O escritor brasileiro Ferreira Gullar é o vencedor do Prêmio Camões 2010.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
METADE
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.
A VOZ DO POETA
Não é voz de passarinho
flauta do mato
viola
Não é voz de violão
clarinete pianola
É voz de gente
(na varanda? na janela?
na saudade? na prisão?)
é voz de gente - poema:
fogo logro solidão.
UM INSTANTE
Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente
Ferreira Gullar
VISITANTES
sábado, 18 de setembro de 2010
CIDADE DE PALITOS
Stan Munro (38 anos) demorou cerca de 6 anos para construir uma cidade de palitos. Ele usou mais de 6 milhões palitos e 170 litros de cola. Stan pode gastar até 6 meses para criar um edifício e cada uma de suas criações é construída em escala 1:164. Ele trabalha no Museu de Ciência e Tecnologia em Syracuse, Nova Iorque (E.U.A.).Veja algumas obras do artista:
CHEGASTE
Chegaste em meu destino, de repente,
com poucas palavrinhas, a sorrir.
Chegaste no meu mundo e docemente,
fizeste a minha vida refulgir.
Chegaste, completando o meu presente...
traçando com detalhes meu porvir.
fazendo renascer, efervescente,
a vida - que queria inexistir !
Chegaste, numa noite irretocável,
alimentando sonhos magistrais
de um tempo de carícia incomparável.
Chegaste... e amanheceu neste jardim...
e aquele que era triste? Não é mais...
fizeste florescer dentro de mim !
Luiz Antônio Cardoso
ESCUNA
MAIS UMA VEZ, PRIMAVERA
Primavera! Eclode a natureza
Numa profusão de ninhos e flores,
Numa pujança de gozo e de amores,
Num frêmito de júbilo e beleza!
Há em cada canto festas e risos.
Há em cada coração, esperança,
E, até onde a vista alcança,
Descortina-se o sol do paraíso.
Sinfonia de casais enamorados,
Amando-se sem pudor ou pecado,
Pelos parques e alamedas dispersos.
E o poeta só, sorrindo, indulgente,
E fingindo não sentir o que sente,
Ilude a solidão, tecendo versos...
Paulo Tótora
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
É O Amor...
ORIGAMI
A NATUREZA
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
A CANÇÃO DA SAUDADE
Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas...
Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.
Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!
Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!
Nunca mais te verei...
Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!
Olegário Mariano, 1932
HÁ ESCOLAS...
Há escolas que são gaiolas e
há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixam de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo faz parte da natureza dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixam de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo faz parte da natureza dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
ESTE INFERNO DE AMAR
Este inferno de amar – como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando, ai, quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho -
Em paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim, despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei.
Almeida Garret
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
FRANCISCO RIBEIRO - A Música Ficou Mais Pobre -
MADREDEUS - Cantador Da Noite -
CANTADOR DA NOITE
Onde vais , Ó cantador,
Cantador da Noite
Se encontrares o teu amor
É sina da sorte
Deixa lá
Ó cantador
Canta alto e forte
Afinal
O cantador
Canta até à morte
Onde vais, Ó cantador
Cantador da Noite
Se não viste o teu amor
É sina da sorte
Amar, se ama,
Cantar, se canta,
É sina do cantador...
Cantar, se ama,
Amar, se canta
Mas cantar sempre o Amor
Onde vais, ó Cantador,
Cantador da Noite
Composição: Pedro Ayres Magalhães
MADREDEUS - Andorinha da Primavera -
MADREDEUS
Os Madredeus são o grupo musical português de maior projeção mundial. A sua música combina influências da música tradicional portuguesa com a música erudita e com a música popular contemporânea, com destaque para a música popular brasileira (sobretudo a bossa nova).A musicalidade do grupo sempre foi erroneamente referida como fado, gênero musical português mais conhecido internacionalmente, sobretudo pela imprensa fora de Portugal. O grupo nunca se descreveu desta forma, ainda que declarasse existir uma aproximação ao "espírito musical" do fado.Nos seus vinte anos de carreira, os Madredeus lançaram 14 álbuns e estiveram em turnê em 41 países - incluindo a Coreia do Norte e um festival de música na Noruega, dentro do Círculo Polar Árctico.
Wikipédia
Wikipédia
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A Vida
A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura num momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida – pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!
João de Deus
As Janelas Do Meu Quarto
Tenho quarenta janelas,
nas paredes do meu quarto,
sem vidros nem bambinelas,
posso ver através delas,
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas,
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea,
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza,
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança,
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa.
E o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio,
a que se chama poesia.
E a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade.
E o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro,
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo.
Todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra,
nas minhas quatro paredes.
Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar,
com tanta janela aberta,
falta-me a luz e o ar.
António Gedeão
ADRIANA CALCANHO - Depois De Ter Você -
DEPOIS DE TER VOCÊ
Depois de ter você
Pra que querer saber
Que horas são?
Se é noite ou faz calor,
se estamos no verão,
se o sol virá ou não.
Ou pra que é que serve
uma canção como essa?
Depois de ter você
Poetas, pra quê?
Os deuses, as dúvidas
Pra que amendoeiras pelas ruas?
Pra que servem as ruas?
Depois de ter você...
Depois de ter você...
Adriana Calcanhoto
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
PASSEIO PELO JARDIM
Amor, venha conhecer meu jardim,
De beija-flores, borboletas e Manacás,
Ver minhas rosas brancas e jasmins,
Com suas fragrâncias a embriagar!
Venha sentir meu amor por você,
Enquanto essas belezas admirar,
E nessa felicidade de te ver,
Quero meu coração ofertar!
Venha conhecer meu jardim,
Nesse passeio quero declarar,
Sua importância para mim!
Dele você é a mais formosa flor,
Num eterno desabrochar,
A mais linda, meu amor!!!!!!!
Carlos Rímolo
DENTRO DE MIM
Abarco todo o horizonte
Dentro de mim há só água,
água estagnada, dos charcos
represos da minha mágoa.
Tenho tudo nos meus olhos,
as cores todas, e ponho
um leve acento de angústia
nas margens tristes do sonho.
Dentro de mim só há sombra.
O que possa acontecer
vai rasgando espaços brancos
nas fronteiras do meu ser.
Albano Martins
BEN HEINE
A Música
EL CONDOR PASSA
El cóndor de los Andes despertó
con la luz de un feliz amanecer.
Sus alas lentamente desplegó
y bajó al río azul para beber.
Tras él la Tierra se cubrió
de verdor, de amor y paz.
Tras él la rama floreció
y el sol brotó en el trigal
en el trigal.
El cóndor de los Andes descendió
al llegar un feliz amanecer.
El cielo, al ver su marcha sollozó
y volcó su llanto gris cuando se fue.
Tras él la Tierra se cubrió
de verdor, de amor y paz.
Tras él la rama floreció
y el sol brotó en el trigal
en el trigal .
Letra de: Ofarim Esther
Instrumental com belas imagens do Peru
I’d rather be a sparrow than a snail
Yes, I would
If I could
I surely would
I’d rather be a hammer than a nail
Yes, I would
If I only could
I surely would
Away, I’d rather sail away
Like a swan that’s here and gone
A man gets tied up to the crown
He gives the world
Its saddest song
I’d rather be a forest than a street
Yes, I would
If I could
I surely would
I’d rather feel the earth beneath my feet
Yes, I would
If I only could
I surely would
domingo, 12 de setembro de 2010
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