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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A vida


A alvorada foi risonha;
Ergueste-te como o dia,
Eu fiz, naquela alvorada,
Uma alegre profecia.

Inda radiava fulgente
Vénus, a saudosa estrela,
Ja tu ornavas as trancas
E cantavas à janela.

E dos laranjais vizinhos
Os rouxinóis acordados
Respondiam-te com trino s
Da tua voz namorados.

Dos virentes jasmineiros,
Que a Primavera enflorava,
Vinha cheio de perfumes
O vento que te beijava.

Quem dissera então ao ver-te
Nessa risonha alvorada,
Que a noite, estrela cadente,
Serias inanimada?


Júlio Dinis

Canção Do Campo Vasto


Deixa-me amar-te com ternura, tanto
que nossas solidões se unam,
e cada um falando em sua margem
possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura, ambos
cavalgando mares impossíveis
em frágeis barcos e insuficientes velas,
pois disso se fará a nossa voz.

Ajuda-me a amar-te sem receio:
a solidão é um campo muito vasto
que não se deve atravessar a sós.


Lya Luft

CAETANO VELOSO - Cucurrucucu Paloma -

ANDREA BOCELLI - Caruso -

Aqui onde o mar brilha
E sopra forte o vento
Sobre um velho terraço
Em frente ao golfo de surriento
Um homem abraça uma garota
Depois de ter chorado
Depois clareou – se a voz
E recomeça o canto

Te quero muito bem
Mas tanto tanto bem, sabes?
É uma correia
Que já dissolve o sangue
Dentro das veias
Viu as luzes no meio do mar
Pensou nas noites lá na américa
Mas eram só as lâmpadas
E a branca faixa de uma hélice
Escuta a dor da música
Se levantar do piano
Mas quando viu a lua

Sair de uma nuvem
Pareceu – lhe mais doce também a morte

Olhou nos olhos da garota
Aqueles olhos verdes como o mar
Depois, de improviso saiu uma lágrima
E ele acredita de afogar

Te quero muito bem etc...

Potência na lírica
Onde o drama é uma mentira
Que com um pouco de maquiagem
E com a mímica
Pode tornar – se um outro
Mas dois olhos que te olham
Assim juntos e frios
Te fazem esquecer as palavras
Confundem os pensamentos
Assim torna tudo pequeno
Também as noites lá na américa
Mas se é a vida que termina
Mas ele não pensa tanto
Pelo contrário se sentia já feliz
E recomeçou o seu canto
Te quero tanto bem ...


Lucio Dalla

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CORES


Enquanto a gente é criança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.

E ele canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.

Depois... vai-se a Primavera...
É o tempo em que a gente cresce...
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!

E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Ilusão.

Mas esta, como a Alegria,
Nos foge... E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.

Nas ruínas da Mocidade
É quando pousa a saudade...


Auta de Souza

NO MEU CORAÇÃO


Há uma mistura
de sentimentos
Tímidos
Embaraçados´
Sâo poucos.

No meu coração
vão confundindo
o pensamento
E eu que tanto
tinha para dizer

Imobilizado
Eles,eles .
Suportam a vida,
Alimentam o sonho,
Movem o mundo,
.
Dão vida à vida,
Dão sonho ao sonho,
Fazem-me viajar
No meu coraçao
Sem emoçôes!...


Jorge Pereira

REGINA AZENHA - Versos e Quadras -



Sou um eterno sonhador,
disso eu tenho certeza,
vivo semeando amor
mesmo colhendo tristeza...



Vivo escrevendo versos
que falam de esperança;
mesmo já sendo mulher
tenho a alma de criança.



A saudade de ti, é tanta
é tormento e aflição
é onda do mar revolto
destruindo o coração.



Trouxe essas flores
para teu coração alegrar
elas representam o carinho
que tenho para te dar...



Teu sorriso é tão lindo
lembra a beleza da flor
parece um botão se abrindo
exalando perfume de amor...


Regina Azenha

A VIAGEM


Não vamos fazer planos, vamos apenas viajar
neste barco que nos recolheu
e cujo rumo não sabemos...

Não vamos fazer planos, vamos olhar as gaivotas,
os crepúsculos sobre o mar,
as ondas, as nuvens, os portos que amanhecerão,
agradecer ao destino que nos fez passageiros
do mesmo sonho.

Não vamos fazer planos, não vamos matar as nossas alegrias
modificando roteiros, se não sou o comandante do navio,
se ninguém é,
não vamos matar as nossas alegrias
com itinerários antecipados
como se fossemos turistas ricos
apenas gastando o seu tédio...

Não vamos fazer planos, vamos nos deixar levar
ao sabor das correntes,
vamos agradecer essa viagem como se fosse a primeira
como se fosse a última,
como se fosse aquela viagem há tanto tempo esperada,
que inacreditavelmente se tornasse
realidade...
E o porto onde chegarmos, - qualquer que seja o porto
ou o horizonte de mar que sempre se afastará,
serão o porto e o horizonte
da felicidade...


J. G.de Araújo Jorge

AMOS LEE - Southern Girl -

MASSIMO VARINI

PAULA FERNANDES

A Night In

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Não Há...


Não há
homem ou mulher que por acaso
não se tenha olhado ao espelho
e se surpreendido
consigo próprio.
Por uma fracção de segundo
a gente se vê
como a um objecto
a ser olhado.
A isto
se chamaria talvez
de narcisismo,
mas eu chamaria de:
alegria de ser.
Alegria de encontrar
na figura exterior
os ecos
da figura interna:
ah, então é verdade

que eu não me imaginei,
eu existo.


Clarice Lispector

Poetas Malditos


Malditos poetas, que disseram tudo
e tudo tão bem dito!
Malditos poetas, que me deixam mudo,
sem um ai, uma súplica ou um grito!
Raios os partam, cada qual maldito!
Malditos, que roçaram no seu voo,
com asas de veludo
o infinito!
Malditos poetas: Eu os abençoo…


Adolfo Simões Muller (poeta português)

O Sol Fechou O Dia


O sol fechou o dia
Sem mão nem chave;
A pouca luz que havia
Deu-a para uma ave.

Então a ave selou
Com seu sono seu ninho,
E a terra toda amou
na casa do passarinho.

Um ovo é como uma chave,
Mas só abre a vida às penas.
Apetece ser ave,
Ter as mágoas pequenas.


Vitorino Nemésio (poeta português)

Artemísia Gentileschi

Autorretrato - 1630

“Imaginem o período que vai de 1593 a 1653, em que o conhecimento do mundo ainda é limitado, o Papa tem poder absoluto e as mulheres não têm vez, nem voz. Foi quando viveu Artemísia, iniciada na arte da pintura pelo pai, Orazio Gentileschi.
Nascida em Roma em 1593, Artemísia Gentileschi é influenciada pela técnica claro/escuro que seu pai dominava com muito talento, aproximando-se muito da linha artística de Caravaggio, grande nome da pintura barroca.



Depois de receber os primeiros ensinamentos do seu pai e ante a impossibilidade de frequentar a Academia, seu pai entrega Artemísia aos cuidados do amigo e colaborador Agostino Tassi, que se torna seu professor de pintura. A jovem pintora fica, então, à mercê da cobiça de Tassi que a estupra, quando ela estava com 17 anos. Orazio leva o amigo aos tribunais, mas acaba por expor a filha de modo ultrajante à corte, à igreja e ao povo, frustrando, assim, seu futuro.
Sabe-se hoje que Tassi acabou por ser condenado a um exílio de Roma por um período de cinco anos. Este exílio durou apenas quatro meses, graças às influências que ele soube aplicar.



Neste quadro, o general assírio Holofernes é decapitado por Judith, que assim libertou o seu povo (judeu) do jugo dos pagãos. Judith é quase um auto-retrato da própria Artemísia: forte, vingadora e convicta. A degolação pode simbolizar a castração que ela certamente queria infligir ao seu abusador.


Artemísia conheceu os poderosos de Florença, como os Médici, foi amiga de Galileu, pintou para nobres de várias cidades. O silêncio que paira sobre ela talvez esteja encoberto pelo silêncio que ocultou durante anos outras grandes mulheres artistas. Não se sabe se ela perdoou o pai pelo julgamento a que foi submetida quando jovem. Seus quadros revelam, apenas, que Artemísia finalmente encontrou a paz.


Anos depois, superou o desejo de vingança sem abandonar os temas bíblicos e o apelo dramático característico de sua pintura. Acabou virando uma espécie de heroína contra o abuso do poder masculino e a favor da superação da mulher.”

PETER GABRIEL

JOE NICHOLS - I'ii Wait For You -

NOCTURNE

SECRET GARDEN - Prayer -

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poema Ao Amor

HURRICANE SMITH - Don't Let It Die -

Esta música é da década de 1970, animou muitos bailes, mas creio que pouca gente entendia o que HURRICANE SMITH estava cantando.Agora se vê que ele, há quase 40 anos atrás, já estava prevendo o que iriam fazer com o nosso mundo.
Assista o vídeo, veja a letra e “curta’ a ótima melodia na voz rouca de HURRICANE SMITH


22 Anos Sem Menotti del Picchia

Menotti del Picchia (São Paulo, 20 de março de 1892 — São Paulo, 23 de agosto de 1988) foi um poeta, jornalista, tabelião, advogado, político, romancista, cronista, pintor e ensaísta brasileiro.
Participante ativo da Semana de Arte Moderna de 1922. Viveu seus 96 anos intensamente.



HUMILDE SÚPLICA



Eu pederia,Senhor, um crepúsculo tranquilo.

Que delícia não ter mais nada que arrancar
à alma perder o tato para a carícia
e na boca neutra sentir inapetência
por todos os vinhos.

Eu já disse adeus a muitas coisas
mas de outras inda custa despedir-me.

Senhor, dai-me a ventura de ver descer a noite
sem me importar com as estrelas.

O tempo me dissolveu nas horas
e a treva e o silêncio já estão cheios de mim.

Nada me falta. Tenho tudo que já tive.

Deixai-me agora quieto
ouvindo com volúpia
um murcho cair de pétalas
de uma roseira que não dará mais rosas.


NIRVANA



Quisera ficar a teu lado
No grande êxtase pacífico
do nosso silêncio.
Continuar indefinidamente
o diálogo mudo dos nossos olhos.

Quisera
diluir-me em ti como um aroma no vento
como dois rios que fundem suas águas
no abraço do mesmo leito
e correm para o mesmo destino...

Somos duas árvores solitárias
que entrelaçam suas ramas:
à mesma brisa estremecem
florescem
envelhecem
e morrem...


QUE SABES DO FIM?



Goza a euforia do anjo perdido em ti.
Não indague se nossas estradas,
tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-o de estrelas...

No deslumbramento da ascensão,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta, canta...

Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um vôo,
no tempo, rumo ao céu?
Que importa a rota!
Voa e canta enquanto resistirem as asas...


POESIA É OURO



Onde está a poesia?

Na imaginação do garimpeiro
ainda oculta na pepita lasca de luz na quina da pedra bruta.

Ouro é ouro
mineral na terra, puro. Fundido
não degradado no amálgama embora sofisticado
em molde e moda
no brinco barroco na cintilação do dente
no céu de esmalte de uma boca jovem
concha aberta num sorriso.

Poesia é ouro
carregada de história no cunho da moeda antiga
mística na âmbula, sagrada no romance
do anel nupcial amor alegria sofrimento vida.

Não importa forma ou fôrma não importa o lugar
não importa
se jovem é o ourives ou velho o garimpeiro.

O que vale é a incontaminada essência.


Menotti del Picchia

TAB BENOIT


América Sister Golden Hair

LINDSAY LOHAN - Edge Of Seventeen -

domingo, 22 de agosto de 2010

Cartas de Amor...


Cartas de amor são escritas não para dar notícias,
não para contar nada, mas para que mãos separadas
se toquem ao tocarem a mesma folha de papel.


Rubem Alves

O Sopro Da Deusa


Me deleito no leito da poesia
a deusa que me acolhe com constância.
as outras, conforme a circunstância,
a fome de inventar o vento-amor.
sopro suas velas e ela se revela
em sua precariedade e seu esplendor.
é um rito que repito sem saber
se outra mão ampara a minha mão,
se sou ou se não sou conquistador
dessas conquistas feitas só de éter.
minhas palavras nunca foram minhas,
mas foram me forjando com sua força
até que me tornasse esse não-ser
feito de arquiteturas sem lugar
senão no reino-sonho que fundei.
essas palavras sopram-me presságios
e nelas plantarei os meus naufrágios.


Geraldo Carneiro

Conspirações


Alguma coisa se desprende do meu corpo
e voa
não cabe na moldura do meu céu.
sou náufrago no firmamento.
o vento da poesia me conduz além de mimo sol me acende
estrelas me suportam
Odisseu nos subúrbios da galáxia.
amor é o que me sabe e o que me sobra
outro castelo que naufraga
como tantos que a força do meu sonho
quis transformar em catedrais.
ilusões? ainda me restam duas dúzias.
conspirações de amor, talvez não mais.


Geraldo Carneiro

Lá Fora Faz Sol


Lá fora faz sol.
Não é mais que um sol
mas os homens olham-no
e depois cantam.
Eu não sei do sol.
Sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até a aurora
quando a morte pousa nua
em minha sombra.

Choro debaixo do meu nome.
Aceno lenços na noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Oculto cravos
para escarnecer meus sonhos enfermos.
Lá fora faz sol.
Eu me visto de cinzas.


Alejandra Pizarnik

SPRINGSTEEN & ELLIOT MURPHY - Bettet Days -

SINEAD O'CONNOR - The House Of The Rising Sun -

JOE NICHOLS