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sexta-feira, 17 de julho de 2009

DEPOIMENTO


DEPOIMENTO
De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não. Nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder


Miguel Torga

A ÚLTIMA CANTIGA


A última cantiga

Num dia que não se advinha,
meus olhos assim estarão:
e há de dizer-se: "Era a expressão
que ela ultimamente tinha."

Sem que se mova a minha mão
nem se incline a minha cabeça
nem a minha boca estremeça
- toda serei recordação.

Meus pensamentos sem tristeza
de novo se debruçarão
entre o acabado coração
e o horizonte da língua presa.

Tu, que foste a minha paixão,
virás a mim, pelo meu gosto,
e de muito além do meu rosto
meus olhos te percorrerão.

Nem por distante ou distraído
escaparás à invocação
que, de amor e de mansidão,
te eleva o meu sonho perdido.

Mas não verás tua existência
nesse mundo sem sol nem chão,
por onde se derramarão
os mares da minha incoerência.

Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito "Não".

E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade.


Cecília Meireles

Amedeo Minghi - La Vita Mia - Tradução

quinta-feira, 16 de julho de 2009

EXISTEM PEDRAS...



Existem pedras nos olhos
mas não as tragas
contigo

meu amor
e meu amigo

Existem pedras nas mãos
mas não as uses
comigo

meu amor
e meu amigo

Existem pedras sedentas
de amor e muito perigo

Não queiras que elas inventem
motivos de meu castigo


Maria Teresa Horta

VOZES


Grita o vento nos muros da noite
como reflexos de espelhos partidos.

Há um ruído de coisas magoadas
lembrando madrugadas enfermas.

O vento e o ruído acelerando cadencias
são como garças
em tardes eróticas.

Só as luzes se repetem.
Só os sons se beijam
em baladas insanas.

Há pegadas escondidas
entre alamedas tranqüilas
enquanto
o tédio, a busca e a lassidão
ainda se aninham.


Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

AS CHAVES


As Chaves
Felizes os homens que tem as chaves
porque só encontram portas abertas...


Como podem tantos homens dormir sossegados e felizes
de portas fechadas,
quando essas portas se fecham para tantos homens
que ficam sempre ao relento
e nunca podem entrar?

Neste mundo de tantas portas,
quando teremos cada um, a sua chave,
e a sua hora de voltar?...


J. G. de Araujo Jorge

terça-feira, 14 de julho de 2009

...SE NÃO LEMBRARES...


E se não lembrares
Da palavra amor,
Que dediquei a ti.
Lembre-se da palavra
Saudade!
Que deixaste aqui.


- Catarino Salvador -

CONVITE


Convite

Não sou a areia
onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola
nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha
da vida, sou construção e desmoronamento,
servo e senhor, e sou
mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:
o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos
a sério.


Lya Luft

segunda-feira, 13 de julho de 2009

INVERNO

QUANDO A PRIMAVERA VOLTAR


Quando a Primavera Voltar

Em algum lugar
a primavera acontece
e vem tecendo
risos
orquídeas
e margaridas
rosas e begônias,
um jardim encantado
desses que a gente sonha...
Prepare sua alma,
ilumine sua face...
O Inverno renova a terra
para que a Primavera renasça.


Sirlei L. Passolongo

ESPETÁCULO DE CORES E SOMBRAS

domingo, 12 de julho de 2009


Foi o próprio asco que me deu asas e forças capazes de pressentir as fontes?

De verdade, eu tive que voar ao lugar mais alto para poder

reencontrar a nascente do prazer!


NIETZSCHE

CONFISSÕES DA ALMA



É no silêncio que minh'alma canta
Toda alegria incontida em mim.
Se vem tristeza, ela mesma espanta,
Eu sou feliz tendo essa alma assim.

Do meu passado só boas lembranças,
No meu presente sonho e fantasia.
Hoje, maduro, faço-me criança
A cavalgar em busca de alegria.

É nesse tempo que a vida se solta,
Sem ter mais tempo pra curtir revolta,
E vai seguindo sempre mais adiante...

Vamos lançar sementes no caminho,
Não reclamar das pedras e espinhos,
E colher flores quando for a volta.


Antonio Manoel Abreu Sardenberg