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sábado, 4 de julho de 2009
O BANDOLIM
O Bandolim
Cantas, soluças, bandolim do Fado
E de Saudade o peito meu transbordas;
Choras, e eu julgo que nas tuas cordas,
Choram todas as cordas do Passado!
Guardas a alma talvez d’um desgraçado,
Um dia morto da Ilusão as bordas,
Tanto que cantas, e ilusões acordas,
Tanto que gemes, bandolim do Fado.
Quando alta noite, a lua é fria e calma,
Teu canto vindo de profundas fráguas,
É como as nênias do Coveiro d’alma!
Tudo eterizas num coral de endechas…
E vais aos poucos soluçando mágoas,
E vais aos poucos soluçando queixas!
Augusto dos Anjos
ALFABETO
ETERNIDADE
sexta-feira, 3 de julho de 2009
O VENTO E A CANÇÃO
Só o vento é que sabe versejar:
Tem um verso a fluir que é como um rio de ar.
E onde a qualquer momento podes embarcar:
O que ele está cantando é sempre o teu cantar.
Seu grito é o grito que querias dar,
É ele a dança que ias tu dançar.
E, se acaso quisesses te matar,
Te ensinava cantigas de esquecer
Te ensinava cantigas de embalar...
E só um segredo ele vem te dizer:
- é que o voo do poema não pode parar.
Mário Quintana
AS PALAVRAS SÃO NOVAS
quinta-feira, 2 de julho de 2009
A NOSSA ÉPOCA
CANÇÃO EXCÊNTRICA
Canção Excêntrica
Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projecto-me num abraço
e gero uma despedida.
Se volto sobre o meu passo,
é já distância perdida.
Meu coração, coisa de aço
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.
Cecília Meireles
quarta-feira, 1 de julho de 2009
O VENTO
POEMAS DO VENTO
Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
- haverá quem o colha? -
um resíduo...
Memória.
Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.
Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas...
Menotti Del Picchia
terça-feira, 30 de junho de 2009
LUXÚRIA
A ARTE E O NICHO
segunda-feira, 29 de junho de 2009
CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO
Canção do amor imprevisto
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca
De madrugada, com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem
compreender nada, numa alegria atônita...
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho
inútil aonde viessem pousar os passarinhos.
¬ Mário Quintana ¬
domingo, 28 de junho de 2009
PASTOREIO
PASTOREIO
Sou a pastora de mil andorinhas,
aves perdidas em teu denso olhar;
quero poupá-las de ilusões daninhas,
mas elas voam... E te vão buscar.
Tão delicadas, frágeis, pequeninhas...
Tão fascinadas pelo teu mirar...
Sonhos que anseiam ser as entrelinhas
do amor suposto no teu versejar.
E eu pastoreio, busco-as, noite e dia...
Mas são reféns da etérea melodia,
do encantamento, vindo do teu ser.
Asas abertas, alma entregue, inteira...
Seguem viagem, que sei derradeira...
Pois em tuas mãos, irão morrer... Morrer...
- Patricia Neme-
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