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sábado, 30 de junho de 2012

Chovia...Chovia...




Naquela tarde, como chovia!

Me lembro de que a chuva caia
lá fora
sem parar,
e seu surdo rumor até parecia
um sussurro de quem chora
ou uma cantiga de embalar...

Me lembro de que tu chegaste
inquieta, ansiosa,
mas logo te aconchegaste
em meus braços, quietinha...
(...enroladinha como uma gatinha...)

E eu quase não sabia que fazer:
se de encontro ao meu peito te deixava adormecer...
se te mantinha acordada, para seres minha...

Me lembro que chovia, chovia sem parar...
E que a chuva caía a turvar as vidraças
anoitecendo o quarto em tons baços...
Me lembro de que te sentia
aconchegada em meus braços...
Me lembro de que chovia...
E de que era bom porque chovia,
e porque estavas alí, e porque eu te queria...
Sim, me lembro que tudo era bom...
E que a chuva caía, caía,
monótona, sem parar,
naquele mesmo tom...

Naquela tarde, amor, como chovia!

Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu
em minha melancolia,
não posso mais ouvir a chuva cair
que não fique a lembrar tudo que aconteceu
naquele dia...

Naquele dia
enquanto chovia...


J.g. De Araújo Jorge

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Falando de Amor - Tom Jobim -



Se eu pudesse por um dia
Esse amor, essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia
Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Chora flauta, chora pinho
Choro eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor

Quando passas, tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol
Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro canção
Lá no fundo do meu coração


António Carlos Jobim (Poeta, compositor, músico brasileiro, 1927-1996)


terça-feira, 26 de junho de 2012

O Teu Olhar nos Meus Olhos



Sempre onde tu estás
Naquilo que faço
Viras-te agarras os braços

Toco-te onde te viras
O teu olhar nos meus olhos

Viro-me para tocar nos teus braços
Agarras o meu tocar em ti

Toco-te para te ter de ti
A única forma do teu olhar
Viro o teu rosto para mim

Sempre onde tu estás
Toco-te para te amar olho para os teus olhos.

Harold Pinter

domingo, 24 de junho de 2012

São João Sertanejo - Cordel -


Quando eu tive no sertão
Na casa de vó Maria
Era tempo de São João
Tempo de muita alegria.
A gente tomava banho
com uma cuia de cabaça,
Quando tinha gia e rã
Na cacimba era uma graça.

E quando era de noite
A gente se reunia
Pra brincar de cai no poço
De passeio e de cutia.
Brinca de roda e anel
Era tão boa a folia!
E de galhinho de amor,
Meu coração sofredor
Por alguém já se roía.

Era funaré danado
Quando a chuva caía:
Nós corríamos nas matas,
Por onde o córrego seguia,
Nós pescávamos traíra,
Curimatã e piaba
Pra de noite em fogo à lenha
A gente comer assada.

Então com os açudes cheio
Nós andavamos de canoa.
A mata cinza era verde,
Êta que vidinha boa!
E aos domingos nós íamos
Visitar muitas pessoas,
Gente que pisava milho
Ainda em meus ouvidos,
Àquela batida soa.

Assim chega o grande dia
A noite tão esperada,
Na casa da Vó Maria
A banda já se instalava.
Eu olhava para as serras
Pras veredas encravadas.
A mata tão colorida,
Que tanta gente bonita,
Que pro forró já chegava.

Então foi às sete horas
Que a sanfona começou.
A fogueira estalava,
No terreiro, sim senhor.
O povo todo dançando,
Gonzagão a entoar.
Êta que festança boa,
Eu gritava pras pessoas
Quero me mudar pra cá.


Manoel Messias Belizario Neto