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sábado, 6 de março de 2010

PENSAR EM TI


by JPereira
Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluír de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.
Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir,

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas como o pensar te pudesses partir.


António gedeão

EDWARD MAYA - This Is My Life -

FAUNA MECÂNICA





VÉSPERA


Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda é bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirão em teu bruxedo.

Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquiteto.

Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flúor,
se não a roça enfim tua sandália?

Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarão aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.

Então, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no círculo de luz que desenrolas!

Contempla este jardim, os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio
e perseguem o sol no dia findo.

E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos, que se expande,
corpóreo, são mais leves do que brisa.

E na montanha-russa o grito unânime
é medo e gozo ingênuo, repartido
em casais que se fundem, mas sem flama,
que só mais tarde o peito é consumido.

Olha, amor, o que fazes deses jovens
(ou velhos) debruçados na água mansa,
relendo a sem-palavra das estórias
que nosso entendimento não alcança.

Na pressa dos comboios, entre silvos,
carregadores e campainhas, rouca
explosão de viagem, como é lírico
o batom a fugir de uma a outra boca.

Assim teus namorados se prospectam:
um é mina do outro; e não se esgota
esse ouro surpreendido nas cavernas
de que o instinto possui a esquiva rota.

Serão cegos, autômatos, escravos
de um deus sem caridade e sem presença?
Mas sorriem os olhos, e que claros
gestos de integração, na noite densa!

Não ensaies demais as tuas vítimas
ó amor, deixa em paz os namorados.
Eles guardam em si, coral sem ritmo,
os infernos futuros e passados.


Carlos Drummond de Andrade

TUDO QUANTO SONHEI SE FOI PERDIDO


O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.

Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.

Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,

Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.

GABRIELLA CILMI - Sweet About Me -

THE CHARLATANS - Chewing Gum Weekend -

THE CHARLATANS - Tremolo Song -

sexta-feira, 5 de março de 2010

CAT STEVENS - Heaven -


Céu-Onde está o verdadeiro amor

No momento em que você entrou pela minha porta
Eu soube que eu não precisaria mais procurar
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
O céu deve ter programado você

No momento em que você entrou nos meus sonhos
Eu percebi tudo aquilo que ainda não tinha visto
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
O céu deve ter programado você

Você iria? Você iria? Você iria?
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro

E se você estiver sozinha e perder seu caminho
Não se esqueça daquele que te deu isso(o amor
verdadeiro) hoje

Siga o amor verdadeiro, siga o amor verdadeiro!
Siga o amor verdadeiro, siga o amor verdadeiro!

Você iria? Você iria? Você iria?
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro

acho que é isso: " E se vier uma tempestade e se você
enfrentá-la,
Essa pode ser, talvez, sua chance de estar salva,
E se você conseguir superar o problema e a dor
Aquele pode ser o momento de você saber seu nome

No momento em que você entrou pela minha porta
Eu soube que eu não precisaria mais procurar
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
O céu deve ter programado você

No momento em que você entrou nos meus sonhos
Eu percebi tudo aquilo que ainda não tinha visto
Eu já vi muitas outras almas antes, mas
O céu deve ter programado você

É o momento que você disse que eu
Eu soube que este amor era real
E que minha fé esteve vista - oh
A obrigação do céu programou-o

O momento que eu olhei seus olhos
Eu soube que não disse nenhuma mentira
Não haveria nenhum adeus
A obrigação do céu programou-o

Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro
Eu vou onde está o amor verdadeiro

CAT STEVENS - Wild Word -



Mundo Selvagem

Agora que perdi tudo para você,
Você diz que quer começar algo novo,
E isso está partindo meu coração, você está indo embora.
Baby, estou lamentando.

Mas se você quer partir, tome muito cuidado,
Espero que tenha muitas coisas bonitas para vestir,
Mas então muitas coisas bonitas tornam-se ruins lá fora.

Oh baby, baby, é um mundo selvagem,
É difícil atravessar apenas com um sorriso.
Oh baby, baby, é um mundo selvagem,
Sempre me lembrarei de você como uma criança, garota.

Você sabe, eu tenho visto muito do que o mundo pode fazer,
E está partindo meu coração em dois
Pois eu nunca quero te ver triste, garota.
Não seja uma garota má.
Mas se você quiser partir, tome muito cuidado,
Espero que faça muitos bons amigos lá fora,
Mas apenas lembre-se, existem muitos ruins e tenha cuidado,
Tenha cuidado.

Oh baby, baby, é um mundo selvagem,
É difícil passar apenas com um sorriso.
Oh baby, baby, é um mundo selvagem
E sempre me lembrarei de você como uma criança, garota.

Baby, eu te amo,
Mas se você quiser partir, tome muito cuidado.
Espero que você faça muitos bons amigos lá fora,
Mas apenas lembre-se, existem muitos ruins
E tenha cuidado, tenha cuidado.

Oh baby, baby, é um mundo selvagem,
É difícil passar apenas com um sorriso.
Oh baby, baby, é um mundo selvagem,
E sempre me lembrarei de você como uma criança, garota.

OCULTA DE MIM



Ausente de ti,
Não sei mais do amor,
Da saudade, da tristeza,
Da dor, da alegria,
Muito menos da euforia...

Oculta de mim,
Nada sei da paz,
Da felicidade, da bondade,
Do afeto, da doçura,
Muito menos da candura...

Ausente de ti,
Oculta de mim,
Sem protesto,
Afogada no mar do vir-a-ser,
Com as emoções queimadas,
Por descuido que pousaram,
Nos sonhos do amor imaginário,
Sou a serenidade nua, dourada,
De quem nada mais espera...

Nós, ausentes e ocultos de nós,
Mortalmente feridos,
Pelos golpes dos remorsos,
Sem invocar as sagas do que fomos,
Despidos das fantasias,
Não somos mais nada...


Sperazzo

CANTO GRANDE



Não tenho mais canções de amor.
Joguei tudo pela janela.
Em companhia da linguagem
fiquei, e o mundo se elucida.

Do mar guardei a melhor onda
que é menos móvel que o amor.
E da vida, guardei a dor
de todos os que estão sofrendo.

Sou um homem que perdeu tudo
mas criou a realidade,
fogueira de imagens, depósito
de coisas que jamais explodem.

De tudo quero o essencial:
o aqueduto de uma cidade,
rodovia do litoral,
o refluxo de uma palavra.

Longe dos céus, mesmo dos próximos,
e perto dos confins da terra,
aqui estou. Minha canção
enfrenta o inverno, é de concreto.

Meu coração está batendo
sua canção de amor maior.
Bate por toda a humanidade,
em verdade não estou só.

Posso agora comunicar-me
e sei que o mundo é muito grande.
Pela mão, levam-me as palavras
a geografias absolutas.


Lêdo Ivo

RECORDAÇÃO


E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.

Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.

E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.


Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

JOHN MAYER - Gravity -

NEIL YOUNG - A Day In The Life -

NEIL YOUNG - Such a Woman -

quinta-feira, 4 de março de 2010

REENCONTRO



Não deixem eu calar minha saudade agora;
busquei o mundo, passei muito tempo fora.
Ponham copos nesta mesa abandonada,
onde jogamos cartas e destinos.

Não abram as janelas já tão carcomidas
pelo tempo passado, pó da vida,
nesta casa que gentil nos abrigou
em algazarras e momentos distraídos.

As gavetas devem estar abarrotadas
de tanta coisa inútil e empoeirada:
poemas murchos, flores ressecadas,
entristecidos à espera de algum gesto.

Não acendam a luz, meus pés conhecem,
os vícios dos degraus, os corredores,
as portas que abrem sempre suas asas
aos quartos amplos e acolhedores.

Ouço risos de crianças pela sala
a deslizar no já gasto corrimão
sobre colchões das camas retirados,
sempre correndo em busca de emoção.

Nas paredes há sombras que estremecem
com o bater dos corações, velhos rumores,
que preencheram um dia minha infância
e me mostraram um mundo de bonança.

Quero sentar-me no colo da mamãe,
adormecer com histórias do papai,
e despertar ao som dos passarinhos
que trinavam saltitantes nos beirais.

Agora parto, saciada de fantasmas:
são eles que abrem a porta do jardim
e ternamente beijam minhas faces.
Já vou, já vou! Só vim saber de mim.


Ceres Marylise

RUI VELOSO - Anel de Rubi -

DAVID FERREIRA e JOANA RIOS - Bonita -

CARLOS SANTANA - Bella -

DANÇA, BAILARINA, DANÇA...


Dança,bailarina,dança...
Põe nos teus passos toda a harmonia
E toda a poesia nas pontas de teus pés
Em gestos nobres,faze surgir a fé!!!
Gira,bailarina,gira...
Vai girando e semeando amor,
Mais depressa que as voltas do mundo,
Pra que haja tempo de matar a dor!
Baila,bailarina,baila...
Traze contigo a primavera
Pra florir os campos,florescendo a Terra,
Numa explosão de cores que tua dança encerra.
Faze de tua arte uma suave prece
Capaz de enternecer os corações de pedra
Faze tua música soar tão alto
Calando assim os estopins da guerra!!!
Mostra ao Homem que o teu bailado
Expressa a vida nesse simples ato...
Onde o amor é tudo,onde o amor é nato.
Que em teus saltos ponhas tua garra
Seguindo sempre a luz de teu clarão,
Quebrando muros para unir os povos
Num universo único,onde se dêem as mãos.
Abre tua alma,no esplendor da dança...
Não desistas nunca e verás,enfim,
Bailar no campo,doce e cálida esperança,
Em meio às flores de um lindo jardim...

JOHN MAYER - Comfortable -

JOHN MAEYR - Victoria -

EU AQUI PENSO




Ai! quem me dera ser poeta
E liricamente cantar com ardor
E numa cabana já provecta
Ser abençoado pelo teu amor

Há maravilhas por esse mundo
Bem o sabemos não o ignoramos
Mas o sentir é profundo
Pois é ali que nos amamos

O mar está um lençol de prata
Nunca até hoje igualado
Vamos ali para o pé da mata
Porque é mais do nosso lado

É sol nascente
De poetas pescadores e amantes
E com este ardor incandescente
Cantamos a Serra e o Mar como dantes

Fazes-nos sinais com um lenço
Qual gaivota voando no verão


JP

ALICIA KEYS

JOHN MAYER - Johnifer Maniston -

JOHN MAYER - Everything Is Not Broken -

quarta-feira, 3 de março de 2010

O SEMEADOR DE ESTRELAS


A estátua desta imagem encontra-se em Kaunas, na Lituânia e retrata um camponês. Recebeu o nome de Seeder (O Semeador) e seria mais uma simples estátua se um artista não tivesse usado sua sensibilidade e a transformado numa linda poesia visual.
Apreciem a imagem seguinte, quando anoitece.

Na verdade, as estrelas são um grafite (forma de expressão da arte urbana) criadas pelo artista Morfai. Ele estudou o que iria desenhar e gravou tudo em um vídeo que você pode ver aqui. O vídeo e todas as diversas obras de Morfai estão disponíveis em seu blog.

EU E TU



Dois! Eu e Tu, num ser indispensável! Como
Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,
Aspiram a formar um todo, — em cada assomo
A nossa aspiração mais violenta se ateia...

Cheio de ti, meu ser de eflúvios impregnou-te!

Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,
O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,
O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,
— Nós dois, de amor enchendo a noite do degredo,

Como partes dum todo, em amplexos supremos
Fundindo os corações no ardor que nos inflama,
Para sempre um ao outro, Eu e Tu, pertencemos,
Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama...

NÃO MEU, NÃO MEU É QUANTO ESCREVO



Não meu, não meu é quanto escrevo.
A quem o devo?
e quem sou o arauto nado?
Por que, enganado,
Julguei ser meu o que era meu?
Que outro mo deu?
Mas, seja como for, se a sorte
For eu ser morte
De uma outra vida que em mim vive,
Eu, o que estive
Em ilusão toda esta vida
Aparecida,
Sou grato Ao que do pó que sou
Me levantou.
(E me fez nuvem um momento
pensamento.)
(Ao que de quem sou, erguido pó,
Símbolo só.)`


Fernando Pessoa

THE CRANBERRIES - Stars -

SONETO IX - Não Me Conheces -



Eu traço diagonais entre os humanos,
Causando tropeções em suas vidas.
No anfiteatro, há cem milhões de anos,
Vê-se a reprise em cenas repetidas.

Tenho uma alcova em peito de tiranos,
Que tornam esperanças combalidas,
E mesmo quando fecham-se os panos,
A minha casta é toda de atrevidas.

Eu bruxuleio à luz do candelabro,
Enfeito as ceias que servem aos vermes,
Supostos homens, meros paquidermes...

Onde a vaidade faz o descalabro!
Eu não mereço mais que a tua ira...
Não me conheces? Sou a vil mentira!

Tere Penhabe

John Mayer - Who Knows -

A DAMA DO LAGO




Certa vez, formosa dama,
desalentada da vida,
em um dia da semana,
foi-se ao lago, entristecida.

Levava, nas mãos, um buquê,
lembrança do seu amado,
que acabara de perder,
acusado de pecados.

A dama, naquela sanga,
entrou e não mais voltou,
virou lenda tropicana,
para os que sofrem d'amor.

Nas noites de lua nova,
quando o lago é só silêncio,
dizem que ela retorna,
para entoar seu lamento.

Amantes apaixonados,
no lago fazem vigília,
esperando que seu fado
escape dessa armadilha.

Atiram flores na água,
para a dama do lago,
para afastar-lhes as mágoas
do coração machucado.


Jorge Linhaça

Josh Rouse - 'London Bridges' -

ALMAS GEMELAS

terça-feira, 2 de março de 2010

SILÊNCIO E TANTA GENTE


Silêncio e tanta gente

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
Ou um grito
Que nasce em qualquer lugar

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou

Às vezes sou também
O tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar

Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou um grito
De um amor por acontecer

Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que sou

Maria Ginot

TAJ MAHAL – UMA HISTÓRIA DE AMOR





Umas das 7 maravilhas do mundo, praticamente todos já o viram em inúmeras fotografias, mas o que poucos sabem, é a história que está por detraz deste inigualável monumento. O Taj Mahal, é não mais do que uma ode ao amor e representa toda a eloquência que este sentimento pode ser. Durante séculos, o Taj Mahal inspirou poetas, pintores e músicos que tentaram capturar a sua magia em palavras, cores e música. Viajantes cruzaram continentes inteiros para ver esta esplendorosa beleza, sendo poucos os que lhe ficaram indiferentes.

Como todas as histórias, esta também começa da mesma maneira... Era uma vez um príncipe chamado Kurram que se enamorou por uma princesa aos 15 anos de idade. Reza a história que se cruzaram acidentalmente mas seus destinos ficaram unidos para todo o sempre. Após uma espera de 5 anos, durante os quais não se puderam ver uma única vez, a cerimónia do casamento teve lugar do ano de 1612, na qual o imperador a rebaptizou de Mumtaz Mahal ou "A eleita do palácio". O Príncipe, foi coroado em 1628 com o nome Shah Jahan, "O Rei do mundo" e governou em paz.

Quis o destino que Mumtaz não fosse rainha por muito tempo. Ao dar à luz o 14º filho de Shah Jahan, morreu aos aos 39 anos em 1631. O Imperador ficou tremendamente desgostoso e inconsolável e, segundo crónicas posteriores, toda a corte chorou a morte da rainha durante 2 anos. Durante esse período, não houve musica, festas ou celebrações de espécie alguma em todo o reino.

Shah Jahan ordenou então que fosse construído um monumento sem igual, para que o mundo jamais pudesse esquecer. Não se sabe ao certo quem foi o arquitecto, mas reuniram-se em Agra as maiores riquezas do mundo. O mármore fino e branco das pedreiras locais, Jade e cristal da China, Turquesa do Tibet, Lapis Lazulis do Afeganistão, Ágatas do Yemen, Safiras do Ceilão, Ametistas da Pérsia, Corais da Arábia Saudita, Quartzo dos Himalaias, Ambar do Oceano Índico.

Surge assim o Taj Mahal. O seu nome é uma variação curta de Mumtaz Mahal.. o nome da mulher cuja a memória preserva. O nome "Taj", é de origem Persa, que significa Coroa. "Mahal" é arábico e significa lugar. Devidamente enquadrado num jardim simétrico, tipicamente muçulmano, dividido em quadrados iguais cruzado por um canal ladeado de ciprestes onde se reflecte a sua imagem mais imponente. Por dentro, o mausoléu é também impressionante e deslumbrante. Na penumbra, a câmara mortuária está rodeada por finas paredes de mármore incrustado com pedras preciosas que forma uma cortina de milhares de cores. A sonoridade do interior, amplo e elevado é triste e misterioso, como um eco que soa e ressoa sem nunca se deter.

Sobre o edifício surge uma cúpula esplendorosa, que é a coroa do Taj Mahal. Esta é rodeada por quatro cúpulas mais pequenas, e nos extremos da plataforma sobressaem quatro torres que foram construídas com uma pequena inclinação, para que em caso de desabamento, nunca caiam sobre o edifício principal.

Os arabescos exteriores são desenhos muçulmanos de pedras semi preciosas incrustadas no mármore branco, segundo uma técnica Italiana utilizada pelos artesãos hindus. Estas incrustações eram feitas com tamanha precisão que as juntas somente se distinguem à lupa. Uma flor de apenas sete centímetros quadrados, pode ter até 60incrustações distintas. O rendilhado das janelas foi trabalhado a partir de blocos de mármore maciço.

Diz-se que o imperador Shah Jahan queria construir também o seu próprio mausoléu. Este seria do outro lado do rio. Muito mais deslumbrante, muito mais caro, todo em mármore preto, que seria posteriormente unido com o Taj Mahal através de uma ponte de ouro. Tal empreendimento nunca chegou a ser levado a cabo. Após perder o poder, o imperador foi encarcerado no seu palácio e, a partir dos seus alojamentos, contemplou a sua grande obra até à morte. O Taj Mahal foi, por fim, o refúgio eterno de Shah Jahan e Mumtaz Mahal. Posteriormente, o imperador foi sepultado ao lado da sua esposa, sendo esta a única quebra na perfeita simetria de todo o complexo do Taj Mahal.

Após quase quatro séculos, milhões de visitantes continuam a reter a sua aura romântica... o Taj Mahal, será para todo o sempre um lágrima solitária no tempo.

TERCETOS DE AMOR



§ Só agora aprendi
que amar é ter e reter.
Foi quando te vi.

§ Vi quando a rosa se abriu.
Como a eternidade
pode ser tão fugaz?

§ Não sei quando é o mar,
ou se é o sol dos teus cabelos.
Tudo são funduras.

§ Na entressombra, o sabre
se estira na relva morna.
O nenúfar se abre.

§ Brilha um dorso: és tu.
Encontro no teu ventre
a explicação da luz.


Thiago de Mello

FINGIMENTO



Nunca fui poeta,
fingi que era para sobreviver.
Existe alguma forma mais bonita
de enganar a si mesmo,
brincar de ser profeta,
ser feliz, viver?
Errei?
Sem a menor falsidade,
tenho certeza de que nunca os enganei,
os amigos
fingiram gostar dos meus versos
por solidariedade.


(Ivone Boechat)

Broken Bells - The High Road -

MARINA AND THE DIAMONDS MOWGLI'S ROAD

ATITUDE



Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

Yeasayer - Sunrise -

Spandau Ballet perform Once More live!

I Blame Coco - Silencio -

segunda-feira, 1 de março de 2010

ACASO




No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.


Alvaro de Campos

EU NÃO ESPERO O BEM QUE DESEJO


Eu não espero o bem que mais desejo:
sou condenado, e disso convencido;
vossas palavras, com que sou punido,
são penas e verdades de sobejo.

O que dizeis é mal muito sabido,
pois nem se esconde nem procura ensejo
e anda à vista naquilo que mais vejo:
em vosso olhar, severo ou distraído.

Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
ao meu amor desamparado e triste
toda a esperança de alcançar-vos nego.

Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,
pôs-se a sonhar o bem que não existe.

Vicente de Carvalho
(1866-1924)

Bloc Party - So Here We are -

Lucinda Williams - World Without Tears -

NOCTURNO


Devagar, devagar... A noite dorme
e é preciso acordar sem sobressalto.
Sob um manto de sombra, denso, informe,
o mar adormeceu a sonhar alto.

Devagar, devagar... O rio dorme
sobre um leito de areias e basalto...
Malhada pela neve a serra enorme
parece um tigre a preparar o salto.

E dorme o vale em flor. Dormem as casas.
Nenhum rumor. Nenhum frémito de asas.
Nada perturba a noite bela e calma.

E dormem os rosais, dormem os cravos...
Dormem abelhas sobre o mel dos favos
e dorme, na minha alma, a tua alma.


Fernanda de Castro

JANELA ABERTA...



Subiam do silêncio do jardim,
para a janela aberta do aposento,
perfumes brancos, de jasmim...
Dentro, num ritmo sonolento,
alguém abria o luar de um noturno nevoento
sobre o teclado de marfim.

Depois, um beijo alto e violento...
E houve por tudo um estremecimento,
uma angústia de fim...
E o beijo, num momento,
misturou-se ao perfume do jasmim
e ao noturno nevoento
que ressoava no aposento...

Hoje, para evocar o que passou, assim
como tudo que passa ao vento,
alguém acorda no teclado de marfim
um noturno nevoento...
E, da janela do aposento
sobre o siêncio do aposento
sobre o silêncio do jardim,
procura aquele beijo violento
num perfume de jasmim...


Onestaldo de Pennafort

A PRIMAVERA

Adriana Mezzadri - Do Amor e da Guerra -

LIBERDADE




Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer !
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.(..)
(..)
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


Fernando Pessoa

Original composition - Eleanor Jackson

Jose Feliciano Gipsy

domingo, 28 de fevereiro de 2010

GOSTO QUANDO FALAS DE TI...



Gosto quando falas de ti...e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos tranqüilos.

Gosto quando me falas de ti... e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão como o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs...

Gosto quando me falas de ti... quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só, te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti... e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido,
e descortino teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti ... porque percebo que te desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrolava inútil como um novêlo
que nos cai da mão...

J.G.de Araújo Jorge
In Quatro Damas

AMY MILLAN - Baby I -

JOSH ROUSE - Sweetie -

A VIAGEM



Não vamos fazer planos, vamos apenas viajar
neste barco que nos recolheu
e cujo rumo não sabemos...

Não vamos fazer planos, vamos olhar as gaivotas,
os crepúsculos sobre o mar,
as ondas, as nuvens, os portos que amanhecerão,
agradecer ao destino que nos fez passageiros
do mesmo sonho.

Não vamos fazer planos, não vamos matar as nossas alegrias
modificando roteiros, se não sou o camandante do navio,
se ninguém é,
não vamos matar as nossas alegrias
com intinerários antecipados
como se fossemos turistas ricos
apenas gastando o seu tédio...

Não vamos fazer planos, vamos nos deixar levar
ao sabor das correntes,
vamos agradecer essa viagem como se fosse a primeira
como se fosse a última viagem,
como se fosse aquela viagem há tanto tempo esperada,
que inacreditavelmente se tornasse
realidade...

E o porto onde chegamos, - qualquer que seja o porto -
ou o horizonte de mar que sempre se afastará,
serão o porto e o horizonte
da felicidade...


J.G.de Araújo Jorge
In Quatro Damas

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BLOC PARTY - One Month Off -

NÃO TE GOSTO EM SILÊNCIO



Não te gosto em silêncio porque te sinto distante...
entre tua boca e a palavra mora talvez minha angústia
como entre o dia e a noite
vacila a longa dúvida do crepúsculo.
Não te gosto em silêncio, quando há em teus olhos, pousados,
dois estranhos pássaros noturnos,
e teus lábios emudecem como a fonte nos ásperos
e intermináveis invernos.
Não te gosto em silêncio quando te envolves com as coisas
que te cercam, como se fosses uma delas,
quando estás como as águas paradas, cuja beleza
é apenas o reflexo das estrelas.
Por isto te provoco e te atiro perguntas
como pedras quebrando a impassibilidade do lago,
como pancadas no gongo que estremece e vibra
e te traz à tona para mim.
Não te gosto em silêncio, porque parece que atrás de sua voz
ainda se esconde alguém tu próprio não conheces,
há alguém embuçado a ameaçar nosso sonho
e que só tuas palavras poderão expulsar.
Não te gosto em silêncio,
porque preciso ainda de tua palavra para te descobrir,
lanterna adiante de meu passo, alvorada desenterrando
na noite emaranhada meu indeciso caminho.
Porque preciso ainda que tua palavra chegue como vento forte
arrastando nuvens, limpando céus e horizontes,
levando folhas doentes, te descobrindo ao sol....
Um dia te gostarei em silêncio.
E então me recolherei em teu silêncio,
e procurarei a sombra, como o pássaro na hora da tarde,
e porque o sol estará em nós e nada turvará meu pensamento,
entre tua boca e a palavra haverá apenas um beijo.


J.G.de Araújo Jorge

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