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sábado, 27 de março de 2010

MARCIANO QUE INVADIU A PARAÍBA PRA ROUBAR RAPADURA




Tava eu fumando quieto
Na sombra do juazeiro
Quando vi aquela coisa
Descer do céu bem ligeiro
Parecia um dragão
Cuspindo fogo no chão
Fez aquele reboliço
Dei um pulo tão danado
Pensei: “É malassombrado
Valei-me meu Padrim Ciço”.

Era uma coisa redonda
Brilhava que nem catarro
Pela minha experiência
Nem era avião, nem carro
Quando a porta se abriu
De lá de dentro saiu
Um bicho todo asqueroso
Magro, feio e zoiúdo
Cabeça grande, orelhudo
Com rabo, feito o tinhoso.

Eu fiz o sinal da cruz
Caminhando para trás
E gritei: “Volta pro inferno
Vai de reto Satanás
Volte nos rastro que veio
Não perturbe o que é alheio”
Aí o bicho falou
Com voz de disco arranhado
“Vim de longe, tô cansado
Que o meu povo me mandou”.

“Eu vim do planeta Marte
Onde acabou-se a comida
Lá de cima a Paraíba
Foi a terra escolhida
Me mandaram em missão
Disseram que desse chão
Sai a comida mais forte
Mais gostosa e mais pura
Vou levar sua rapadura
E se não der vai ter morte”.

E partiu para o meu rancho
Levando sua feiúra
Sabia que ali estava
O estoque de rapadura
Deve ter sentido o cheiro
E eu tentei chegar primeiro
Mas o peste correu mais
E quando eu cheguei fui vendo
O bicho tava lambendo
E cheirando os costais.

Botou os zoião em mim
E disse: “Eu não quero ouro
Saí lá do meu planeta
Vim atrás desse tesouro
Vou levar tudo pra Marte”
E eu peguei um bacamarte
Que tava detrás da porta
Passei fogo no feioso
Mas, ou eu tava nervoso
Ou a mira tava torta.

Não acertei nem um chumbo
No rabo do desgraçado
Quando baixou a fumaça
O infeliz tava sentado
Num costal de rapadura
Com toda sua feiúra
Balançando o cabeção
Dizendo: “Pare com isso
Deixe desse reboliço
Pois assim não vai dar não”.

E um taco de rapadura
Ficou assim mastigando
E disse em tom de pirraça:
“Ouça o que eu estou falando
Você não pode comigo
Se teimar lhe dou castigo”
Aquilo me enfureceu
Tentei dar uma rasteira
Mas foi a maior besteira
Quem ficou no chão fui eu.

O feioso era ligeiro
Feito notícia ruim
Quando eu armei a rasteira
Acertou o rabo em mim
Foi mesmo no pé-do-ouvido
Até hoje ouço um zumbido
Dentro da minha orelha
Na hora eu caí pra trás
Aquilo doeu demais
Feito ferrão de abelha.

E eu pensei: “Agora mesmo
Aumentou meu interesse
Eu levando uma rabada
Dum fi-duma-égua desse
Já amansei burro brabo
Vou lhe pegar pelo rabo
Dar umas oito pirueta
Depois eu boto o imundo
Pra abrir no oco do mundo
E voltar pro seu planeta.

Mas quando agarrei no rabo
Do jeito do planejado
Ele soltou uma bufa
Que eu fiquei desnorteado
A bufa do infeliz
Acertou no meu nariz
Com uma intensidade
Que eu fiquei só girando
Uns três minutos rodando
Em busca de identidade.

Quando passou o efeito
Recobrei a consciência
Me deparei com uma cena
Que eu perdi a paciência
O bicho tava sentado
Muito bem acomodado
Fumando meu pé-de-burro
Bebendo minha cachaça
Feliz e achando graça
E me disse num sussurro:

“Agora, seu Zé Mane
Vou levar a rapadura
Gostei também da cachaça
Parece que essa é pura
Foi quando eu bolei um plano
Disse: “Oxente, seu fulano
Você não conhece cana
Eu tenho uma ali guardada
É a melhor qualificada
Brejeira, paraibana”.

Eu só não disse pra ele
Que a cachaça era um forno
Conhecida pelo nome
Rasga-Rabo, Amansa-Corno
Fui buscar o garrafão
Ele tomou da minha mão
Bebeu tudo de um gole
E girando o cabeção
Qual coruja no mourão
Ficou caindo de mole.

Deixei-o de quatro pé
Na porta do seu transporte
Disse: “Agora vamos ver
Se esse sujeito é forte
Trouxe um jumento de lote
Fiquei só de camarote
Assistindo aquela cena
O jegue deu uma varada
Que daquela presepada
Até hoje eu sinto pena.

O marciano acordou
E saiu de rabo ardendo
Com os zoião pegando fogo
E o ‘ás de copa’ doendo
Tava desorientado
Dizendo: “Fui enrabado”
Fez a nave ir pra riba
Saiu fazendo uma jura:
“Nem por toda a rapadura
Não volto na Paraíba”.


Autor: Francisco Diniz

VAST - Everything Passing By -

VAST - Song Without a Name -

SONETO IMPERFEITO PARA UM AMOR BANAL


Quisera tecer um tapete,
- Qual Penélope a esperar Ulisses -,
Com um tênue fio azul celeste:
A cor das mentiras que me dizes.

Milhares, porém, são meus enganos.
Infinitas, do amor, as possibilidades.
Demasiados, os meus pobres anseios
E as minhas tolas perplexidades,

Que, a cantar, me obrigam:
- na intensa e fria madrugada -
Uma canção desmesuradamente vâ:

Retrato de um amor banal;
Um desses, que se inventam do nada
E, sem nem começar, encontram ponto final.

J. L. Santos

NO SILÊNCIO DESSA MANHÃ


No silencio dessa manhã
seu rosto é pintado
pelos pincéis de minha retina
e piscam meus olhos
quando meus cílios
dão um retoque final
no quadro definitivo
de meus sonhos

seu rosto
estará sempre
na parede da sala do meu sentir
onde visualizo sua lembrança
nos meus mais profundos desejos
você sempre vai trazer
através dos pensamentos
esse torpor em meu corpo
essa sensação de abandono
do querer ser sua
e agarrar-me em seu corpo
e olhar dentro de seus olhos
e beijar a sua boca
com aquela sofreguidão
e entregar meu corpo
cheio de caricias submissivas
sussurrando palavras sem sentido
em seus ouvidos


no silencio dessa manhã
quando as verdades
mais absolutas surgem em meu peito
eu olho esse quadro
onde seus olhos vivos e doces
olham para dentro dos meus
e seu sorriso, ah! esse seu sorriso
entra dentro do meu coração
rasga uma senda de arco-iris
e faz vibrar cores
dentro do meu peito
com aquela velha e tão forte
conhecida emoção.


Mary Fioratti

sexta-feira, 26 de março de 2010

DEE DEE BRIDGEWATER - Midnight Sun -

DEE DEE BRIDGEWATER - Malian's -

CAFE DEL MAR - I Hope The Yesterdady -

FREDDIE MERCURY - Candle In The Indy -

THIS WOMAN

A POESIA


Difícil, estreita passagem,
força quente perscrutada,
corpo de névoa, de imagem,
com sulcos de tatuagem,
voz absoluta escutada...

Destino de aranha, tece
com fios vários da vida
alegria se amanhece
ou chora se a luz fenece
pela noite perseguida.

Intimidade exterior,
pureza de impuras formas,
conhecimento e amor,
água límpida, estertor,
sem regras feita de normas.


António Salvado, in "Difícil Passagem"

E O AMOR ...


E o amor é então todo o longínquo
ardor? O à espera eterno e a solidão
que nele nasce e dele vai até
mais não ser que o relembrar anterior?

Ah, mas se o amor fosse tudo em si...
A lágrima e o riso, o verbo e a carne,
se o amor sonhasse na claridade
e sem ela não fosse um maior sonho...

Aí vem a névoa, aí vem o sopro
da vida a levantar o dolorido
princípio sem fim do talvez, do quase...

E o amor é então todo o longínquo
ardor, o eterno à espera e a solidão
que nele nasce e morre, nasce e morre.


António Salvado, in "Recôndito"

A PAIXÃO


Feito um vendaval,
Paixão é a alucinação amorosa.
E os apaixonados são duas espécies:
os generosos, que se dão inteiramente,
se jogando nas mãos do outro,
e os possessivos, que querem que o outro se incorpore
a eles convertidosem sombra viva.
Paixão, por isto, é arma de dois gumes.
E corta. E Sangra.
Se não sangrou, se não teve insônia, se não desesperou,
paixão não era.
Talvez fosse desejo, que o desejo é diferente.
No desejo a gente quer o outro para possuir apenas, passageiramente.
Na paixão, não.Na paixão,
a gente quer se fundir com o outro, para sempre.
E se o outro disser assim:
“Vai ali buscar aquela estrela para mim”, a gente vai.
Se disser:
“Não estou gostando do seu nariz”, a gente opera.
A paixão é boa? A paixão é ruim?
Ninguém sabe. Ela acontece.
Como certas tempestades ela acontece.
Assim como depois dos vendavais os elementos da natureza
já não são os mesmos,
ninguém é o que era depois do desvario da paixão.
Vidas renascem com paixões.
Outras viram cinza por causa dela.
E há pessoas que são como aquela ave mítica, a Fênix,
vivem renascendo das cinzas da paixão.
Karl Max, errou completamente.
Não é a luta de classes que move a história, é a paixão.
Paixão é a revolução a dois.
E toda a comunidade fica abalada.
Foi assim com Romeu e Julieta.
Foi assim com Tristão e Isolda.
Não é de hoje que reinos se fazem e se refazem por causa da paixão.
Existe diferença entre amor e paixão?
Existe.
No amor, claro que há luminosa coabitação.
Mas o amor é também paciente construção.
Já a paixão é arrebatamento puro e a voragem
é tão grande que pode tudo se esgotar de repente.
Quantas vezes se apaixona numa vida?
Há gente que vive se inventando paixões para viver.
E há gente que organiza toda sua vida em torno de uma única
e consumidora paixão.
Paixão é transgressão.
Quanto mais obstáculos inventarem,
mais o apaixonado os saltará.
E o apaixonado não tem medo do ridículo .
O que lhe importa o mundo
se o seu mundo é apenas o mundo da pessoa amada?
A paixão tem cor. É roxa.E é vermelha.
Pressupõe morte e ressurreição.
Da paixão vivemos muito.
Da paixão morreremos sempre.


Affonso Romano de Sant’Anna

O LOUCO



"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!". Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."


Trecho do Livro O Louco
GIBRAN KHALIL GIBRAN

SALGUEIRO


Adoro esta mulher moça e formosa,
Que à janela, a sonhar, vejo esquecida,
Não por ter uma casa sumptuosa
Junto ao Rio Amarelo construída…
- Amo-a porque uma folha melindrosa
Deixou cair nas águas distraída.
Tambem adoro a brisa do Levante
Não por trazer a essência virginal
Do pessegueiro que floriu distante,
No pendor da Montanha Oriental…
- Amo-a porque impeliu a folha errante
Ao meu batel no lago de cristal.
E adoro a folha, não por ter lembrado
A nova primavera que rompeu,
Mas por causa de um nome idolatrado
Que essa jovem mulher n’ela escreveu
Com a doirada agulha do bordado…
E esse nome… era o meu !


in Poesias Completas – António Feijó

O AMOR E O TEMPO



Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!


António Feijó, in 'Sol de Inverno'

BE GONE - Vast Sunday -

JAMES CARRIGTON - Ache -

ROOKS - Shearwater -

quinta-feira, 25 de março de 2010

HOJE DE MANHÃ SAI MUITO CEDO



Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.
A.D.

MULHER AMADA


Mulher amada, sincera e gentil,
se tens suas dores, as mistura com flores,
e com as estrelas do céu anil...

Não se deixa abater, és de toda sentimentos,
mas sabe escolher os momentos ,
de tudo sentir... Sabes sorrir !
E ,isso é perfeito!

No seu olhar , sempre a esperança,
adora criança, adora a vida...
és de toda envolvida,
com as pessoas que te rodeiam,
não sabe negar sua mão,
e na hora certa abre seu coração,
e com toda dedicação , atende ao seu pedido...

Exuberante por natureza, sabe da beleza que tens,
sua humildade é sua nobreza, não a confunde com ninguém...
És assim

SONETO DA CHUVA


Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?
Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinza como a lua.
Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.
Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.


Carlos de Oliveira, in 'Terra de Harmonia'

ANNE MURRAY - You Needed Me -

RYAN BINGHAM - Crazy Heart -

UM CORPO EM POEMA



— Assumo:

Eu sou os pés
do encontro.
A mão que desliza
pelo proibido.
A razão sem sentido.
Emoção!
A face do beijo
os lábios do desejo.
O prazer que desbrava o corpo
a pele que arrepia.
A nudez.
O sexo que dispensa as vestes.
O verso e a prosa
palavras sem conceitos de pudor.

— Resumo:

Eu sou a pornografia
em forma de poesia
que adora lhe atormentar
meu amor.


Rosa Pena

ORAÇÃO DA MAÇANETA


Não há mais bela música
que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta
e o gemer do trinco,
o bater da porta que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto,
uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos,
posso afinal dormir e descansar.

Oh! a longa espera,
a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!

Oh! os presságios e os pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua
e o longo apito do guarda
medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância
e o grito lancinante da ambulância!

E o coração descompassado a pressentir
e a martelarna arritmia do relógio do meu quarto
esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala, estala
a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa
com todos os ruídos secundários.
- Oh! os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
e o tilintar de copos
e a mansa canção da chuva no telhado
podem sequer se comparar
ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre são e salvo,
marinheiro depois da tempestade
a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno
que soa para mim
como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim meu coração se aquieta,
posso afinal dormir e descansar.


Rafael Gióia Martins Júnior

CANSEI...CANSEI...


Cansei de enxugar as frias
lágrimas da dor.
De rezar no sagrado terço do amor
e não desvendar seus indecifráveis mistérios.
Cansei de seduzir a amante ilusão
para que, nos braços da esperança,
acalentasse os ingênuos sonhos.
Cansei de escutar os soluços do coração
na alcova da solidão e me sentir
uma eterna refém da saudade.
Cansei de ver o pêndulo do relógio do tempo
não mudar de lugar
e seguir pelos abstratos dias.
Cansei dos suspiros da poesia,
dos seus beijos molhados de fantasias
lambuzados pelo mel dos desejos.
Cansei da prostituída realidade,
que com os olhos da maldade,
me conduziu a tantos secretos labirintos.
Cansei de ser escrava de um passado ateu
e de um presente que já não é meu.
Cansei de tudo... de tudo...
Do princípio... do meio
e da incógnita do fim.
Eu sei que vida é mesmo assim:
como uma cópula.
Algumas vezes boa e
em outras, simplesmente muito ruim.
Não tenha pena de mim.
Eu já me acostumei
a viver assim: cansada.


© Zena Maciel

MUMFORD & SONS - The Cave -

MARINA AND THE DIAMONDS

LITTLE LION MAN - Mumford And Sons -

quarta-feira, 24 de março de 2010

BEAUTIFUL WORLD - In Existence -

WWF Earth Hour For Once Dark Side Saves The Planet




PARA QUÊ?


Como quem para ao fim de uma jornada
extenuado, exangue,e foi deixando
o seu sangue no pó da imensa estrada
por onde vinha há muito caminhando...

E sua vista, de chorar quebrada,
ao caminho que andou e vai botando,
e enfim reconheceu que andou pra nada
e para nada foi que andou penando...
Assim eu, que gastei o sentimento
pus nua a alma, e escrevi com sangue
o que em meus olhos a tua alma lê.
Pergunto ao fim do áspero tormento:
- alma que vais perdida e vais exangue,
pra que choraste e andaste... para quê?

Afonso Lopes Vieira

JOSH RITTER - Good Man -

APENAS UM SONHO


Na hora magoadíssima do poente
- quase apagada já a luz do dia -
rezava a tua voz tão docemente
que nem o mar, o grande mar ouvia.
Na minha mão, a tua mão ardente;
no meu, o teu olhar que se morria
e o mar a nossos pés em tom crescente
cantando, nem sei que titania.
Depois...sei lá que sucedeu depois!
A mesma chama nos prendeu os dois
e a ambos fustigou, como um açoite.
Nem sei se foi sutil, se foi agreste...
Apenas sei que o beijo que me deste,
foi a primeira estrela dessa noite.


Maria Helena

JOSH RITTER TOM PETTY'S - Walls -

MIRANDA - Mentia -

MIRANDA - Lo que Siento Por Ti -

NOTURNO



Antes que tudo morra de tristeza
e as coisas desta vida ponham luto,
antes que o mar imenso fique enxuto
e se apague no Céu a Lua acesa...
Antes que falte o pão em cada mesa
e tombe no pomar o último fruto,
e o látego de um vento resoluto
sem compaixão castigue a Natureza...

Antes que as minhas mãos fiquem mais tristes,
mais cansadas a frágeis e tão nuas
como as ervas rasteiras e singelas,

que ainda não tenho, mas que existes,
ri ao prenderes minhas mãos nas tuas,
já que eu tento chorei por causa delas.


Maria Helena

terça-feira, 23 de março de 2010

ILHA DE ENCANTOS

Ilha de encantos, de lendas e mistérios
de sambaquis e praias de areias brancas
por ti me apaixonei e aqui fiz minha morada

Teus fortes com canhões antigos
que guardam da guerra vestígios e segredos
conservam-se imunes ao peso do tempo

Tuas lagoas de águas serenas e mar azul
onde os barcos navegam e as crianças brincam
com castelos de areia e mundos encantados

Ilha dos contos de Franklin Cascaes
que dá vida a seres misteriosos:
boitatás, lobisomens, fantasmas

Das bruxas que dão nós em crinas de cavalos
e que voam em suas vassouras mágicas
mar afora assombrando pescadores

Ilha das tradicionais rendeiras e da velha figueira
do boi de mamão com sua maricota
e braços longos e pernas compridas

De montanhas, praias e gaivotas
de brisa perfumada e sol dourado
de ondas que beijam com sal e espuma

Onde em noites de eterna magia
reflete nas águas a forma da lua
que formosa brilha e se rende
aos encantos da ilha.


ad

FLORIANÓPOLIS 284 ANOS

Florianópolis é a capital do estado de Santa Catarina e uma das três ilhas-capitais do Brasil. Destaca-se por ser a capital brasileira com o melhor índice de desenvolvimento humano (IDH), da ordem de 0,875, segundo relatório divulgado pela ONU em 2000. Esse índice também a torna a quarta cidade brasileira com a melhor qualidade de vida.
Possui, segundo o IBGE no ano de 2009, uma população de 408.161 habitantes, sendo o segundo município mais populoso do estado, atrás apenas do município de Joinville.
A imagem "cartão-postal" que a identifica é a famosa Ponte Hercílio Luz (inaugurada em 1926), primeira ligação rodoviária entre a ilha e o continente.



Florianópolis tem sua economia alicerçada basicamente nas atividades do comércio, prestação de serviços públicos, indústria de transformação e turismo. Ultimamente, a indústria do vestuário e a informática vêm-se tornando também setores de excepcional desenvolvimento. A construção civil também é outra importante atividade econômica da cidade, com destaque para as praias da região norte da ilha (Jurerê, Jurerê Internacional, Canasvieiras e Ingleses).





"Um pedacinho de terra,
perdido no mar!...
Num pedacinho de terra,
beleza sem par...
Jamais a natureza
reuniu tanta beleza
jamais algum poeta
teve tanto pra cantar!

Num pedacinho de terra
belezas sem par!
Ilha da moça faceira,
da velha rendeira tradicional
Ilha da velha figueira
onde em tarde fagueira
vou ler meu jornal.

Tua lagoa formosa
ternura de rosa
poema ao luar,
cristal onde a lua vaidosa
sestrosa, dengosa
vem se espelhar..."

Zininho

A IMAGEM NO ESPELHO


Esta parte de mim nunca tem fundo!
É um poço, um abismo, um nunca-acaba!
Se nela caio, já ninguém me agarra
Que esta parte de mim é de outro mundo...
.
Nesta parte de mim em que caminho
Neste fio-de-navalha em que me vivo,
Eu guardo os novos sonhos que cultivo
E que cheiram a mel e rosmaninho...
.
É aqui, neste espelho em que me mostro,
Que sou mais eu, que sou mais verdadeira,
Que dispo outras roupagens que me cobrem...
.
Nesta imagem de mim em que demonstro
Que apesar de dispersa eu sou inteira
Para além das feições que aqui me morrem...


Maria João Brito de Sousa

RADIOHEAD -Paranoid Android -

I'M CREEP

COISAS, PEQUENAS COISAS


Fazer das coisas fracas um poema.

Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.

Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.


Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

PAISAGEM


Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.

Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.

Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.

E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»

Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.

(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)

David Mourão-Ferreira, in "A Secreta Viagem"

CAR POWER - Lived in Bars -

BAND OF HORSES - Marry Song -

RADIOHEAD - Scala Creep -

segunda-feira, 22 de março de 2010

DA RELATIVIDADE DO TEMPO


Um cansaço de vida, um quase-morte,
Depois um renascer contra a vontade.
O corpo à minha espera (identidade?)
Um Palácio de Luz eu sem norte...

É tudo tão dif`rente! Essa ilusão
Do tempo que se vive deste lado,
Dilui-se entre o futuro e o passado
E traduz-se num`outra dimensão.

Um segundo, um milénio... quanto tempo
Se passou, afinal, enquanto estive
Diante dessa luz cheia de paz?

Um milénio, por lá, é um momento
Daquilo que por cá se sente e vive.
Um segundo? Um milénio? Tanto faz!


Maria João Brito de Sousa

PENINHA - Sonhos -

DAS FUNÇÕES DOS SONHOS


No meu posto. Estou sempre no meu posto.
Só abro a porta a quem muito bem quero.
Mas vou abrindo sempre e já nem espero
Ouvir-lhe a voz e divisar-lhe o rosto...

Estou no meu posto. Este é o meu lugar.
Quem me adivinha a dor de ser feliz?
De sonhos me alimento e sou matriz
Das mil e uma formas de sonhar.

Porque o sonho é subtil como um conceito.
Ensina-te a sentir, a acreditar,
É útil como um fruto, uma semente.

Se desce sobre ti, tem o direito...
Tem até o dever de te acordar
Do sonho que em ti dorme eternamente.


Maria João Brito de Sousa

22 DE MARÇO - DIA MUNDIAL DA ÁGUA -




Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias e matam a sede da população
Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão
E depois dormem tranqüilas no leito dos lagos, no leito dos lagos
Água dos igarapés, onde Iara, a mãe d'água é misteriosa canção
Água que o sol evapora, pro céu vai embora, virar nuvem de algodão
Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobre a plantação
Gotas de água da chuva, tão tristes, são lágrimas na inundação
Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes pro fundo da terra, pro fundo da terra
Terra, planeta água (2x)
Terra, planeta á...gua


Guilherme Arantes

Declaração Universal dos Direitos da Água
Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.

Art. 2º - A água é a seiva do nosso planeta.Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem.

Art. 3º - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.

Art. 4º - O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.


Art. 5º - A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.

Art. 6º - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

Art. 7º - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.


Art. 8º - A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.

Art. 9º - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.

Art. 10º - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

ARTE EM BORRACHA






SEDENTA DE TI


Olho p'ro céu, que tanto me declamava estrelas
Não as encontro mais... Infinito vazio! Minhas
Pequenas mãos não conseguem ascendê-las
E a noite me atravessa... Gumes de calafrios!

Brisa... D'antes carícia, dedos em meus cabelos
Ora geme no telhado, ciscando desespero
Desgrenha as roseiras, rasga os cheiros da manhã
Sedenta do teu orvalho... Um gole, traço ligeiro!

Hálito da tua estrada... Poeira! E o sonho na
Algibeira! Como chegaste, partiste... Águas
D'um manso rio, quebradas na cachoeira!

Estrelas tão nossas... Das trevas reféns
Flores que estremeci a cada olhar de ti! Camélias
E bem-te-vis quedando-se aos teus poréns! E...

A vida!? Ah! A vida sem fôlego, um nada! Sepulto.


Iza