lhe desenvolver uma sonoridade muito própria na interpretação de cada tema bem como uma enorme destreza na improvisação.
TRANSPARÊNCIA

Teus olhos cintilantes
No profundo horizonte da dor
Transmitem o rio da vida:
Momentos demorados e antigos
Nos espaços livres
Desocupados de afeição´
Serenidade que a alma reclama
E onde se alimenta.
O regulamento livre
E perturbante
Afogado no desespero
Ãnsia de conquistas
Num curso sem leito
Arrasta no desabitado
A penumbra do desafio:
Momentos gastos
E sem vida
.
by Jorge Pereira
A VERDADE...
segunda-feira, 14 de junho de 2010
A LENDA DA FLOR MIOSÓTIS
Numa linda tarde primaveril, dois jovens noivos passeavam felizes.
Pelas margens do Rio da Carpa Dourada quando de repente apareceu
Flutuando sobre as águas impetuosas do rio, um lindo ramo de miosótis.
Então, a noiva que nunca tinha visto aquelas flores, pediu ao noivo que as.
Apanhasse.Ele se atirou nas águas do rio e apanhou as flores,
Mas ao voltar para as margens, a forte correnteza arrastou-o consigo.
E desaparecendo em um instante, levado pelas águas.
E conta à lenda que antes da morte o noivo gritou: '
Não me esqueças, ama-me para sempre!'Desde então, o miosótis floresceu nas margens dos rios,que ninguém morresse por sua causa,
E foi chamada a flor do “não-me-esqueças”
LABIRINTO DO AMOR
CADA VERDADE

Agora que os milénios se passaram
Sobre as glórias do império de uma infância
Recordo, debruçada na distância,
O muito que esses tempos me ensinaram.
O tanto que então lia e pesquisava,
As construções das cores e dos grafismos
E a dissecação dos silogismos
Em que uma maioria acreditava…
As coisas que aprendi, as que sonhei,
As que nunca pensei `inda aprender
E os sonhos construídos na vontade…
Hoje procuro ainda o que não sei
Nos mais fundos recantos do meu ser
Onde alcanço encontrar cada verdade.
Maria João Brito de Sousa
DECEPÇÃO
Um dia, que pode estar distante,
vão entender que fui importante,
que dei meu sangue sem restrições
para amparar corações.
Um dia vão entender
que tenho o meu modo de viver
e que apesar de ter
meus defeitos e imperfeições
vivo também grandes decepções,
que fazem com que eu esteja sempre me questionando
a razão de amar e não sentir que estão me amando.
A decepção corrói meu coração,
mas a vida tem que seguir em frente.
Afinal tem muita gente
que está vivendo sem pensar,
que passado não se pode apagar
e que o futuro pode não chegar.
Tento apenas ter minha consciência tranquila
que dei o melhor de mim
e que não importa se acham que não foi assim.
O tempo passa sem que possamos sentir
e, no fim de tudo, quero ver quem de nós vai sorrir,
se serei eu, que nesse momento mergulhei na decepção,
ou quem magoa tanto o meu coração.
(Silvana Duboc)
RESPIRAÇÃO

Não minto nem digo a verdade
Sou como o vento que sopra
e a chuva que cai.
Sou a luz que ao anoitecer
devolve claridade.
Sou como as escadarias
que aparecem nos sonhos:
um clarão entre degraus,
uma sombra entre dois passos,
uma nuvem esbraseada.
Sou como a erva que cresce
e o frio que une os corpos.
Não falo nem silencio.
Desperto para sonhar.
Não respondo nem interrogo.
Apenas respiro
junto ao dia que nasce.
Lêdo Ivo
In Crepusculo Civil
LEVEI O DIA TODO...

Levei o dia todo, a minha tarde inteira,
não joguei futebol e até nem quis brincar
de soldado e ladrão...
Ajoelhado na sala, a minha brincadeira
foi cortar os papeis de cores, e os juntar
fazendo o meu balão...
Só tarde, quando o céu, lá na altura se encheu
de outros muitos balões - eu o levei para a rua
entre grande escarcéu...
Nem sei como o fizera - era mais alto que eu!...
- havia de passar bem juntinho da lua
até tocar no céu!...
Olhando-o não cabia em mim minha alegria,
e a todos, um a um, apontava contente:
- vê? Fui eu que fiz...
Depois... Eu o acendi... Que bola ele fazia!...
- Foi inchando... crescendo... encheu completamente!...
Como fiquei feliz!...
Afinal... vendo-o cheio a vacilar... Soltamos!...
E ele ergueu-se no espaço... e em coro a garotada
gritou numa explosão:
Vai subir !... Vai subir !... Mas, logo nos calamos...
Na noite de luar, na noite enluarada
- pegou fogo o balão !...
......................................................
Hoje, às vezes, me lembro do balão queimado
e choro ao reviver as cousas do passado
que o tempo sepultou...
- É que eu fiz, outra vez, depois daquela idade,
um balão bem maior: - o da Felicidade
que a vida incendiou !...
J G de Araújo Jorge
domingo, 13 de junho de 2010
NÃO ERAM OS MEUS OLHOS QUE TE OLHARAM

Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.
José Carlos Ary dos Santos
POEMA

Senhora de muito espanto,
vestindo coisas longínquas
e alguns farrapos de sono,
eu vim para te dizer
que inutilmente contemplo
na planície de teus olhos
o incêndio do meu orgulho.
Senhora de muito espanto,
sentada além do crepúsculo
e perfeitamente alheia
a realejos e manhãs.
Eu vim para te mostrar
que se inaugurou um abismo
vertical e indefinido
que vai do meu lábio arguto
ao chumbo do teu vestido.
Senhora de muito espanto
e alguns farrapos de sono,
onde o céu é coisa gasta
que ao meu gesto se confunde.
Um dia perdi teu corpo
nas cores do mapa-múndi.
Carlos Pena Filho
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