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sábado, 24 de julho de 2010
COMPREENDI
Compreendi, então,
que a vida não é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem de ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de mini-sonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,
é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a vida inteira.
Rubem Alves
MÃOS DA NOITE
Ausentes caricias
No sangue em lágrimas´
Nem sequer trago teu rosto
Nada me pertence
Nada contemplo como esperança
Pão que o alento desconhece
Envolvendo desejos de criança
Que espreita na janela do vazio
Cabanas de lama
Na margem do adeus
Onde os olhos do amanhã
Percorrem o leito inatinginvel
Com lanternas de silêncio alongando a invernia
Tal o pão do desagrado´
Enquanto todo o sentido gela´preces´
E nada mais resta
As mãos do além sobre o corpo da noite
Pedindo ...consolação
.
by Jorge Pereira
sexta-feira, 23 de julho de 2010
CONFISSÃO
Feliz de mim quando tu vens
ao confessionário do meu coração
falar do amor que ainda me tens
onde perdestes tua própria alma
num labirinto de solidão...
Louvores ao amor que te absolve
e te devolve a paz e a luz e a calma
sempre que lhe dás a oportunidade
de reencontrar a tua alma...
Bem-aventuradas são as almas
que confessam seu amor perdido
do qual nunca se perderam...
É preciso viver para perder-se
o quanto é necessário perder-se
para se encontrar na solidão...
Bem-aventuradas as nossas almas
separadas... Eis porque juntas,
jamais se perderão...
Afonso Estebanez
ILUSÃO...
"Ora veja... é o que sempre acontece às pessoas românticas:
enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão,
e não querem ver, nela, senão o que é bom,
muito embora sentindo tudo ao contrário.
Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome.
Essa simples ideia lhes parece insuportável.
A verdade, repelem-na com todas as forças,
até o momento em que aquela pessoa,
engalanada por elas próprias,
lhes mete um murro na cara."
Dostoiévski
in Crime e Castigo
A POESIA
Foi a noite calma
Que avisou à alma
Que a poesia é o canto,
Música ardente
Vinda lá do fundo,
Brenhas mais ocultas
Do peito da gente.
A poesia dança
Como leves notas,
Qual doces acordes
Flutuando doces
Num leve voar.
A poesia é chama,
Sentimentos férvidos,
É o cantar macio
Dos brandos riachos...
Orquestra afinada
Dos pássaros da manhã...
A imagem da musa
À luz de penumbra,
O ballet das velas
Nas ondas do mar:
Pobre todo aquele
Cujo peito apaga,
Cuja alma cala
Na mudez do não-sentir.
Barão da Mata
VENHO DE LONGE
Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonias.
Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.
Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha
Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.
Paulo Bomfim
SENDO QUE DEUS NÃO EXISTE
Não existe´
.
Depois de todos os rios envenenados....
Do imaginário surgirão dragões
Sepultando nosso pavor
Confundindo a crença ´
E a primavera perdendo o fulgor
Sede de Outono´
E os passaros
Agora inofensivos
Serão como aviões de guerra
Devorando valores e direitos´
E os peixes
Revoltados
Perante a confusão
Impotentes
Passarão a habitar nosso desgosto
Formando filas de seres irreconheciveis
Enquanto corremos no mesmo sentido
Á loja da morte
Que vende a preço imoral
A vida /Agora fragilizada
.
by Jorge Pereira
A VIDA
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo" Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
Florbela Espanca
quarta-feira, 21 de julho de 2010
SEM MÁGOAS
Amei-te tanto amor... ame i-te tanto!
Fostes meu ar, fostes meu alimento.
Fostes meu colo, abrigo, meu alento,
Fostes meu sono ao embalo do acalanto...
Contudo amor... contudo, entretanto...
Só eu vivi total deslumbramento,
Prá ti eu fui qual uma flor ao vento
Que logo estoura e perde seu encanto.
Culpar-te amor? ...Culpar-te já não posso!
Foi o meu sonho de um mundo só nosso,
Contra teu medo de viver a dois.
Mágoas não tenho amor... Porque teria?!
Se conheci contigo a fantasia
... Mesmo eu ficando assim tão só depois...
Jenário de Fátima
SE OS RAMOS BATEM NAS VIDRAÇAS
DAS PEDRAS
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.
Cora Coralina
TAMBÉM PEQUENO
AInda pequeno
E já escrevia minha alma na saudade
Na casa de minhas mãos `
Mas nada me sabia
Nada projectava o casebre dos meus sonhos
No suor do povo
E o choro da enxada
Com janelas de criança sorrindo
Esquecida da fome
Que levava no saco da ausência-
Ò campo do instante´
De todos os momentos da miséria
Realidade substituivel
Virada do avesso
No joelho inexoravel.
by Jorge Pereira
OS LUGARES DO AMOR
HÁ UMA SOLIDÃO...
SOB O GUME DA ESPADA
O gume da espada
Meu inverno´
Pertença de rios de Lama
Grito no pranto da manhã
Em canoas engolidas na exaustão
Casebres prostrados na gola da margem
Miséria /chorando `
E as ceifeiras desarrumadas na vida
Em prateleiras de fome
Com manhãs roubando-te a descrença
No denegrir que deitas sobre o lençol de omtem
Terra sangue´
Encharcada nos teus passos/vida
Amassada de ausência.
by Jorge Pereira
segunda-feira, 19 de julho de 2010
A MULHER NUA
Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?
(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)
Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!
Juan Ramón Jiménez, in "La Mujer Desnuda"
SISSI, A IMPERATRIZ
Elisabeth Amalie Eugenie von Österreich-Ungarn (Munique, 24 de dezembro de 1837 — Genebra, 10 de setembro de 1898)
Ficou mundialmente conhecida pelo nome que recebeu nos primeiros anos de vida, Sissi. Filha do duque da Baviera, Maximiliano e de Ludovica, irmã da arquiduquesa Sofia (mãe de Francisco José), Sissi e Franz Joseph eram primos. A prometida do imperador era sua irmã mais velha, Helene. Mas, ao bater os olhos em Sissi, Franz Joseph decidiu que aquela menina de 15 anos seria a futura imperatriz da Áustria. Menos de um ano depois – em 1 de abril de 1854 -os dois estavam casados.
Sissi sentia-se profundamente angustiada com a vida na corte vienense e, principalmente, com o tumultuado convívio com a sogra, Sophie. Conforme o tempo passava, o relacionamento com o imperador tornava-se insuportável. E ela se sentia cada vez mais sozinha. "Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse", descreveu Sissi, em seu diário. Aflita, em 1860 ela deixou Viena e partiu para uma viagem de dois anos pela Europa. Mãe de quatro filhos, Sissi só teve uma relação mais estreita com a caçula, Marie Valerie. A mais velha, Sophie, lhe foi tomada pela sogra e morreu aos 2 anos de idade. O único filho, Rudolf, foi educado longe de sua influência e, aos 31 anos, cometeu suicídio.
Em 1867, juntamente com o marido, foi coroada rainha da Hungria na sequência da assinatura do compromisso austro-húngaro. A sua dificuldade de adaptação às regras da corte de Viena e a preferência da imperatriz pela Hungria afrontaram a Áustria e isolaram cada vez mais Isabel da vida familiar e dos compromissos oficiais, que procurou abandonar desde o seu casamento, por detestar o protocolo e as obrigações impostas pelo título do marido. Alguns problemas de saúde, agravados pela incapacidade de educar os filhos numa atmosfera de informalidade, que Sissi adorava, contribuíram igualmente para o afastamento em relação aos seus súditos.
Sissi, contudo, tinha outra faceta. Ela se engajou em causas humanitárias e chegou a visitar hospitais e asilos durante uma epidemia de cólera. A imperatriz da Áustria foi para a Europa do século XIX o que seria a princesa Diana 100 anos depois. As duas eram lindas, invejadas, copiadas e envoltas em uma aura de bondade. Mas foram também muito infelizes e morreram de forma trágica. Sissi foi assassinada em 1898, aos 60 anos, em Genebra, na Suíça, por um anarquista italiano, Luigi Lucheni.
Fontes: Veja – Wikipedia
Na década de 1950 os filmes de Ernst Marischka protagonizados por Romy Schneider contribuiram decisivamente para espalhar o mito de Sissi. Recomendo.
Ficou mundialmente conhecida pelo nome que recebeu nos primeiros anos de vida, Sissi. Filha do duque da Baviera, Maximiliano e de Ludovica, irmã da arquiduquesa Sofia (mãe de Francisco José), Sissi e Franz Joseph eram primos. A prometida do imperador era sua irmã mais velha, Helene. Mas, ao bater os olhos em Sissi, Franz Joseph decidiu que aquela menina de 15 anos seria a futura imperatriz da Áustria. Menos de um ano depois – em 1 de abril de 1854 -os dois estavam casados.
Sissi sentia-se profundamente angustiada com a vida na corte vienense e, principalmente, com o tumultuado convívio com a sogra, Sophie. Conforme o tempo passava, o relacionamento com o imperador tornava-se insuportável. E ela se sentia cada vez mais sozinha. "Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse", descreveu Sissi, em seu diário. Aflita, em 1860 ela deixou Viena e partiu para uma viagem de dois anos pela Europa. Mãe de quatro filhos, Sissi só teve uma relação mais estreita com a caçula, Marie Valerie. A mais velha, Sophie, lhe foi tomada pela sogra e morreu aos 2 anos de idade. O único filho, Rudolf, foi educado longe de sua influência e, aos 31 anos, cometeu suicídio.
Em 1867, juntamente com o marido, foi coroada rainha da Hungria na sequência da assinatura do compromisso austro-húngaro. A sua dificuldade de adaptação às regras da corte de Viena e a preferência da imperatriz pela Hungria afrontaram a Áustria e isolaram cada vez mais Isabel da vida familiar e dos compromissos oficiais, que procurou abandonar desde o seu casamento, por detestar o protocolo e as obrigações impostas pelo título do marido. Alguns problemas de saúde, agravados pela incapacidade de educar os filhos numa atmosfera de informalidade, que Sissi adorava, contribuíram igualmente para o afastamento em relação aos seus súditos.
Sissi, contudo, tinha outra faceta. Ela se engajou em causas humanitárias e chegou a visitar hospitais e asilos durante uma epidemia de cólera. A imperatriz da Áustria foi para a Europa do século XIX o que seria a princesa Diana 100 anos depois. As duas eram lindas, invejadas, copiadas e envoltas em uma aura de bondade. Mas foram também muito infelizes e morreram de forma trágica. Sissi foi assassinada em 1898, aos 60 anos, em Genebra, na Suíça, por um anarquista italiano, Luigi Lucheni.
Fontes: Veja – Wikipedia
Na década de 1950 os filmes de Ernst Marischka protagonizados por Romy Schneider contribuiram decisivamente para espalhar o mito de Sissi. Recomendo.
domingo, 18 de julho de 2010
IDADE
TEUS SILÊNCIOS
Teus silêncios que sutilmente subscrevo
mastigam minha eternidade quase tonica
Teu silêncio são abreviadas reticências
de sonhos paridos por luas cheias do nosso céu
São amarrotados pontos de exclamação
com cheiro e sabor de volúpias e suspiros
que repousam na nossa carne
São claras virgulas de desespero
do nosso ponto final.
Marlise
SENHORA DAS TEMPESTADES
Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terramoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas
crepúsculos carregados de presságios e o lamento
dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse
trazes a linha magnética da minha vida Senhora da minha morte
teu nome escreve-se na areia e é uma palavra que só Deus disse
quando tu chegas começa a música Senhora do vento norte.
Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe
e um anjo poisa-me nos ombros Senhora das Tempestades.
Senhora do sol do sul com que me cegas
a terra toda treme nos meus músculos
consonância dissonância Senhoras das vozes negras
coroada de todos os crepúsculos.
Senhora da vida que passa e do sentido trágico
do rio das vogais Senhora da litúrgia
sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.
Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita
alquimia de sons Senhora do vento norte
que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.
Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos
como um ritmo só ritmo como um ritmo.
Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias
batem as sílabas da noite e és tu a voz que dita.
Batem os sons os signos os sinais
trazes a festa e a despedida Senhora dos instantes
fica o sentido trágico do rio das vogais
o mágico passar das consoantes.
Senhora nua deitada sobre o branco
com tua rosa-dos-ventos e teu cruzeiro do sul
nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.
Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.
Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.
Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas.
Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso
tua ternura e teu chicote sobre a tristeza e a agonia
galopas no meu sangue com teu cateter chamado Pégaso
e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.
Tudo em ti é magia e tensão extrema
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.
Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhoras das tempestades.
Manuel Alegre
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