
O Mal
Elle estava sentado, ao fim do dia,
Sobre as ruinas de velhas tradições,
Soltando ao largo as trovas da Agonia
Entre um côro de eternas maldições.
Tinha na face encarquilhada e fria
A sordidez dos infimos ladrões;
E na dextra uma taça, onde bebia
O sangue de extinctas gerações.
Eu, ao vêl-o, bradei: Porque é que existes,
Tu, que geras o Horror, e a elle assistes
Tranquilo, como á queda de Salém?
Porque, ó Mal? - E o Mal, sombrio e tôrvo,
Fitou em mim o seu olhar de côrvo,
E respondeu-me: Porque existe o Bem.
Narciso de Lacerda
Nenhum comentário:
Postar um comentário