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sexta-feira, 18 de setembro de 2009
NA LEVEZA DO LUAR CRESCENTE
NA LEVEZA DO LUAR CRESCENTE
na
leveza do luar crescente
sobe
a ilusão da felicidade
que
teu gesto distraído
me dá
como se
plumas vogando suaves
na brisa
fossem
vida de pássaro apodrecendo
na
leveza do luar crescente
Arlindo Barbeitos
PLOFT
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
POUSAS A CABEÇA
POUSAS A CABEÇA...
Pousas a cabeça num travesseiro que ficou na infância.
Pedes a alguém que acenda a noite.
O ofegar de um paraíso onde caem uma por uma as lendas...
Houve ontem? haverá amanhã? - eis renascem de teus pés
rotos sapatos, desencantada música, um ou outro arrepio
de mão insensata colhendo flores que não desabrocham nunca.
Alphonsus de Guimaraens Filho
A MÚSICA
A MÚSICA
Arrasta me por vezes como um mar, a música!
Rumo à minha estrela,
Sob o éter mais vasto ou um tecto de bruma,
Eu levanto a vela;
Com o peito prá frente e os pulmões inchados
Como rija tela,
Escalo a crista das ondas logo amontoadas
Que a noite me vela;
Sinto vibrar em mim as inúmeras paixões
De uma nau sofrendo;
O vento, a tempestade e as suas convulsões
Sobre o abismo imenso
Embalam me. Outras vezes é a calma, esse espelho
Do meu desespero!
Charles Baudelaire
...escrevi....
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
SERENATA
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecília Meireles
QUEIXUMES
QUEIXUMES
Versos apaixonados ao som duma lira
O amor, com doçura leva meu canto;
Pelos olhos azuis, que te desejam tanto
Derretendo o coração, soluça e suspira.
Audaz sonhadora, essa que aspira
Dos teus mimos, o sonho, a ventura,...
Infundi-me em extremos de ternura,
Sentimentos que ao tempo perdura.
Dizes para não amar! Eu clamo e amo,
Bradando lamentos, lágrimas derramo...
Onde deixaste os sonhos do amor?...
Contudo, em mim, o amor perdura
Ao celeste céu, por benignos lumes,
Amando, com ardor, teus queixumes.
Efigênia Coutinho
terça-feira, 15 de setembro de 2009
MIUDEZAS
Miudezas
Percorro todas as tardes um quarteirão de paredes
nuas.
Nuas e sujas de idade e ventos.
Vejo muitos rascunhos de pernas de grilos pregados
nas pedras.
As pedras, entrentanto, são mais favoráveias a pernas
de moscas do que de grilos.
Pequenos caracóis deixaram suas casas pregadas
nestas pedras.
E as suas lesmas saíram por aí à procura de outras
paredes.
Asas misgalhadinhas de borboletas tingem de azul
estas pedras.
Uma espécie de gosto por tais miudezas me paralisa.
Caminho todas as tardes por este quarteirões
desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza
Se estou percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim.
Manoel de Barros
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
DEPOIS DE TUDO
PEDRA FILOSOFAL - António Gedeão
Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
(...)
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão
domingo, 13 de setembro de 2009
Meninazinha...
"Meninazinha bonita dos olhos ingênuos e grandes,
uma vez na ciranda eu perdi tua mão...
Sinto ainda fugir-me à flor da pele, aflita,
sua desesperada e última pressão!
E a vida continuou, ora em lenta pavana.
ora numa quadrilha, em tonta confusão.
Quantas vezes julguei, mas foi sempre ilusão,
viver aquela hora, entre as horas bendita,
que uniu palma com palma e alma contra alma...
Mas que busco afinal, que miragem acalma
tão inquieta procura em um mundo já findo?
Porém, o mundo não é só o que se vê.
Talvez um dia eu morrerei sorrindo,
e só os anjos saberão por quê!"
Mario Quintana * Baú de Espantos *
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