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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

SONETO INTENCIONAL


Neste resto de praia estão as marcas
que o teu corpo deixou ficar na areia
no longo tempo em que estiveste alheia
à luz do céu e à solidão das barcas.

Tão leve estavas que nem mesmo o susto
que aos teus cabelos quis fazer o vento
notaste, e preferiste o alumbramento
de vê-los cair sobre o teu busto.

Que pode haver de mais lene e instantâneo?
Que mais pode existir de encanto leve
neste nítido espaço litorâneo?

Se alguém deixou neste recanto as marcas
do corpo que ficou, sereno e breve,
alheio ao sol e à solidão das barcas.


Carlos Souto Pena Filho
in ‘Os Melhores Poemas’

DOCE PERFUME


Lembranças
povoam meus pensamentos
envolvem minh'alma
afagam meu coração...

Nesses momentos,
mesmo que estejas distante
um doce perfume me inebria
e qual um encanto...
magia
te traz pra perto de mim...

...

Esse perfume
vem das flores
que cultivo no jardim
das recordações
e que mitigam a saudade
que sinto de ti...


Regina Azenha

AS CARÍCIAS DO OLHAR


As carícias do olhar são as mais adoráveis,
chegam ao fundo da alma, aos limites do Ser,
e libertam assim segredos inefáveis
de outro modo em silêncio, e sem ninguém saber.

Os beijos puros são grosseiros junto a elas,
mais que qualquer palavra o seu falar é forte,
nada exprime melhor, no mundo, as coisas belas
que passam num momento, em efêmera sorte.

Quando a idade envelhece a boca em seu sorrir
que as rugas vão marcando aos poucos de amargura,
intacta ainda mantêm sua límpida ternura.

Feitas para inebriar, consolar,seduzir,
guardam toda a doçura, e os ardores e o encanto!
Que outra carícia em luz trespassa o nosso pranto?


Auguste Angellier

A CERCA


Pobre cerca de tábuas despencadas,
Eu sei por que tu choras, companheira...
Os anos pesam mais do que as ramadas
Ou galhos da rosada trepadeira!

E sempre que chegavam as floradas,
Teu corpo era engolido e, altaneira,
Tão repleta de flores tu ficavas,
Beijando a rama terna e tão faceira!

Tens hoje a alma triste e já sem sonho.
Dor de saudade é ramo assaz medonho
Que agora se debruça sobre ti!

Não te sintas assim injustiçada,
Nem me ralhes, pois eu não sou culpada;
Repare! - Eu também envelheci!


Irani Genaro

VIRGEM SUTA


TIAGO IORC


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Desculpem-me Os Infelizes...


Desculpem-me os infelizes,
mas estou explodindo de felicidade
Desculpem-me os insensíveis,
mas quero morrer nesse sentir
Desculpem-me os surdos,
pelo deleite que essa música me traz
E os mal-amados, porque morro de amor...
Os abstêmios, pelo prazer
que essa bebida me proporciona....
Os cansados, desiludidos, carentes....
Sou plena, intensamente eu,
amada, desejada, querida.
Desculpem-me os famintos:
delicio-me com esse prato.
Desculpem-me os poetas...
não pretendo fazer poesia...
Sou, simplesmente.
Com toda a liberalidade das paixões,
Com toda a consciência do ser,
do estar, do sentir, do querer.
E que venham todos:
amados, amantes, mal-amados.
Postem-se, todos.
Meu querer os prostrará.


(Ivy Wyler)

A Clandestina


- Quem é esta clandestina
que dentro de mim viaja

e de mim não se separa
mesmo quando estou dormindo

e aparece nos meus sonhos
breve e leve como a neve?

Quem é esta clandestina
doce e branca e feminina

que me segue quando saio
sombra em mim dissimulada

e torna a voltar comigo
colada ao cair da tarde?

Quem é esta clandestina
que de mim não desembarca?

Sou seu trem ou seu navio?
Seu barco ou seu avião?

E sua voz me responde:
- És meu berço e meu jazigo.

Antes mesmo de nasceres
eu já estava contigo.

E sempre estarei em ti
até o fim da viagem.

Ledo Ivo
In Crepúsculo Civil

Tudo Me faz Lembrar Você...


Tudo me faz lembrar de você
qualquer canção
qualquer lugar
faz eu te querer
faz eu te lembrar
quando penso em você,
meu pensamento quer voar
no azul do seu
sobre o azul do mar!

(...)

Ad

Poema Dos Olhos Da Amada


Ó minha amada
Que os olhos teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.


Vínícius de Moraes

COLBIE CILLAT - Oxygen -

TIAGO IORC - Nothing but A Song -

LAURA PAUSINI - Without You -

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SONETO


Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.


Mário Faustino

4 DE OUTUBRO - DIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS -

Por seu apreço à natureza, é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.

Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!

Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!

SÃO FRANCISCO


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.


Vinícius de Moraes

NÃO VOU PÔR-TE FLORES DE LARANJEIRA NO CABELO


Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.
Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.
Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.


Joaquim Pessoa

THIRTEEN SENSES - Into The Fire -

ALFREDO RODRIDUEZ - Cuba Linda -

MEG RYAN - When A Man Loves A Woman -

domingo, 3 de outubro de 2010

ESTOU MAIS PERTO DE TI PORQUE TE AMO


Estou mais perto de ti porque te amo.
Os meus beijos nascem já na tua boca.
Não poderei escrever teu nome com palavras.
Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.

Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.
Quero a tua boca aberta em minha boca.
E amo-te como se nunca te tivesse amado
porque tu estás em mim mas ausente de mim.

Nesta noite sei apenas dos teus gestos
e procuro o teu corpo para além dos meus dedos.
Trago as mãos distantes do teu peito.

Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.
Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.
E eu estou perto de ti porque te amo.


Joaquim Pessoa

A POESIA...


A poesia nos deve surpreender pelo seu delicado excesso
e não porque é diferente.
Os versos devem tocar nosso próximo,
como se ele tivesse lembrado algo que nas noites dos tempos já
conhecia em seu coração.
A beleza de um poema não está na capacidade
que ele tem de deixar alguém contente.
A poesia é sempre uma surpresa,
capaz de nos tirar a respiração por alguns momentos.
Ela deve permanecer em nossas vidas como o pôr-do-sol:
Algo milagroso e natural ao mesmo tempo.

( J. Keats )

AINDA TE LEVAREI...


Ainda te levarei
Amor
Para comer nozes frescas
Na montanha
E pendurar cerejas nas orelhas
Como se fossem flores
Ou rubis.
As nozes
Meu amor
Mancham os dedos
E são verdes e exatas
Como ovos.

Estará tudo lá
à nossa espera
morangueiras quebradas
lagartixas.

Só não estará meu medo
de menina
aquele mais escuro que os ciprestes
ecos no mato passos sobre a ponte
garras na saia vento nos cabelos
e o latejar das veias repetindo
estou sozinha
e ninguém me salva.


Marina Colassanti

MIGUEL GAMEIRA - Dá-me Um Abraço -

Dá-me Um Abraço

Dá-me um abraço que seja forte
E me conforte a cada canto
Não digas nada que o nada é tanto
E eu não me importo.

Dá-me um abraço fica por perto
Neste aperto tão pouco espaço
Não quero mais nada, só o silêncio
Do teu abraço.

Já me perdi sem rumo certo
Já me venci pelo cansaço
E estando longe, estive tão perto
Do teu abraço.

Dá-me um abraço que me desperte
E me aperte sem me apertar
Que eu já estou perto abre os teus braços
Quando eu chegar


É nesse abraço que eu descanso
Esse espaço que me sossega
E quando possas dá-me outro abraço
Só um não chega

Já me perdi sem rumo certo
Já me venci pelo cansaço
E estando longe, estive tão perto
Do teu abraço.

Já me perdi sem rumo certo
Já me venci pelo cansaço
E estando longe, estive tão perto
Do teu abraço.

E estando longe, estive tão perto
Do teu abraço .


Miguel Gameira