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sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Céu Em Movimento

O Brasil É Negro


... Nas sombras obscuras da escravidão, no suor
do trabalho forçado, escravo... nas senzalas amontoadas,
nos troncos ensaguentados, nos corpos marcados pelas chibatas...

Nos seus filhos mestiços, onde o branco usava suas escravas e o fazia
escravo também... na voz calada da África sofrida, na servidão ao senhor da Casa Grande
onde exercia seus poderes, vendia e comprava seres humanos como se fossem
animais, separando as crias de suas mães, usando sua tirania, um senhor das trevas
e das terras, nas quais indígenas viviam seu paraíso...

O Brasil é negro até hoje, onde a discriminação permanece!
O Brasil é negro, numa mistura de branco e índios, ambos povos
sofridos, tolhidos de sua liberdade!

O Brasil é negro em sua História, um bom pedaço de quinhão,
onde todos queriam ( e ainda querem) colocar as mãos, não importanto se às custas
de sofrimentos e mortes.

Mas a essência é livre e voa além das algemas,
suporta os açoites, sonha e luta pelo direito
de ir e vir, como qualquer ser humano, independente de cor, raça e credo!
O BRASIL É NEGRO!

Mas a alma não tem cor!
SOMOS IGUAIS,
NÃO IMPORTANDO A PELE QUE A REVESTE!


Anna Peralva

As Velhas Negras...

As velhas negras, poema de Gonçalves Crespo, no dia 13 de maio, comemoração da Lei Áurea


-As velhas negras, coitadas,
Ao longe tão assentadas
Do batuque folgazão.
Pulam crioulas faceiras
Em derredor das fogueiras
E das pipas de alcatrão.
-
Na floresta rumorosa
Esparge a lua formosa
A clara luz tropical.
Tremeluzem pirilampos
No verde-escuro dos campos
E nos côncavos do val.
-
Que noite de paz! que noite!
Não se ouve o estalar do açoite,
Nem as pragas do feitor!
E as pobres negras, coitadas,
Pendem as frontes cansadas
Num letárgico torpor!
-
E cismam: outrora, e dantes
Havia também descantes,
E o tempo era tão feliz!
Ai! que profunda suaddade
Da vida, da mocidade
Nas matas do seu país!
-
E ante o seu olhar vazio
De esperanças, frio, frio
Como um véu de viuvez,
Ressurge e chora o passado
– Pobre ninho abandonado
Que a neve alagou, desfez…
-
E pensam nos seus amores
Efêmeros como as flores
Que o sol queima no sertão…
Os filhos quando crescidos,
Foram levados, vendidos,
E ninguém sabe onde estão.
-
Conheceram muito dono:
Embalaram tanto sono
De tanta sinhá gentil!
Foram mucambas amadas,
E agora inúteis, curvadas,
Numa velhice imbecil!
-
No entanto o luar de prata
Envolve a colina e a mata
E os cafezais ao redor!
E os negros mostrando os dentes,
Saltam lépidos, contentes,
No batuque estrugidor.
-
No espaço e amplo terreiro
A filha do Fazendeiro,
A sinhá sentimental,
Ouve um primo-recém-vindo,
Que lhe narra o poema infindo
Das noites de Portugal.
-
E ela avista entre sorrisos,
De uns longínquos paraísos
A tentadora visão…
No entanto as velhas, coitadas,
Em
Cismam ao longe assentadas
Do batuque folgazão…


Gonçalves Crespo

quarta-feira, 11 de maio de 2011

No Alto Mar


No alto mar
A luz escorre
Lisa sobre a água.
Planície infinita
Que ninguém habita.

O Sol brilha enorme
Sem que ninguém forme
Gestos na sua luz.

Livre e verde a água ondula
Graça que não modula
O sonho de ninguém.

São claros e vastos os espaços
Onde baloiça o vento
E ninguém nunca de delícia ou de tormento
Abriu neles os seus braços.


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 10 de maio de 2011

Humilde...


Humilde bato uma vez mais ao teu portão
e vou entrando pelo jardim muito amado:
a predileta flor da minha juventude
aspiro então com sentido mais apurado.

Da minha idade juvenil me vem o aroma
das longas horas em que eu enlevado lia;
jamais, porém, como nesta hora de tristeza,
senti o profundo valor de tanta poesia.

De frias grutas vêm cantar-me ao coração
uma paixão dulcíssima e flores se abrindo:
vai-se tornando sagrado o que antes doía,
e, ao sinal da poesia, aprendo a dor sorrindo.

Hermann Hesse

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Toma o Amor Guardado...


Toma o amor guardado
entre as conchas da minha mão.
Dentro delas ouvi as ondas quebrando-se em pedras
e o espetáculo de um pequeno musgo nascido à beira de um raio de sol.
Dentro delas,
ouvi a terra aninhando sementes e plantas entrelaçando a ponta de suas raízes.
Finas raízes tentando sustentar o mundo
sob as placas de cimento.
As placas de cimento,
de onde germinam as casas
e crescem as pessoas,
entrelaçando a ponta de seus braços
e o mais fundo de seus corpos pela noite escura.
Dentro delas,
ouvi o mundo inteiro tentando ser par...
e ouvi a ponta de tuas asas tocando minhas costas nuas, teu instrumento de cordas e suspiros profundos.


Rita Apoena