VISITANTES

sexta-feira, 4 de junho de 2010

WILLIAM BLAKE


William Blake nasceu em Londres em 1757, onde viveu praticamente quase toda a sua vida, morrendo em 1827. Filho de um comerciante rico, desde criança gostava de ler e desenhar. Aos dez anos de idade, foi enviado à escola de desenho e, aos quatorze anos, tornou-se aprendiz do famoso gravador James Basire. Dois anos depois, Blake começou a estudar e desenhar as igrejas de Londres, particularmente Abadia de Westminster cuja estilo gótico grandioso impressionou e o fascinou muito.
William Blake foi o primeiro dos grandes poetas Românticos ingleses, como também pintor, impressor, e um dos maiores gravadores da história inglesa. Suas imagens incluem o poeta do século 17, John Milton, descendo dos céus na forma de um cometa e caindo sobre o teto do pintor.


O JARDIM DO AMOR


O Jardim do Amor fui visitar,
E vi então o que jamais notara:
Lá bem no meio estava uma Capela,
Onde eu no prado correra e brincara.

E os portões desta Capela não abriam,
E "Não farás" sobre a porta escrito estava;
E voltei-me então para o Jardim do Amor
Lá onde toda a doce flor se dava;

E os túmulos enchiam todo o campo,
E eram esteias funerárias as flores;
E Padres de preto, em seu passeio secreto,
Atando com pavores minhas alegrias & amores.


William Blake, in "Canções da Experiência"
Tradução de Hélio Osvaldo Alves

DAS CANÇÕES DA INOCÊNCIA



Introdução
Tocando uma flauta no vale selvagem,
Tocando canções doces e alegres,
Vi uma criança aparecer nas nuvens,
E ela me disse sorrindo:
"Toque aquela do cordeiro";
Então toquei alegremente;
"Toque de novo a canção, por favor" -
Então eu toquei, e ela chorou ao ouvir.

"Largue a flauta, essa sua flauta feliz
E cante canções que tragam alegria;
Então toquei a mesma canção,
Enquanto ela chorou de prazer, ao ouvir.

"Flautista, sente-se e escreva
Num livro para que leiam" -
Então ela desapareceu".
E eu peguei um junco oco,

E fiz uma caneta rústica,
E a mergulhei nas águas límpidas
Para escrever as felizes canções
Que toda criança aprecia tanto ouvir.


O TORRÃO E O SEIXO



"O Amor jamais a si quer contentar,
Não tem cuidado algum como o que é seu;
Sacrifica por outro o bem-estar,
E, a despeito do Inferno, erige um Céu"

Esse era o canto de um Torrão de Terra,
Pisado pelas patas da boiada;
Mas um Seixo, nas águas do regato,
Modulava esta métrica adequada:

"O Amor somente a si quer contentar,
Atar alguém ao próprio gozo eterno;
Sorri quando o outro perde o bem-estar,
E, a despeito do Céu, ergue um Inferno."

Tradução de Paulo Vizioli


CANÇÃO LOUCA


A brava brisa brame
E a noite é fria;
Vem a mim, Sono,
E abraça minha agonia.
Mas arre! O dia prenhe
Preenche já o leste,
E as aves sonoras da aurora
Da terra se escarnecem.

Arre! Para os ares
Da cúpula celeste
Minhas notas partem,
Fartas de pesares.
Elas batem no ouvido da noite,
Molham os olhos do dia
Brincam com tempestades
Enlouquecem a ventania.

Como um demônio na nuvem
Em uivo agudo,
Pela noite eu procuro,
E com a noite me curvo;
Não me serve o leste
Onde o consolo acresce,
Pois a luz agarra meu cérebro
Com dor frenética.


(tradução de Regina de Barros Carvalho)

O SONHO


Sonhei um Sonho! Que quer dizer?
Eu era uma Rainha virgem,
Guardada por um Anjo doce:
Estúpido infortúnio nunca foi enganado!
E chorei noite e dia,
E ele enxugou minhas lágrimas,
E chorei noite e dia,
E escondi-lhe o gozo de meu coração.
Então ele abriu suas asas e voou;
Então a manhã se envolveu de um vermelho rosado;
Sequei minhas lágrimas, e armei meus temores
Com dez mil escudos e lanças.
Logo meu Anjo voltou:
Eu estava armada, voltou em vão;
Porque o tempo da juventude havia voado,
E cabelos cinzas estavam sobre minha cabeça.


William Blake,1820
(Tradução de Patrícia Clemente e Sofia)

OTTAR LIEBERT - Starry Nite -

RUI VELOSO - Primeiro Beijo -

EU QUERIA TRAZER-TE UNS VERSOS LINDOS...


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

Mario Quintana

À NOITE


Eis-me a pensar, enquanto a noite envolve a terra;
Olhos fitos no vácuo, a amiga pena em pouso,
Eis-me, pois, a pensar... De antro em antro, de serra
Em serra, ecoa, longo, um réquiem doloroso.

No alto uma estrela triste as pálpebras descerra,
Lançando, noite dentro, o claro olhar piedoso.
A alma das sombras dorme; e pelos ares erra
Um mórbido langor de calma e de repouso...

Em noite escura assim, de repouso e de calma,
É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas,
A alma cheia de dor, a dor tão cheia de alma...

É que a alma se abandona ao sabor dos enganos,
Antegozando já quimeras pressentidas
Que mais tarde hão de vir com o decorrer dos anos.


Francisca Júlia da Silva

A FLORISTA


Suspensa ao braço a grávida corbelha,
Segue a passo, tranqüila... O sol faísca...
Os seus carmíneos lábios de mourisca
Se abrem, sorrindo, numa flor vermelha.

Deita à sombra de uma árvore. Uma abelha
Zumbe em torno ao cabaz... Uma ave, arisca,
Bem perto dela pelo chão lambisca,
Olhando-a, às vezes, trêmula, de esguelha...

Aos ouvidos lhe soa um rumor brando
De folhas... Pouco a pouco, um leve sono
Lhe vai as grandes pálpebras cerrando...

Cai-lhe de um pé o rústico tamanco...
E assim descalça, mostra, em abandono,
O vultinho de um pé macio e branco.

Francisca Júlia da Silva

SAVAGE GARDEN - I Knew I Loved You -

BRAD PAISLEY - The Cigar Song -

EMMYLOU HARRIS - Thanks To You -

LEVE, BREVE, SUAVE...


Leve, breve, suave,
Um canto de ave
Sobe no ar com que principia
O dia.
Escuto, e passou...
Parece que foi só porque escutei
Que parou.

Nunca, nunca em nada,
Raie a madrugada,
Ou 'splenda o dia, ou doure no declive,
Tive
Prazer a durar
Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir
Gozar.


Fernando Pessoa

UM POEMA DE AMOR PARA DOMINGO


Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado.

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde.

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado.


Ana Hatherly

quinta-feira, 3 de junho de 2010

SOBRE O ADEUS


Hoje, temos a impressão de que tudo começou ontem.
Não somos os mesmos, mas somos mais juntos.
Sabemos mais uns dos outros.
E é por esse motivo que dizer adeus se torna tão complicado.
Digamos, então, que nada se perderá.
Pelo menos... dentro da gente.."


Guimarães Rosa*

JORGE PALMA - À Espera do Fim ...

LUIS REPRESAS e PABLO MILANÉS - Feiticeira -

MARIZA - Meu Fado Meu -

PRETENDO


"Pretendo que a poesia tenha a virtude de,
em meio ao sofrimento e o desamparo,
acender uma luz qualquer,
uma luz que não nos é dada,
não desce dos céus,
mas que nasce das mãos e do
espírito dos homens."


Ferreira Gullar

TEUS OLHOS CINTILANTES


Teus olhos cintilantes
No profundo horizonte da dor
Transmitem o rio da vida:
Momentos demorados e antigos
Nos espaços livres
Desocipados de afeição-
Serenidade que a alma reclama
E onde se alimenta.
O regulamento livre
E pertubante
Afogado no desespero
Ânsia de conquistas
Num curso sem leito
Arrasta no desabitado
A penumbra do desafio
Momentos gastos
E sem vida


by Jorge Pereira

NÃO POSSO ADIAR O CORAÇÃO


Não posso adiar o amor

Não posso adiar o amor para outro século
Não posso
Ainda que o grito sufoque na garganta
Ainda que o ódio estale e crepite e arda
Sob montanhas cinzentas
E montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio

Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.


Antônio Ramos Rosa

UMA VOZ NA PEDRA


Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.


António Ramos Rosa

Peñalver, El Hombre - Up bustle and out

VELHO TEMA


Eu cantarei de amor tão fortemente
Com tal celeuma e com tamanhos brados
Que afinal teus ouvidos, dominados,
Hão de à força escutar quanto eu sustente.
Quero que meu amor se te apresente
- Não andrajoso e mendigando agrados,
Mas tal como é: risonho e sem cuidados,
Muito de altivo, um tanto de insolente.
Nem ele mais a desejar se atreve
Do que merece: eu te amo, o meu desejo
Apenas cobra um bem que se me deve.
Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
E vou de olhos enxutos e alma leve
À galharda conquista do teu beijo.


(Vicente de Carvalho)

BOSQUE


Também como esse bosque eu tive outrora
na alma um bosque cerrado de emoções.
As palmeiras das minhas ilusões
iam levando o fuste espaço afora.

Floriam sonhos; era uma pletora
de crenças, de desejos, de ambições...
Não havia por todos os sertões
mais luxuriante e mais violenta flora.

Ai! Bosque real, é o tempo das queimadas!...
É agosto, é agosto! O fogo arde o que existe
em turbilhões sinistros e medonhos.
Ai de nós!... Somos almas desgraçadas,
pois na luz de um olhar lânguido e triste
também ardeu o bosque dos meus sonhos...


(Menoti del Picchia)

EMILLIANA TORRINI - Birds -

EMILLIANA TORRINI - Sunny Road -

EMILY BLUNT - Always on My Mind -

COLBIE CAILLAT - I Never Told You -

quarta-feira, 2 de junho de 2010

BANDAS E SEUS NOMES - Parte IV -

AD/DA
AC/DC - A irmã de Angus e Malcolm Young, Margaret, criou o nome. Aparentemente ela achou a sigla em um eletrodoméstico, e achou que casava bem com a banda, visto que tinha a ver com eletricidade (AC/DC é um indicativo de corrente contínua e alternada). Depois descobriram que era também uma gíria que designava bissexuais mas já era tarde.
São infundadas as versões de que o nome seria uma sigla para Anti-Christ/Dead-Christ (anticristo, cristo morto).




AEROSMITH
Aerosmith - O nome Aerosmith não significa absolutamente nada. Foi proposto por Joey Kramer e segundo Steven Tyler foi o único nome entre vários propostos que ninguém odiou.




B.B.KING
B. B. King - Abreviatura para "Blues Boy King".




BARÃO VERMELHO
Barão Vermelho - O nome do Barão Vermelho foi tirado das tirinhas do Snoopy e do Charlie Brown.




BLACK SABBATH
Black Sabbath - O primeiro nome do Sabbath foi "Earth". Ozzy Osbourne e companhia foram forçados a trocar o nome da banda, porque já existia uma outra, mais famosa, chamada "Earth". Foi aí que escolheram "Black Sabbath" título de uma música que o baixista Terry Geezer Butler fez inspirado num suspense de Denis Wheatley.




BLONK - 182
Blink-182 - Eles queriam se chamar Blink mas já havia uma banda Irlandesa com esse nome. 182 é a quantidade de vezes que Al Pacino diz a palavra "fuck" no filme "Scarface".



Blue Cheer - Apelido para um LSD de boa qualidade.

BONO VOX
Bono Vox - Latim para "boa voz". Bonovox é também uma loja de equipamentos para audição. Seu nome verdadeiro é Paul Hewson.




CAPITAL INICIAL
Capital Inicial - Antes do Capital existir, seus integrantes tocavam por pura diversão em bandas brasilienses, levando seu som, com influências punk, aos bares e praças da cidade, barbarizando a Capital Federal. Mas, engana-se quem pensa que o nome da banda tem a ver com Brasília. Eles não tinham mesmo a grana para começar; não tinham o capital inicial.




DEF LEPPARD
Def Leppard - Inspirado em um desenho que Joe Elliot fez de um leopardo sem ouvidos. Um leopardo surdo.




DEEP PURPLE
Deep Purple - Deep Purple era o nome da música favorita da avó de Ritchie Blackmore.




DIRE STRAITS
Dire Straits - O termo "Dire Strait" é uma gíria chula, parte do vocabulário dos ingleses humildes, pobres e sempre desempregados. "I'm dire strait!" quer dizer "estou completamente duro, sem dinheiro e sem possibilidades".




EXTREME
Extreme - Inicialmente chamado de Dream até descobrir outra banda com esse nome. Enquanto imaginavam algo em torno de ex-Dream chegaram a Extreme. Segundo o baterista Paul Geary: "O nome do nosso grupo tem muito a ver com o nosso som. De Prince a Led Zeppelin, nós tínhamos uma ampla gama de influências".


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LED ZEPPELIN
Led Zeppelin - O baterista do the Who, Keith Moon, achou que a banda de Jimmy Page, que ainda se chamava The New Yardbirds, era pesada como chumbo e flutuava como um Zepelim. Daí Lead Zeppelin (Zepelim de Chumbo). Um Zepelin trata-se de um balão dirigível em forma de charuto. Mais tarde o nome foi mudado para Led Zeppelin para não ter dúvidas quanto à pronúncia.




LIMP BIZKIT
Limp Bizkit - O nome Limp Bizkit surgiu durante uma conversa entre o vocalista Fred Durst e um amigo que diz que seu cérebro parece um "limp biscuit" (uma bolacha amolecida). Ele gostou da idéia e adotou o nome.




MOTORHEAD
Motorhead - Cabeçote de motor. Gíria para quem está sempre tomando anfetamina e nome de uma poderosa anfetamina que o vocalista Lemmy usava quando fazia parte da banda Hawkwind. Era também o nome de uma das músicas deste seu primeiro grupo.


MENINO ESCONDIDO


Há um menino por baixo das coisas,
Por tão dentro assim que se diz âmago.
Ali, no mais distante e só do nosso ser,
Onde não acontecem palavras nem sol.
Ele vive de roer umas migalhas de vida,
Sob o regime vigilante do bom senso...

Às vezes joga verdades pela nossa boca,
Mas logo rejeitado retorna para sua cela.
Está sempre sozinho, ausente das horas,
Com destino de eterno breu e silêncio.
Lá não há escada que facilite sua fuga,
Nem verdades que clareiem o caminho.

Esse menino levaremos calado até o fim,
Para que vençam nossas meias-verdades,
E façam de nós homens que não fomos,
E sagrem mulheres que jamais existiram,
E que assim a estrada de viver siga planos,
E a sociedade não seja afetada pelo real.

Esse garoto e sua bandeira pequenina,
Assim guardado talvez seja o único jeito
De manter no caminho a raça humana;
Driblando verdades, maquiando desejos.
Que durma pois nosso menino em sigilo,
Deixado para um acaso qualquer adiante.

Hoje não, que viver ainda é de disfarces,
Um contrato assinado antes de nascermos:
Por um quase-caminho vai uma quase-vida;
Um seguir de regras sumariamente prontas.
É só viver do tamanho que morre o âmago,
E agendar para outra vez o que silencia.


Ricardo Fabião

AS SEIS CORDAS


A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que bóiam no seu negro
abismo de madeira.


Federico Garcia Lorca

BEN HARPER & JACK JOHNSON - Please me Like You -

AMOS LEE- What's Been Going On -

JACK JOHNSON - Better Together -

AMOS LEE- Careless -

R MENDONÇA

A IMAGEM DE MIM MESMO


Não te encontrando
Descrevo a imagem de mim mesmo
Cercada de grades e sangue-
Um ciclo que não tenho escapado
Ai medo de imensidão
Tenho que improvisar....
Ultrapassar todas as barreiras..
E se o fim chegar de outras direcções
Com comportamentos destrutivos!?
E a vida cada vez mais distante
Exposta sem verbos
Pousando para o meu retrato
Um unico filme
Uma última parida
Um ultimom adeus


by Jorge Pereira

EM TODAS AS ESQUINAS DA CIDADE


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com caracter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
(...)


Daniel Filipe
A Invenção do Amor e Outros Poemas
Lisboa, Presença, 1972

CERTEZA


Quero-te como quero em todas as manhãs
O vento frio penetrando em meu quarto
E despertando-me em sensação de saudades.
Quero-te como quero um jardim constante
Exalando dos meus poros
O odor da vida e da perpetuidade.
Quero-te como o impossível preso em minhas mãos
Para fazer de ti o motivo eterno de meus sonhos.
Quero-te como quem quer somente para si,
O abraço maior de todas as emoções.
Quero-te assim, acordando-me sempre
Deste meu sonho, em sua breve chegada.


Gilberto Vaz de Melo

terça-feira, 1 de junho de 2010

HOLE - Doll Parts -

HOLE - Malibu -

FREDDY LOCKS - Fazuma -

REGINA MENDONÇA - Mulheres -

INSUFICIENTE


Beijo-te a alma entristecida
Despida de adornos
Suspirando em madrugada de fome
Deleitado no desagrado
Entre portas de incerteza
Manhã revolta
Com alforges de recomeços
Transportados em olhos
Rios de purpura
Transportando a luta do nosso pão
Espigas que reaparecem entre espinhas
Como que comungando do mesmo sentido


by Jorge Pereira

NOÇÕES


Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...


Cecília Meireles

ANDRÉS SEGÓVIA

"O violão é como uma orquestra cujo
som nos alcança vindo de um planeta que é
menor e mais delicado que o nosso."


Andrés Segóvia





ANALOGIA


Amo o Inverno assim triste, assim sombrio,
lembrando alguém que já não sabe amar;
e sempre, quando o sinto e quando o espio,
julgo-te eterizado, esparso no ar.
Afoita, a alma do Inverno desafio,
para inda te querer e te pensar...
para gozá-lo e gozar-te, que arrepio!...
que semelhança em ambos singular!...
Loucura pertinaz do meu anelo:
— emprestar-te, emprestar-lhe uma emoção,
— pelo mal de perder-te querer tê-lo...
Amor! Inverno! Minha aspiração!
quem me dera resfriar-me no teu gelo!
quem me dera aquecer-te em meu verão!...


Gika Machado

OFÉLIA


Um rio longo, verde escuro
sustém o corpo de Ofélia.
Longos cabelos emolduram
a forma branca, esquiva e débil
suspensa ao balanço da água.
Por entre espumas e sargaços
desabrocha o rosto de nácar.
Agora o busto de onda se ergue,
resvala o fino tronco, os membros
esvaem-se trêmulos, trêmulos.

Debruço-me sobre o rio
para salvá-la. E então me perco.
Meus olhos já não podem vê-la
nublados de bolhas e liquens.
Meus braços não mais a alcançam
hirtos do pavor da morte.

Ofélia, serena, dorme.
E sonha. Nas praias últimas
um anjo lhe enxuga as tranças.
Um anjo a recolhe e adverte
da inanidade de tudo.

E enquanto se eterniza Ofélia,
para Ofélia desapareço.


Henriqueta Lisboa

LITA FORD & OZZY OUSBOURNE - Close My Eyes Forever -

BRANDON HEATH - Love Never Fails -

VANESSA PETRUO - Beggin -

segunda-feira, 31 de maio de 2010

MADONA DA TRISTEZA


Quando te escuto e te olho reverente
E sinto a tua graça triste e bela
De ave medrosa,tímida,singela,
Fico a cismar enternecidamente.

Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
Toda a delicadeza ideal revela
E de sonhos e lágrimas estrela
O meu ser comovido e penitente.

Com que mágoa te adoro e te contemplo,
Ó da piedade soberano exemplo,
Flor divina e secreta da Beleza.

Os meus soluços enchem os espaços
Quando te aperto nos estreitos braços,
Solitária madona da Tristeza.

Cruz e Sousa

EUGEN VON BLAAS

THE BAND - Don't Do It -

CREPÚSCULO


Começa a entardecer. Amor, é tarde...
Descansa no meu peito a tua fronte,
e vê o Sol baixando no horizonte,
em chamas de ouro, como brilha e arde.

Agora, resignados, sem alarde,
vamos descendo a encosta deste monte.
Já não tenho mais versos que te conte,
e nem um verso eterno em que te guarde!...

Calam-se os passarinhos no arvoredo.
- É a noite que vem. Não tenhas medo.
Acabaram-se os cantos festivais.

Silencio. Solidão. Ninguém se afoite...
Anoitecer que importa, se é de noite
que os beijos de quem ama sabem mais?!


Francisco Espínola de Mendonça (Açores)
1891-1944

MINHA CULPA


Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem…
Sou um reflexo… um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!…

Sou um verme que um dia quis ser astro…
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor…

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador…


Florbela Espanca

RUI REININHO - Sangue Oculto -

AVRIL LAVIGNE - When You're Gone -

JAN GARBECK

SASHA - Everybody's Fool with Lyrics -

SASHA - Luck Day -

GOSTO QUANDO ME FALAS DE TI...


Gosto quando me falas de ti... e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens, cenário de meus desejos
tranqüilos
Gosto quando me falas de ti... e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs...

Gosto quando me falas de ti... quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra, e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti... e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras, como um lençol
distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo, cuja
primeira curva
foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti... porque percebo que te
desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão...


( Poema de JG de Araujo Jorge do
livro "Quatro Damas" 1a ed. 1965 )

NÃO ÉS TU


Era assim tímido esse olhar,
A mesma graça, o mesmo ar;
Corava da mesma cor,
Aquela visão que eu vi
Quando eu sonhava de amor,
Quando em sonhos me perdi.

Toda assim; o porte altivo,
O semblante pensativo,
E uma suave tristeza
Que por toda ela descia
Como um véu que lhe envolvia,
Que lhe adoçava a beleza.

Era assim; e seu falar,
Ingênuo e quase vulgar,
Tinha o poder da razão
Que penetra, não seduz;
Não era fogo, era luz
Que mandava ao coração.

Nos olhos tinha esse lume,
No seio o mesmo perfume,
Um cheiro a rosas celestes,
Rosas brancas, puras, finas,
Viçosas como boninas,
Singelas sem ser agrestes.

Mas não és tu... ai! não és:
Toda a ilusão se desfez.
Não és aquela que eu vi,
Não és a mesma visão,
Que essa tinha coração,
Tinha, que eu bem lho senti.

In Folhas Caídas
Almeida Garrett (1799 – 1854)

O CORPO


O corpo
Eu e a alma
Como flor de jardim
E olhos de mar
Na noite atormentada
De dispersa luz
Com sentidos de terra
E desejos em lágrimas
Semeando a esperança
Que rega..e propspera.


by Jorge Pereira

DERRADEIRA PRIMAVERA


Põe a mão na minha mão
Só nos resta uma canção
Vamos, volta, o mais é dor
Ouve só uma vez mais
A última vez, a última voz
A voz de um trovador
Fecha os olhos devagar
Vem e chora comigo
O tempo que o amor não nos deu
Toda a infinita espera
O que não foi só teu e meu
Nessa derradeira primavera.


Vinicius de Moraes
(1913-1980)

DAVID GILMOUR & BOB GELDOF -

DAVID GILMOUR & DAVID BOWIE

BLACK SNAKE MOAN - When The Lights Go Out -

domingo, 30 de maio de 2010

NOSSO TEMPO


Nosso tempo
Onde meu ser
Lavado em labaredas de desejo
Chora
Chora da ternura da ausência
O tempo de alma em sangue
Escondendo do grito
No colo da crença incapaz de vencer.


by Jorge Pereira

HARMONIA


Sempre soube que o FADO era
uma melodia muito melancólica,
hoje o meu sentir
modificou este pensamento.

Nunca consegui seguir
muito bem o batuque do samba...
Talvez minha alma sertaneja e romântica
tenha feito alguma interferência.

Mas agora vivo a
balbuciar pelos meus caminhos
esta melodia que chegou
além mar...

Sem nenhuma melancolia...
Apenas sinto os ecos
desta guitarra portuguesa...
pautas de esperança e amor.

Mágica harmonia...
Leve sintonia entre o amor,
a saudade, o sonho e a poesia.

BEBE

AH! SEU EU PUDESSE


Ah! Se eu pudesse.
Se eu pudesse, voltaria no tempo
E faria uma canção de amor,
No lugar de tantas dores e maldades

Ah! Se eu pudesse.
Todass manhãs seriam uma saudação a vida,
Quando ao acordar-te, com meus lábios grudados aos teus,
Te desse um bom dia tão longo, que termiaria somente
E quando numa noite estrelada.

Ah! Se eu pudesse.
Agora me cai a ficha, hummmm...,
Será que poderia tanta coisa?
Confesso que nem eu mesmo sei.
Não, não me refiro as que já te disse,
Mas a lista absurda do meu sentir,
Que ainda não citei.


Júlio Cesar Fialho Pires

DUAS FLAUTAS


Uma noite em que eu respirava o perfume das flores
à beira do rio,
o vento trouxe-me a canção de uma flauta distante.
Para responder-lhe, cortei um ramo de salgueiro
e a canção da minha flauta embalou a noite encantada.

Desde então, todos os dias,
à hora em que o campo adormece,
os pássaros ouvem a conversa
de dois pássaros desconhecidos,
cuja linguagem, no entanto, compreendem.


Li Po

SUZANNE VEGA -

O VENTO E A CANÇÃO


Só o vento é que sabe versejar:
Tem um verso a fluir que é como um rio de ar.

E onde a qualquer momento podes embarcar:
O que ele está cantando é sempre o teu cantar.

Seu grito é o grito que querias dar,
É ele a dança que ias tu dançar.

E, se acaso quisesses te matar,
Te ensinava cantigas de esquecer.

Te ensinava cantigas de embalar...
E só um segredo ele vem te dizer:

- é que o voo do poema não pode parar.


Mário Quintana

O ESTUDANTE EMPÍRICO


Eu, estudante empírico.
fecho o livro e contemplo.

Eis o globo, o planisfério terrestre,
o planisfério celeste,
o redondo horizonte, a ilusão dos firmamentos.

E a nossa existência.

Eis o compasso, o esquadro,
a balança, a pirâmide,
o cone, o cilindro, o cubo,
o peso, a forma, a proporção, as equivalências.

E o nosso itinerário.

Saem das suas caixas os mistérios:
desenrola-se o mapa dos ossos, com seus nomes;
o sangue desenha sua floresta azul;
cada órgão cumpre um trabalho enigmático:
estamos repletos de esfinges certeiras.

E o nosso corpo.
Eu, estudante empírico.
fecho o livro e contemplo.

Eis o globo, o planisfério terrestre,
o planisfério celeste,
o redondo horizonte, a ilusão dos firmamentos.


E os dinossauros são como carros de triunfo,
reduzidos à armação;
e no olho profundo do microscópio
a célula anuncia.

E o nosso destino.

O professor escreve no quadro o Alfa e o Ômega .

A luz de Sírius ainda lança escadas em contínua cascata.
E lentamente subo e fecho os olhos
e sonho saber o que não se sabe
simplesmente acordado.

Grande aula, a do silêncio.


Cecília Meireles

FERNÃO CAPELO GAIVOTA

A POESIA SE ESFREGA NOS SERES E NAS COISAS


Nunca sentiste uma força melodiosa
Cercando tudo que teus olhos veem,
Um misto de tristeza numa paisagem grandiosa?
Ou um grito de alegria na morte de um ser que queres bem?
Nunca sentiste nostalgia na essência das coisas perdidas
Deparando com um campo devoluto
Semelhante a uma virgem esquecida?
Num circo, nunca se apoderou de ti, um amargor sutil.
Vendo animais amestrados
E logo depois te mostrarem
Serem humanos imitando um réptil?
Nunca reparaste na beleza de uma estrada
Cortando as carnes do solo
Para unir carinhosamente
Todos os homens, de um a outro pólo?
Nunca te empolgastes diante de um avião
Olhando uma locomotiva, a quilha de um navio,
Ou de qualquer outra invenção?
Nunca sentiste esta força que te envolve desde o brilho do dia
Ao mistério da noite,
Na extensão da tua dor
E na delícia da tua alegria?
Pois então, faz de teus olhos o cume da mais alta montanha
Para que vejas com toda amplitude
A grandeza infindável da poesia que não percebes
E que é tamanha!


Adalgisa Nery

ELLIOT MURPHY - A Touch Of Findness -

PATTI SCIALFA

CORPO SALGADO


Corpo salgado
Conduz-me oh mar
Nesta rota de solidão
Na sede que cresce a rocha...
A dor de meu ser de sol ausente
No calor da tarde com corpo Salgado
A vaga do nosso tempo
E esta canoa transportando dissabores
Rasga na vida a onda
Na frescura do disfarce
E no gozo
O seu gemido.


by Jorge Pereira