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sábado, 15 de maio de 2010

LABIRINTO OU NÃO FOI NADA


Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua ...
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.


David Mourão-Ferreira
In: À Guitarra e à Viola

A ÚLTIMA FOLHA


Espero que este brilho
Em teus olhos
Não sejam piedade.
Fiz tudo para me manter afastada
Os dias passam.
Hoje eu sei - não esquecerei!

Curioso como as coisas
Vivem e morrem.
Quando todas as folhas caírem
Sobreviverei a tempestade.

Norte. Sul. Leste. Oeste.
Qual o caminho?!
O que farei de mim
Quando fores passado?

A vida e a morte seguem
O verbo que sibila,
Na última folha
Que o vento balança,
No inverno inexorável da vida
Que chega e avança!

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OSWALDO MONTENEGRO - Lua e Flor -

LADIES IN LAVANDER

EZ SPECIAL - Sei Que sabes Que Sim -

PERDIDO NO CAMINHO


Madrugada fria, e impávida
soam as horas na escuridão
não há alma, não há dádiva
para um leito feito de solidão

Perdido do caminho
ninguém te segura
caminhas sozinho
com a tua amargura

Nas entranhas da cidade
as lembranças do passado
embriaguez sem vaidade
de uma vida sem cuidado

Mão estendida ao vento
para a gente do mundo
dignidade num tormento
de um olhar moribundo


by Jorge Pereira

EPITAPH

FENTON ROBINSON - Mellow Fellow -

OS ANJOS DE SODOMA


Eu vi os anjos de Sodoma escalando
um monte até o céu
E suas asas destruídas pelo fogo
abanavam o ar da tarde
Eu vi os anjos de Sodoma semeando
prodígios para a criação não
perder o ritmo de harpas
Eu vi os anjos de Sodoma lambendo
as feridas dos que morreram sem
alarde, dos suplicantes, dos suicidas
e dos jovens mortos
Eu vi os anjos de Sodoma crescendo
com o fogo e de suas bocas saltavam
medusas cegas
Eu vi os anjos de Sodoma desgrenhados e
violentos aniquilando os mercadores,
roubando o sono das virgens,
criando palavras turbulentas
Eu vi os anjos de Sodoma inventando a
loucura e o arrependimento de Deus

Roberto Piva(in:
Paranóia, 1963)

INDIFERENÇA


Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!


Guilherme de Almeida

SERENIDADE


Serenidade. Encantamento.
A alma é um parque sob o luar.
Passa de leve a onda do vento,
Fica a ilusão no seu lugar.

Vem feito flor o pensamento,
como quem vem para sonhar.
Gotas de orvalho. Sentimento.
Nevoas tenuíssimas no olhar.

Tombam as horas, lento, lento,
como quem não nos quer deixar.
Êxtase. Vésperas. Advento.

Ouve! O silêncio vai falar!
Mas não falou... Foi-se o momento...
E não me canso de esperar.


Henriqueta Lisboa

NORMAN BROWN - Serenade -

RARE EARTH - I Just Want To Celebrate -

SMOOTH JAZZ -

sexta-feira, 14 de maio de 2010

AMOR E MEDO


Estou te amando e não percebo,
porque, certo, tenho medo.
Estou te amando, sim, concedo,
mas te amando tanto
que nem a mim mesmo
revelo este segredo.


Affonso Romano de Sant'Anna,1970

VOCÊ


Você...Você é tudo o que eu queria...
Tudo o que anseio que a ilusão me dê...
O meu sonho de amor de todo dia
Que nos meus olhos úmidos se lê...
Minha felicidade fugidia,
O meu sonho é você.....
Você...Você é a própria poesia
De tudo quanto em volta a mim se vê.
Se Deus quisesse dar-me certo dia
Tudo aquilo que eu quero que me dê,
Eu, sem pensar ao menos, pediria
Que me desse você!
Sonhos... glória imortal... seria um louco
Pedir tanta ilusão... Não sei por que,
Mesmo a ventura, que possuo tão pouco,
E tudo o mais que a vida ainda me dê,
Fortuna...amor...tudo eu daria, tudo,
Por você!
É que você tem todos os venenos...
É que seus lábios têm um não sei quê...
Os olhos de você são dois morenos
Que andam fazendo à noite cangerê...
Por tudo isso, eu pediria, ao menos,
Um pedacinho de você!


Judas Isgorogota

QUANTAS PESSOAS....

A CERTEZA E A DÚVIDA


Buda estava reunido com seus discípulos certa manhã, quando um homem se aproximou:
- Existe Deus? - perguntou.
- Existe - respondeu Buda.
Depois do almoço, aproximou-se outro homem.
- Existe Deus? - quis saber.
- Não, não existe - disse Buda.
No final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta:
- Existe Deus?
- Você terá que descobrir - respondeu Buda.
Assim que o homem foi embora, um discípulo comentou, revoltado:
- Mestre, que absurdo! Como o Senhor dá respostas diferentes para a mesma pergunta?
- Porque são pessoas diferentes, e cada um chegará à resposta por seu próprio caminho.
O primeiro acreditará em minha palavra. O segundo fará tudo para provar que estou errado. E o terceiro só acredita naquilo que é capaz de provar por si mesmo.

PALAVRA


Palavra...é arma contundente,
resposta pronta da hora certa,
é flor que anima o descontente,
é chamativa e o desperta.

Palavra há, que move moinhos,
tritura o duro e maior grão...
sensatez, que abre caminhos,
num empedernido coração!

A palavra que fere, dói e mata
é voz dita, da ira d' alguém,
é profanação que arrebata...

E, eu achei no beiral da razão,
palavras caídas e já gastas,
deitei fora...joguei-as ao chão!


JP

ENTRE O LUAR E O ARVOREDO


Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.
Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.

Fernando Pessoa

THE CRANBERRIES - When You're Gone -

LISA GERMANO -

EU NÃO VOLTAREI


Eu não voltarei.
E a noite morna, serena, calada,
adormecerá tudo,
sob sua lua solitária.

Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

Ignoro se alguém me aguarda
de ausência tão prolongada,
ou beija a minha lembrança
entre carícias e lágrimas.

Mas haverá estrelas,
flores e suspiros e esperanças,
e amor nas alamedas,
sob a sombra das ramagens.

E tocará esse piano como nesta noite plácida,
não havendo quem o escute,
a pensar, nesta varanda.


Juan Ramón Jiménez,1930
(Tradução de Pedro Vargas)

LAMENTO


Sono e morte, as tenebrosas águias
Rodeiam a noite inteira essa cabeça:
A imagem dourada do Homem
Engolida pela onda fria
Da eternidade. Em medonhos recifes
Despedaça-se o corpo purpúreo
E a voz escura lamenta
Sobre o mar.
Irmã de tempestuosa melancolia
Vê, um barco aflito afunda
Sob estrelas,
Sob o rosto calado da noite.


Georg Trakl,1910
(Tradução de Alexandre Humell)

HOJE ESTOU TRISTE


Amor... Hoje estou triste... Nesses dias
a vida de repente se reduz
a um punhado de inúteis fantasias...
... Sou uma procissão só de homens nus...

Olho as mãos, minhas pobres mãos vazias
sem esperas, sem dádivas, sem luz,
que hão semear vagas melancolias
que ninguém vai colher, mas que compus...

Amor, estou cansado, e amargo, e só...
Estou triste mais triste e pobre do que Jó,
- por que tentar um gesto? E para quê?

Dê-me, por Deus, um trago de esperança...
Fale-me, como se fala a uma criança
do amor, do mar, das aves... de você!


J. G. de Araújo Jorge, 1969

O AMOR E O TEMPO


Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!


António Feijó

ALICE IN CHAINS & PEARL JAM - Alone -

FAITH NO MORE - Everythings Ruined -

THE CRANBERRIES - I Can't be With You -

quinta-feira, 13 de maio de 2010

MARILYN (ZINHA)

DESENGANOS


As flores sempre se vão,
E os espinhos sobrevivem,
Em qualquer estação,
Portanto, se esse amor sobreviver
A tantos desenganos;
Viverá entre as coisas
Que não esqueci.
E são tantas... As coisas
Que não esqueci!
E são tantas...as coisas
Que me ferem ao serem lembradas,
E são tantas ...as coisas
Que foram tempo perdido,
E são tantos... Os meus pedaços.
E são tantas...as chagas
Por onde sangro.
Se esse amor sobreviver
A este desengano;
Viverá entre os escombros
De sentimentos mal resolvidos,
Dentro dos paradoxos de sentir.
Viverá entre as coisas
Largadas no fundo do meu peito,
Porem, nunca esquecidas completamente.
Viverá dentro dos meus
Mais belos e amargurados sonhos.

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DAVID LINDELY & RY COODER - Sidh Beag Agus Sídh Mór -

RY COODER - Crazy Bout An Automobile -

CHARGE

ALFORRIA

Fotografia de Sebastião Salgado
- 13 de maio –

Senzala tem nome gentil: periferia.
Correntes? Não! Agora eu uso bolsa-esmola.
Não sou escrava, tenho, até, cidadania...
Só falta emprego, casa, pão e boa escola.

Não sou mais negra. Hoje sou afrodescendente,
deram-me cotas para ascensão social.
E nas novelas? Já deixei de ser servente...
Semidesnuda, eu sou rainha: é carnaval!

A cada dia, a vida bate à nossa porta,
mostrando a força onipotente do racismo;
nosso sofrer, à pele clara, pouco importa...
Pra eles, tudo... Para nós, só eufemismo.

Dona Isabel, muito obrigada, não deu certo,
aqui vivemos, sem ser parte da nação.
Nosso amanhã, sem segurança... É tão incerto...
Diz, brancamente: não findou a escravidão!


- Patrícia Neme -

CURATIVOS PARA UM CORAÇÃO PARTIDO



Hoje, acordei sentindo uma grande dor no peito. Sentei-me ao pé da cama, coloquei minha mão sobre meu peito e perguntei ao meu coração:
─ O que você tem? Porque está tão inquieto dentro de mim? Você está doente?
Fiquei uns minutos em silêncio e aí foi minha alma a começar a ficar inquieta. Perguntei a ela:
─ O que tens? Porque se atormenta dentro de mim?
Minha alma disse:
─ Estou assim porque você está assim; você me faz perguntas, mas não tenho as respostas e sei que isso o faz infeliz. Você se sente tão pequeno e isso me faz pequena também. Você queria ser diferente e eu fico triste por você. Você está tão só, e eu me sinto só sem você.
Mais uma vez tornei a ficar em silêncio. E foi aí que meu coração, meio confuso, me respondeu:
─ Estou tão triste. Sinto-me tão pequeno. Estou magoado com você!
Fiquei sem jeito e perguntei:
─ O que foi que eu te fiz?
Ele respondeu:
─ Você sofre tanto com as pessoas; preocupa-se com elas, é atencioso, procura ser prestativo e na maioria das vezes, sempre se decepciona. Você ama e depois sofre e fala que a culpa é minha. Você espera por algo que não vem e fica triste. Aí você chora e dói em mim. Preciso de curativos para um coração partido. Curativos bons.
Perguntei ao meu coração:
─ Como assim bons?
Ele respondeu:
─ Curativos que estanquem essa sua tristeza, essa sua mágoa, essa sua solidão. Que estejam com você nos dias frios e nas noites vazias, nos dias de tempestade e nas horas que você se sentir só. Que eles sejam tão grandes que possam envolver seu corpo em um abraço cheio de ternura e que você se sinta seguro e amparado. Curativos que te façam sentir o quanto você é especial e amado, mesmo que você nunca tenha sentido esse amor, nem de seus próprios pais. Preciso de bons curativos, que não sejam eternos, afinal nada é para sempre, mas, que não sejam descartáveis. Curativos que absorvam esse sofrimento, essa dor. Essa ferida que não se vê, apenas se sente. Que sejam fortes, e a prova d’água, para que não se estraguem com suas lágrimas, que sejam macios, para poder te fazer carinho nos dias em que você se sentir carente. Curativos que, acima de tudo, nunca a decepcionem, prometendo coisas que não cumpram. Curativos companheiros e sinceros, que se importem realmente com você. Não quero pena, quero amor. Amor de verdade. Preciso que você também se ame e prometa que vai procurar cuidar mais de mim. Sou parte de você e se você sofre, eu sofro também. Queria poder colocar você dentro de mim, secar suas lágrimas, ninar você. Dizer-te que tudo vai passar e te proteger das decepções da sua vida, afinal você já sofreu tanto, que não sei como ainda consigo bater forte em seu peito! Você é especial. Pena ninguém perceber isso!

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FOTOGRAFIA

Esta foto que já correu o mundo, foi tirada em Portugal.

THE CRANBERRIES - Just My Imagination -

CRANBERRIES - Dreams -

THE CRANBERRIES - Zombie -

POEMAS DE RUA






Em 3-D, numa rua longe - demais - de mim...

UM EU


Quando eu nasci
Ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias
Nem o Sol escureceu
Nem houve estrelas a mais…

Somente,
Esquecida das dores,
A minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
Não houve nada de novo senão eu.

As nuvens não se espantaram,
Não enlouqueceu ninguém…

Para que o dia fosse enorme,
Bastava
Toda a ternura que olhava
Nos olhos de minha Mãe…


(Sebastião da Gama)

SONHOS DE CRIANÇA


É tão bom
cultivar
sonhos inocentes
que tanta alegria
nos trazem...

Lembrando
da infância,
meu coração,
volta a ser criança
e começa a brincar...

Faz um aviãozinho
de papel
para cruzar os céus
e o meu carinho
te levar...


Regina Azenha

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ALPHABEAT - Boy Friend -

ALPHABEAT

HOTÉIS EXÓTICOS

Hotel flutuante, Suécia:

Neste hóspedes do hotel podem trabalhar e conviver de uma forma muito interessante, desfrutar de comida e bebida, e dormir ao som das ondas.





Sand Hotel, Inglaterra
O primeiro hotel no mundo de areia na praia de Weymouth, em Dorset.





Hotéis de selva, México

Quartos de hotel com um cofre escondido na selva, está localizado perto da aldeia de Yelapa, México.





Capsule Hotel no Japão

Modern hotel onde o quarto está limitado ao tamanho de um bloco de plástico com espaço suficiente para dormir.





Hotéis no bunker para a sobrevivência, Holanda

Este hotel está em um bunker ancorado em um canal em Amsterdã
.




Hotéis na caverna, Turquia

Oferece uma atmosfera fantástica e perfeitamente exóticas.





Hotel em madeira, Índia

Refúgio na selva, que oferecem uma experiência de vida maravilhosa.





Underwater Hotel, Fiji

O primeiro hotel subaquático do mundo está localizado em uma ilha particular em Fiji. Este hotel oferece uma aventura com acomodações de luxo.


REFLETINDO...

SILÊNCIO



"As grandes verdades só se comunicam através do silêncio."

FALANTES



"Numa sociedade de falantes e, normalmente, de grandes algazarras, a gestão do silêncio, é dos actos mais difíceis para bem administrar."

NECESSIDADES...


Talvez as necessidades emocionais mais profundas sejam os tijolos e o cimento com que construímos as nossas ilusões."

A VIDA


A vida pode vestir várias indumentárias.
Contudo, despida é sempre igual...


FOTOGRAFIA


O fotógrafo é aquele que desistiu de pintar e
começou a desenhar com luz...


A FÓRMULA DA FELICIDADE


Minhas senhoras e meus senhores...
Essa é a fórmula da felicidade

OFÍCIO DE INTENSIDADE E CALMA



Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz

E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria

E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo

Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios.


António Ramos Rosa,
"Poemas Inéditos"

LISA GERMANO - From A Shell -

LISA GERMANO - A Million Times -

A CASA DO JUÍZO


(...)
E o Homem respondeu e disse: "Tudo isso eu fiz."
E Deus fechou o Livro da Vida do Homem e dissse: " Por certo que te mandarei para o Inferno. Mesmo para o inferno te mandarei."
E o Homem gritou: "Não podes."
E Deus disse ao Homem: "Por que não te posso eu mandar para o Inferno, e por que razão?"
"Porque no Inferno tenho eu sempre vivido" respondeu o Homem.
E houve silêncio na Casa de Juízo.
E depois de um tempo Deus falou e disse ao Homem: Visto que não te posso mandar para o Inferno, por certo te mandarei para o Céu. Mesmo para o Céu te mandarei."
E o Homem clamou: " Não podes."
E Deus disse ao Homem: " Por que não te poderei eu mandar para o Céu, e por que razão?"
"Porque nunca e em nenhum lugar pude imaginá-lo" respondeu o Homem.
E houve silêncio na casa de Juízo.


excerto de poema em prosa de Oscar Wilde, traduzido por Fernando Pessoa e publicado na revista Egoísta, Número especial de Junho de 2008, dedicado a Fernando Pessoa.

POBRE VELHA MÚSICA


Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.


Fernando Pessoa

ANA CAROLINA - Poema de Desculpas -

WANDO - Você é Luz, Raio, Estrela e Luar -

DOLLY PARTON & JULIO IGLESIAS - When you tell me that you love me

terça-feira, 11 de maio de 2010

MEU AMOR É FORTE




Meu amor é forte
Qual escultura de concreto
É reto.
Caminha léguas
Transpõe montanhas
Navega mares
É erva de raiz forte
Nunca reconhece a morte.

Meu amor é brisa
Leve tal qual pluma rara
É livre.
Flutua suavemente
Baile de borboletas
Revoada de andorinhas
É todo ele harmonia
Minha mais lúcida fantasia.

Luciana Silveira

ASAS


Gosto de ver
Os pássaros a voar
Voam , voam
E depois vão-se embora
Fico aqui sozinho
E a noite ainda demora
Ficou o céu vazio
Tão vazio como eu
E azul como aquele rio
E não são só os pássaros
A deixarem-me sozinho
Os sons harmoniosos
De pequenas e únicas sinfonias
Para os meus ouvidos curiosos
Levanto-me lentamente
E sigo o meu caminho
Os pássaros voltam
Não têm mais para onde ir.


by Jorge Pereira

PENSAR EM SEU AMOR


Pensar em seu amor. . . Estar sozinho,
num canto de varanda que olhe o mar . . .
Olhe a montanha. . . Um longe de caminho. . .
Céu distante onde os olhos repousar,
e pensar. . .

Seja o que for – Ter uma nuvem leve
no coração. . . Ou chama a crepitar,
a saudade de um beijo. . . um gesto breve. . .
Tudo isso com a nossa alma, recordar
só a nossa alma! . . .
E oh, doce bem ! Pensar. . .


Adelmar Tavares

ODYLO COSTA FILHO


Odylo Costa, filho, jornalista, cronista, novelista e poeta, nasceu em São Luís, MA, em 14 de dezembro de 1914, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de agosto de 1979. Eleito em 20 de novembro de 1969 para a Cadeira n. 15, na sucessão de Guilherme de Almeida, foi recebido em 24 de julho de 1970 pelo acadêmico Peregrino Júnior.
Filho do casal Odylo Costa Moura Costa e Maria Aurora Alves Costa, transferiu-se ainda criança do Maranhão para o Piauí, onde fez estudos primários e secundários em Teresina, os primeiros no Colégio Sagrado Coração de Jesus e os segundos no Liceu Piauiense. Desenvolveu, assim, dupla afetividade de província, fraternalmente desdobrada entre as duas cidades, e estendida a Campo Maior, no Piauí, onde nasceu sua mulher, D. Maria de Nazareth Pereira da Silva Costa, com quem se casou em 1942, sob a bênção de três poetas: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade, padrinhos do casamento. Mas já aos 16 anos, em março de 1930, Maranhão e Piauí ficaram para trás e Odylo Costa, filho, em companhia dos pais, fixou-se no Rio de Janeiro, bacharelando-se em Direito, pela Universidade do Brasil, em dezembro de 1933. Desde os 15 anos, porém, já se revelava no jovem maranhense a vocação de jornalista, que encontrou, aliás, seu primeiro abrigo no semanário Cidade Verde, de Teresina, fundado em 1929. Por isso mesmo, em janeiro de 1931, conduzido por Félix Pacheco, entrou Odylo para a redação do Jornal do Commercio, onde permaneceu até 1943. O jornalismo, entretanto, embora ocupando boa parte de sua atividade intelectual, não o fazia esquecer a literatura e, em 1933, com o livro inédito Graça Aranha e outros ensaios, publicado no ano seguinte, obtinha o Prêmio Ramos Paz da Academia Brasileira de Letras. Em 1936, em colaboração com Henrique Carstens, publica o Livro de poemas de 1935, seguido, nove anos mais tarde, do volume intitulado Distrito da confusão, coletânea de artigos de jornal em que, nas possíveis entrelinhas, fazia a crítica do regime ditatorial instaurado no país em 1937. Mas o jornalismo, apesar desses encontros sempre felizes com a literatura, foi na verdade sua dedicação mais intensa, exercido com notável espírito de renovação e modernidade. Deixando o Jornal do Commercio, Odylo Costa, filho, foi sucessivamente fundador e diretor do semanário Política e Letras (de Virgílio de Melo Franco, de quem foi dedicado colaborador na criação e nas lutas da União Democrática Nacional); redator do Diário de Notícias, diretor de A Noite e da Rádio Nacional, chefe de redação do Jornal do Brasil, de cuja renascença participou decisivamente; diretor da Tribuna da Imprensa; diretor da revista Senhor; secretário do Cruzeiro Internacional; diretor de redação de O Cruzeiro e, novamente, redator do Jornal do Brasil, função que deixou em 1965, ao viajar para Portugal como adido cultural à Embaixada do Brasil. Mas nem sempre, ao longo dessa extraordinária atividade, foi apenas o jornalista de bastidores, o técnico invisível. Em 1952 e 1953, exerceu a crítica literária no Diário de Notícias, onde também criou e manteve a seção "Encontro Matinal", juntamente com Eneida e Heráclio Salles. Durante prolongado período, publicou uma crônica diária na Tribuna da Imprensa.

SONETO DA FELICIDADE


Não receies, amor, que nos divida
um dia a treva de outro mundo, pois
somos um só, que não se faz em dois
nem pode a morte o que não pode a vida.

A dor não foi em nós terra caída
que de repente afoga mas depois
cede à força das águas. Deus dispôs
que ela nos encharcasse indissolvida.

Molhamos nosso pão quotidiano
na vontade de Deus, aceita e clara,
que nos fazia para sempre num.

E de tal forma o próprio ser humano
mudou-se em nós que nada mais separa
o que era dois e hoje é apenas um.

SERENIDADE

Meu coração é hoje um mar moreno
onde brincam sereias inocentes.
Peixes cegos do mar que o desnorteiam
calaram sua luz fosforecente.

Mesmo os mortos que pensam no meu sangue,
e me fazem andar torto de um lado,
ajudam-me a marchar, leve lembrança,
numa respiração transfigurada.

Afundo aos pés sem vê-los nos sargaços,
com os olhos postos longe, onde nem asas
cortam silêncios pelo céu que dorme.

Vem comigo nos barcos uniarbóreos.
Espera-nos a máquina do mundo
entre o folguedo astuto das baleias.


AMOR CALADO

Ainda que o canto desça, de atropelo
como abelhas no enxame alucinante
em torno a um tronco, e me penetre pelo
ouvido, em sua música incessante,

Juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo.
Hei de fechá-lo em mim como diamante
dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo
na minha alma cansada e navegante.

E nunca mais proclamarei que te amo.
Antes o negarei como os namoros
secretos de menino encabulado.

Que se cale este verso em que te chamo.
Cessem para jamais risos e choros.
Meu amor mineral é tão calado!

OFERTA

Trago-te alegrias
que tristezas não:
grito de arapongas
despertando a aurora,
rosas cor-de-rosa
filtradas na fonte,
madrugadas quietas
a florir em trens,
nuvens acordadas
no rumor das asas,
água de riacho
nas mãos pequeninas
pressentindo a tarde,
castelos de areia
sob os buritis,
xexéus assobiando
gargalhadas finas,
galos-de-campina
de canto solar,
cores de tucano
recortando o ar,
carne adivinhada
pela solidão ...
Assim o menino
pressabia lúcido
que lhe descerias
sobre seu destino
e juntava os risos
da manhã nascente
para as amarguras
de uma vida inteira
a fim de criar
sobre a dor mais funda
uma escancarada
frágil alegria
para te trazer
só para te amar,
a pura alegria,
tênue, transparente,
feita só de vôo,
feita só de areia,
feita só de riacho,
feita só de mar ...


Odylo Costa Filho
In Cantiga incompleta