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sábado, 4 de setembro de 2010

A Papoila Partiu-se Em Quatro


A papoila partiu-se em quatro

uma para o Amar
uma para o Esquecer
uma para o Lembrar
e uma para Mim

o coração partiu-se em quatro

uma aurícula para o Amar
uma aurícula para o Esquecer
um ventrículo para o Chorar
um ventrículo para o Fim

o todo foi separado pelo horizonte

quando tudo se juntar
o meu coração põe-se a flutuar
no alto do monte.


Henrique Ruivo
.

JOAN AS POLICE WOMAN



JOSS STONE


Deita Fora...


Deita fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência.
Isso inclui idade, peso e altura.
Deixa o médico preocupar-se com eles.
É para isso que ele é pago.
Frequenta, de preferência, amigos alegres.
Os de "baixo astral" põem-te em baixo.
Continua aprendendo...
Aprende mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa.
Não deixes o teu cérebro desocupado.
Uma mente sem uso é a oficina do diabo.
E o nome do diabo é Alzheimer.

Aprecia coisas simples.
Ri sempre, muito e alto.
Ri até perder o fôlego.
Lágrimas acontecem.
Aguenta, sofre e segue em frente.
A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.
Mantém-te vivo, enquanto vives!

Rodeia-te daquilo de que gostas:
Família, animais, lembranças, músicas, plantas, um hobby, o que for.
O teu lar é o teu refúgio.
Aproveita a tua saúde;
Se for boa, preserva-a.
Se está instável, melhora-a.
Se está abaixo desse nível, pede ajuda.
Não faças viagens de remorso.
Viaja para a cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faças viagens ao passado.
Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades.

E lembra-te sempre que:
A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste, mas pelos momentos
Em que perdeste o fôlego:
De tanto rir...
De surpresa...
De êxtase...
De felicidade...


PABLO PICASSO

Folha


Era uma folha pousada
no cotovelo do vento:
e pairava, deslumbrada,
entre morte e movimento.

Era uma folha: lembrava,
de tão frágil, o momento
em que a vida me ficava
escrava do teu juramento.

Era uma folha: mais nada.
Antes fosse esquecimento!

David Mourão Ferreira

Dezembro


A esta
mesma
hora
em cada
cerro

um piano
se exalta
na agonia

Tarde
após tarde
cada vez
mais
cedo

nas suas
teclas
pretas
morre
o dia.


David Mourão Ferreira

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

THE CRANBERRIES




Ilusões


São como pombas perdidas,
as ilusões do meu peito.
Andam cegas, andam loucas...
Tenho o coração desfeito.

São perfumes que se evolam
Pelo Mundo, em liberdade.
são rosas que se desfolham,
Dando lugar à saudade.


Felícia Caldeira

SARAH MCLACHLAN



quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Soneto Oco


Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.


Carlos Pena Filho

Que Culpa Terão As Ondas?


...Que culpa terão as ondas
Dos movimentos que façam?
São os ventos que as impelem
E sulcos profundos traçam.
Aos ventos quem lhes ordena
Que rasguem rugas no mar?
São as nuvens inquietas
Que os não deixam sossegar.
E as nuvens, almas de névoa,
Porque não param, coitadas?
É que as asas das gaivotas
As trazem desafiadas.
Mas as asas das gaivotas
O cansaço há-de detê-las!
Juraram buscar descanso
Nas pupilas das estrelas.
E como as estrelas estão altas
E não tombam nem se alcançam,
As asas das pobrezinhas
Baldamente se cansam
Baldamente se cansam,
Baldamente palpitam!
As nuvens, por fatalismo,
Logo com elas se agitam;
Os impulsos que elas dão
Arrastam as ventanias;
As vagas arfam nos mares
Em macabras fantasias
Assim as almas inquietas
Prisioneiras de ansiedades,
Mal que se erguem da terra,
Naufragam nas tempestades!


Reinaldo Ferreira

Confidência


Em plena areia
o mar é confidente
...

E entre risos e lágrimas
meu coração sente
o consolo do mar
a respingar a gente...
....

Só na entrega
existe a dádiva,
o encantamento
da hora que se perde
na volúpia do tempo
que não se mede,
porque ele se esvoaça...

E assim,
perdida neste enleio
que é ternura,a solidão
é a rainha que tortura
na doce ventura!


Alvina Tzovenos

O Poema É Um Cubo De Granito


O poema é um cubo de granito,
Mal talhado, rugoso, devorante.
Roço com ele a pele e o negro da pupila,
E sei que por diante
Tenho um rasto de sangue à minha espera
No caminho dos cães
Em vez da primavera.


José Saramago

FLEETWOOD MAC





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Contando Estrelas


A gaivota que voa ligeira
Bailando por céu anil
Não sabe de minha cegueira
Nesse veneno sutil!

Amor que me encharca o peito
Rebentando feito mar
Já se tornou meu defeito
Conjugar o verbo amar!

O mar que afaga a praia
Não me escuta o coração
Me fere como arraia
O assopro de sua canção!

Não sabe o sol no poente
A saudade que me invade
Deixa a areia inda quente
E meu peito em tempestade!

A noite sim me completa
E me traz inspiração
Afinal só sou poeta
Contando estrelas no chão!


Santaroza

Jardins do Haiti


É da desgraça
que nasce a esperança
A noite escura
vela o sono
do novo amanhecer
É no desejo de tocar
onde a mão não alcança
refazendo o jardim
onde flores irão renascer


GilbertoMaha®©

CANNED HEAT



STEVE WINWOOD



terça-feira, 31 de agosto de 2010

Meias de Jornal


Pés no chão, endurecidos de tão frios.
Nus, como o verde da palmeira
que lava-enxuga, lava-enxuga.
Para a crueza da noite, meias estampadas:
são folhas do jornal de sexta-feira.
Uma luz de alumínio sobre a manchete:
A CPI DA CORRUPÇÃO NÃO DEU EM NADA.
...no corrimão da madrugada, dorme um pivete.


Flora Figueiredo
In Chão de Vento

Tristeza


O sol do outono, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espírito a sorrir...

Eis como a minha vida vai passando
Em frente ao seu Fantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me foram sepultando...

E fico mudo, extático, parado
E quase sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...

Só a longínqua estrela em mim atua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petrificada esfinge de saudade...

Teixeira de Pascoaes,

É Só Me Pedir


Eu entro nesse barco, é só me pedir.
Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou...
Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes.
Mudo o visual, deixo o cabelo crescer,
começo a comer direito, vou todo dia pra academia
Mas você tem que remar também.
Eu desisto fácil, você sabe.
E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos,
mas eu entro nesse barco, é só me pedir.
Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia.
Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo.
Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir.
Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto.
Eu te ensino a nadar, juro!
Mas você tem que me prometer que vai tentar,
que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças!
Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena.
Que por você vale a pena.
Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar..."


Caio Fernando Abreu

Bebendo À Luz Da Lua


Um jarro de vinho entre as flores,
bebo sozinho - nenhum amigo me acompanha.
Alço minha taça, convido a lua
e minha sombra - agora somos três.
A lua não bebe
e minha sombra apenas imita meus gestos.
Mesmo assim, são elas as minhas companhias.
É primavera, tempo de festa -
canto, a lua escuta e cintila;
danço, minha sombra se agita, animada.
Enquanto estou sóbrio, juntos estamos os três;
quando me embriago, cada um segue seu rumo.
Selamos uma amizade que nenhum mortal conhece.
E juramos nos encontrar no mundo além das nuvens.


Li Po

Ao Amor Antigo


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade

PAUL WELLER



NEIL YOUNG



segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DIRE STRAITS - Brothers In Arms -

Insônia


Silencio.
Madrugada.
Rua vazia.
Uma lua branca de linho
estendida no escuro,
sobre o nada.
Num momento insone,
conversam confidentes
Presente, Passado, Futuro.
Um pensamento corta o espaço,
versejando a esmo.
Escuto passo:
É meu coração abrindo a porta de mim mesmo.


Flora Figueiredo

Muito Comum


Gosto das coisas comuns!
De mar, de sol, de lua,
De andar descalça pela rua,
De jogar paciência no tapete...
De olhar a chuva que respinga na vidraça
E decifrar a figura que a gotinha traça...

De toalha branca em mesa posta,
Quem não gosta?

De música e poesia,
De ficar sozinha,
Pensar e ter saudade,
De estar com gente
Que é gente de verdade...
De remexer em aparelho enguiçado,
De resolver problema complicado...

Gosto da carta que logo tem resposta.
Quem não gosta?

Gosto das coisas comuns!
Gosto de margaridas no jardim,
Gosto de ipê florindo na janela,
De um papo gostoso à luz de vela,
De ouvir rádio, ler jornal,
De banda desfilando, carnaval...

Gosto de abraço que me enrosca,
Gosto do rosto que o meu rosto encosta.
Quem não gosta?

Gosto das coisas comuns...
De incomum, só gosto de você!

Mila Ramos

STING


O Mundo Ri

domingo, 29 de agosto de 2010

Fique...


Fique em sossego o cálice vermelho
da impetuosa flor chamada instinto.

Quero o teu coração para meu espelho,
pois no teu coração não me desminto.


David Mourão-Ferreira

EMILIANA TORRINI



Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

.
David Mourão-Ferreira,