
Poemas e sapatos
Nada tenho de meu, nem os sapatos
que vão acompanhar este defunto.
Nem tampouco montanhas e regatos
que habitavam o verso, nem o indulto
pode valer-me, o soldo, mero extrato
de contas. Nada tenho, nem o intuito
consome esta vontade ou desacato.
Desapareça o nome, seu reduto
de carne e bronze, a fome incorporada
e mais desapareça onde fecundos
são dias e são deuses nesta amada.
Não foram nunca meus - sonhos e fatos.
Nada tenho. Poemas e sapatos
irão reconhecer-me noutro mundo.
Carlos Nejar
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