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sábado, 12 de fevereiro de 2011
As Folhas Caem...
As folhas caem, caem como se,no alto,
lá nos céus, longínquos jardins murchassem
Elas caem de maneira resignada.
.
Em noites frias a terra pesada
caí, dos astros todos, na solidão.
.
Todos caímos.Cai aquela mão.
E olha as outras: há quedas também.
.
No entanto há alguém
que, com suaves mãos,
todas as quedas detém.
.Rainer Maria Rilke
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Aquele Que Amo...
Eu Queria Escrever-te Uma carta...
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue…
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta de confidências íntimas,
uma carta de lembranças de ti,
de ti
dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos
que maiores não encontrei por aí…
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que recordasse nossos tempos a capopa
nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos
o luar que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura
da nossa paixão
e a amargura da nossa separação…
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza
do esquecimento
uma carta que em todo o Kilombo
outra a ela não tivesse merecimento…
Eu queria escrever-te uma carta
amor,
uma carta que ta levasse o vento que passa
uma carta que os cajús e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres
pudessem entender
para que o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas
compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levassem puras e quentes
as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor….
Eu queria escrever-te uma carta…
Mas ah meu amor, eu não sei compreender
por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu – Oh! Desespero! – não sei escrever também!
António Jacinto
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Dá-me Tua Mão...
Dá-me tua mão e eu te levarei aos campos musicados
pela canção das colheitas cheguemos antes que os pássaros
nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada.
Adalgisa Nery
Outra Coisa...
Por Que Tardas Tanto?
Amado... Por que tardas tanto?
As primeiras sombras se avizinham
E as estrelas iniciam a noite.
Vem...
Pois a esperança que se acolheu em meu coração
Vai deixá-lo como um ninho abandonado nos penhascos.
Vem...
Amado... desce a tua boca sobre a minha boca
Para a tua alma levar a minha alma
Pesada de sofrimento!
Vem...
Para que, beijando a minha boca
Eu receba a sensação de uma janela aberta.
Amado meu...
Por que tardas tanto?
Vem...
E serás como um ramo de rosas brancas
Pousando no túmulo da minha vida...
Vem amado meu.
Por que tardas tanto?
Adalgisa Nery
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Do Amor Só Digo isto:
Alma
Acho que os sentimentos têm células,
pois as sinto remexer,
intensas libélulas
a se fundir e a se desprender.
Alimentam-se de lágrimas e risos,
sempre crescem.
A cada instante que vivo,
mais então se expandem,
mais amadurecem.
Seu
úcleo me pede pulsações
e quando me perco pelas emoções,
ele se avoluma e me maltrata.
Chega a ser tão grande seu efeito,
que rompe o peito,sangra
e se dilata.
Ah minhas células emotivas!
Quero-as em mim
coladas e cativas
fazendo-me viver intensamente.
Eu as batizo com o nome de "alma"
e as responsabilizo a viver eternamente
ainda quando o coração se acalma
e põe-se a dormir
irreversivelmente.
Flora Figueiredo
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Eu Sei...
Caleidoscópio
No tubo
cilíndrico,
fragmentos móveis,
e vidros coloridos
no fundo.
Milhares de imagens
combinadas,
sucessivas,
refletidas
sobre um jogo
de espelhos longitudinais.
Chuviscos amarelos,
bolas azuis,
faíscas vermelhas:
formas amorfas,
disformes,
multiformas.
Formam imagens
múltiplas, desconexas, sucesssivas...
Mas não se deixe cegar pelo que vês,
não se deixe enganar pelo que lhe a
parece.
Seu olho não vê magia:
tudo não passa de simples imagens.
Não há sonho, não há fantasia:
só ilusão.
Tudo heresia!
Relaxe e aproveite o brinquedo!
É apenas uma coisa,
um objeto
sem enredo.
Simples caleidoscópio,
sem segredo,
sem apelo.
Larguem essa postura
Simbolista do exagero!
Manoela Ferrari
Lá Embaixo o Tejo
Subi as escadas...
De madeira velha carvalho...
O corrimão gasto...polido...
Reflectia...quantas mãos...
Que por ali passaram ???
No patamar da janela...
Afastei a cortina...
Vi o Tejo...
Beijei-te manhã ladina
Disse-te Obrigado Sol...
Compraste-me uma romã...
Sorri...ao teu sorrir
E a janela fechou-se ...suave...
Para o nosso amor acontecer.
Luis
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Jardineiro
Jardineiro,
pode chegar
pegue as sementes
E comece a semear…
Bem na frente,
ponha o alecrim
Para espantar o mau-olhado
do jardim.
Na janela,
quero a flor-de-lis
Que seja branca,
ou então cor-de-anis.
No lado esquerdo,
quero a amoreira
Vêm andorinhas
e pardais
a tarde inteira.
Perto da porta,
ponha o guiné
para dar muita
sorte a quem vier.
Eloí Bocheco
Enquanto Lhe Espero
Amor, como é triste a dor da espera...
Só quem ama entende esta dor.
É uma dor que ora sinto no coração,
ora sinto na razão
e me pego lhe querendo
tanto... tanto!
É uma dor que não sei onde e como começa...
Se ela vem com seu amor ou com sua ausência...
como dói!!!
É uma dor que tem momento
que penso que não vou
suportar por mais tempo,
mas não me posso
permitir deixar de lhe amar...
Por todas as dores,
não quero nunca lhe perder:
mesmo que para isto,
ainda, venha sentir muitas
noites e dias esta dor,
que sozinha eu sinto!
Só quem ama saberá compreender como é esta dor;
hora de saudade,
hora de vontade,
hora de loucura,
hora de ternura,
hora de largar tudo para ir ao seu encontro,
ainda que para isso as dores que passarei sejam piores,
que as dores suas e sei que você não vai gostar...
Ai, que dor de tudo,
para lhe encontrar amor, que espero e me desespero!...
O seu amor, que traz as dores, traz meu amor ao vivo e a cores,
não se demore meu amor de todas as dores.
Amor!
Vera Jarude
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