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sábado, 17 de abril de 2010

CARL AUGUST SANDBURG


Carl August Sandburg (6 de Janeiro de 1878 – 22 de Julho 1967), foi poeta, historiador, novelista e folclorista estadunindense. Nasceu em Galesburg, Illinois de uma família de suecos e morreu em Flat Rock, Carolina do Norte. Tornou-se conhecido por suas poesias e sua biografia de Abraham Lincoln, pelas quais recebeu o
Prêmio Pulitzer.

NÃO HAVERÁ ARREIOS



Não há arreios em uma língua
Por onde os homens possam segurá-la
E marcá-la com sinais para sua recordação.
É um rio, essa língua,
A cada mil anos
Abrindo um novo rumo
Mudando seu caminho para o oceano.
São eflúvios de uma montanha
Descendo para os vales
E de nação em nação
Cruzando fronteiras e se misturando.
As línguas morrem como os rios.
As palavras que hoje envolvem sua boca
E são partidas em forma de pensamento
Entre seus dentes e lábios que falam
Agora e hoje
Serão hieróglifos desbotados
Daqui a dez mil anos.
Cante – e cantando – lembre-se
Sua canção morre e se transforma
E não estará mais aqui amanhã
Não mais que o vento
Soprando há dez mil anos atrás.


POEMA


Quero-te como as raízes secas
desejam a chuva
no verão

como o vento deseja
as folhas
do chão

e perdoa
dizer tudo isto tão
depressa.


Carl Sandburg,1959
(Tradução de Vasco Neto).

SONETO XLIX


É hoje: todo o ontem foi caindo
entre os dedos e os olhos de sono leve,
amanhã chegará com passos verdes:
Ninguém pára o rio da aurora.

Ninguém pára o rio de suas mãos,
os olhos de seu sonho, meu amor,
tremor é o tempo de atraso
entre a luz vertical e sol sombrio,

e o céu abre as asas sobre você
levá-lo e trazê-lo em meus braços
com cortesia, oportuna misterioso

Então eu canto um dia e da lua
o mar, o tempo, todos os planetas,
sua voz para o seu dia a pele e noite.


Pablo Neruda

Dr HOOK - Turn On The Word -

ILUSÃO PERDIDA


Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.

Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado

na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,

agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.


Pablo Neruda, in 'Cadernos de Temuco'

SYD BARRET - Golden Hair -

OS PECADOS DO MUNDO


Outro anjo algum dia há de chegar
E assim que ao meu lado adormecer
com meus dentes,suas asas vou arrancar

Outro anjo algum dia chegará...

Rezarei para lua aparecer mais cedo
pois é nessa hora que sua língua
no céu da minha boca estará vagando

Algum dia outro anjo dia chegará...

E com meus lábios seus negros cabelos vou beijar
Nessa hora,mais do que nunca a lua há de brilhar
louca de inveja, vai querer aparecer

Mas esse anjo, quando chegar...

não terá mais olhos para mais ninguém, senão para mim
Pois quando ele me possuir, nosso prazer será infindo
Perderemos os sentidos em um gozo tão profundo

que nessa hora,serão perdoados todos os pecados desse mundo


Karla Julia

JOE MCLAUGHLIN - Already In -

JOE MCLAUGHLIN - So Close -

TEU SORRISO DE SOL


Vieste na brisa da noite
como o poder sutil
modificando preceitos
seduzindo-me ao amor

Teu sorriso de sol
invadiu meus sonhos
no vôo dos cânticos
entoados como fados

E na cor da emoção
ofuscaste o brilho dos astros,
dos anjos, da luz,
sob a forma magnética
da imagem de um deus
desconhecido e desejado!


Conceição Bentes

SERIA AMOR?



Posso ser o amor dos teus sonhos
que brinca na areia do tempo
inerte a galopar na brisa
no inverno que me paralisa

Estarei na tua alegria
que saúda as estrelas,
na fé que proclama o sol
ou na chama da vida
que rege meu ser

Serei teu poema
com asas do verão,
sentindo o milagre da criação,
uma chama adormecida
que dança e reluz
entregue às procelas dos teus entrelaces
sem contemplar a razão


Conceição Bentes

sexta-feira, 16 de abril de 2010

LAGES - SC -

Hoje estou abrindo o tópico “SANTA E BELA CATARINA” ,onde mostrarei as belezas do meu Estado.Para iniciar escolhi a cidade onde nasci,Lages.



LOCALIZAÇÃO



Lages é um município brasileiro da região sul, localizado no estado de Santa Catarina. A cidade média possui 167.805 habitantes e faz parte da região serrana do estado. Lages é a maior cidade em área do estado catarinense.


Fundada em 1766 pelo bandeirante paulista Antonio Correia Pinto de Macedo, Lages servia inicialmente como estalagem para a rota comercial entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, principalmente na passagem do gado dos campos gaúchos para abastecer os trabalhadores da extração de ouro em Minas Gerais.



Correia Pinto batizou-a assim devido à abundância da pedra laje na região. Há quem diga que seu nome era Nossa Senhora dos Prazeres dos Campos das Lajes de Pedra.
Ereta em vila, pelo governador de São Paulo Luís António de Sousa Botelho Mourão, Lages teve seu território transferido da capitania de São Paulo para a capitania de Santa Catarina, por D. João VI, por alvará de 9 de setembro de 1820.



Durante a Revolução Farroupilha, Lages pertenceu ao Estado do Rio Grande do Sul.Por esse motivo preserva as tradições gaúchas.




Lages também caracteriza-se por ter altitude bem elevada, de 850 a 1500 metros. No inverno é comum ocorrerem geadas e neve.
Seu relevo é plano. A vegetação predominante é a de campos e de mata de araucária. No interior, pode-se observar a presença da coxilha, campo cheio de elevações baixas ou altas (menores que um cerro).


O clima é subtropical, com temperatura média de 14,3°C.
Temperatura máxima: 36°C.
Temperatura mínima: -7,4°C
Umidade relativa do ar: Média anual de 79,3%.





A economia lagena é basicamente sustentada pela pecuária, agricultura, indústria madeireira (com destaque na produção de papel e celulose) e turismo rural, atualmente ocorre uma grande expansão de vitivinícolas na região, da qual está surgindo um novo tipo de turismo, o Eno Turismo. A região começa a produzir vinhos com qualidade mundial.
No período do inverno, o comércio é bastante incentivado com o turismo rural e com a Festa Nacional do Pinhão, o segundo maior evento gastronômico e cultural de Santa Catarina (ficando atrás apenas da Oktoberfest, em Blumenau).





REGIÃO RURAL DE LAGES




A GRALHA A ZUL É A AVE SÍMBOLO DO MUNICÍPIO




A LENDA DA GRALHA AZUL



Há muito tempo atrás, nos campos de Lages, levava-se uma vida tranqüila e pacata. Só as festas, quermesses, casamentos ou pixuruns quebravam a sua monotonia. Admiradores respeitosos de suas coisas, os serranos se surpreendiam vendo surgir onde menos se esperava, novos grupos de pinheiros, e por mais que o fizessem, não conseguiam explicação para o fato. Conta-se que num certo tempo, esta gente serrana foi surpreendida por uma forte trovoada Em meio à correria e gritos, recolheram as criações e se abrigaram em suas casas junto ao fogo de chão. Um dos moradores atreveu-se a olhar a tempestade, desrespeitando as crendices populares de que dizia ser perigoso olhar a tempestade. Ele viu uma cena jamais vista. Ele conta que no meio da tempestade uma avezinha (a gralha-azul), estava tentando se abrigar da tempestade, e um dos pinheiros gigantesco estirou os seus braços e acolheu a pobre avezinha. O morador foi correr para chamar o povo para ver, mas um clarão o surpreendeu e disse a ele que era para ele contar a todos o que tinha visto e tomar por exemplo. Maravilhado o morador passou a explicar às pessoas que era a gralha a responsável pelo aparecimento de tantos pinheiros. Ela enterrava o pinhão para se alimentar no inverno, e esquecendo do lugar onde escondera, ela buscava outros, deixando na terra a semente de novos pinheiros. Fora portanto um gesto de gratidão que o pinheiro se envergava para proteger a pobre avezinha. A partir daquele dia todos souberam o porquê dos pinheiros surgirem sem que alguém os plantassem.


LENDA DO LADRÃO DE CINCERRO



Sendo Lages, passagem e parada obrigatória de tropeiros e viajantes que levavam tropas de animais para Sorocaba - SP, onde eram vendidos numa feira, e tinham por costume acampar no local onde hoje existe a Igreja de Santa Cruz e a Cacimba. Acampavam e soltavam os animais para pastarem. A rapaziada da Vila, muito brincalhões (característico do lageano até hoje), à noite roubavam os cincerros ou colocavam palha de milho dentro dos mesmos, evitando assim que o tropeiro escutasse o barulho. Muitas vezes os tropeiros pela manhã ao tentar reunir a tropa para seguir viagem, não conseguiam localizar os animais, pois não escutavam o som dos cincerros. Enquanto a rapaziada lageana escondida, davam grossas gargalhadas, atrás das moitas. Assim levaram a alcunha de Ladrão de Cincerro.

O BOI DE BOTAS



Por razões históricas, os lageanos receberam a alcunha de "Boi de Botas". Durante a Guerra Farroupilha, uma das maiores epopéias da história do Brasil, forças rebeldes aqui proclamaram a República, que acabou tendo uma vida efêmera. O idealismo da luta farrapa que durou 10 anos, e a valentia dos heróis anônimos, marcaram uma importante página na história de Lages. Em 1839, aqui formaram um pelotão de Cavalaria, que seguiu serra a baixo, para o combate que objetivava a tomada de Laguna. Ao lado dos farrapos, lutaram Giuseppe e Anita Garibaldi. Em pleno combate, os canhões e carroções puxados por bois, atolaram na lama e foram retirados a força pela comitiva lageana, o que provocou o comentário do Comandante David Canabarro ao Coronel Serafim de Moura, que chefiava a expedição: "Seus soldados se portaram com tal bravura e força, como se fossem verdadeiros Bois de Botas". Em vista do civismo e bravura que o originou, "Boi de Botas" é sinônimo de heroísmo, de que se orgulham todos os lageanos.


LENDA DA SERPENTE DO TANQUE



Nas segundas feiras, no tanque, as lavadeiras debruçadas por sobre as tábuas, torcer as roupas dos senhores coronéis e suas famílias, trabalhavam enquanto batiam aquele papo gostoso do dia a dia. Em meio a estes papos, as histórias iam sendo contadas e a lenda do tanque se repetia no palavreado simples das mulheres que ali lavavam as roupas. A história contada era de que uma mãe solteira, para encobrir o fruto de sua vergonha, jogara a criança naquele tanque onde estava a labutar.
Estranhamente, todavia, a criança não morrerá, mas se transformara numa cobra. Contavam elas que a cabeça as cobra permanecera ali no tanque e a cauda se encontrava no rio Carahá., estendida em todo o seu percurso. Nossa Senhora, a padroeira de Lages, ciente do hediondo crime praticado pela desnaturada mãe, prendia com os pés a cabeça da moderna hidra ao berço úmido da desgraça mítica, procurando assim evitar que a criança, transmutada em monstro, se revelasse ao mundo.No dia em que a Santa abandonasse esse propósito, cidade seria totalmente tomada pelas águas, escapando somente a enchente a Cacimba da Santa Cruz. Diversas vezes notou-se a verídica a previsão, pois, quando era tirada a imagem da Santa de seu altar, na Catedral, mesmo em procissões, começava a chover torrencialmente, parecendo que o mundo iria se desfazer em água. Porém, bastava retornar a imagem da Santa ou seu altar, que, o sol voltava a brilhar, afastando-se assim a promessa do cumprimento do trágico cataclisma. O relato das mulheres lavadeiras se espalhou por toda a cidade e o medo se apossou de todos, vindo assim a fazer com que as mulheres nunca comparecessem sozinhas ao tanque, sempre iam acompanhadas ou em grupos. Ninguém se atrevia a passar a noite naquele ermo, porque, ao lado do coaxar dos sapos, ouvia-se plangente e lúgubre o grito de um ser perdido em angustia e desesperança.


IMAGENS TIPICAS DA REGIÃO





CHARLES CHAPLIN

Hoje, dia 16 de abril, se Charles Chaplin fosse vivo estaria apagando 121 velinhas no seu bolo de aniversário.


Se tivesse acreditado
na minha brincadeira
de dizer verdades teria
ouvido verdades que
teimo em dizer brincando,
falei muitas vezes como um palhaço
mas jamais duvidei da
sinceridade da platéia
que sorria."


A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.


Cada um tem de mim exatamente o que cativou,e cada um é responsável pelo que cativou, não suporto falsidade e mentira, a verdade pode machucar, mas é sempre mais digna.

Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão. Perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem mais se atreve e a vida é muito para ser insignificante.

Eu faço e abuso da felicidade e não desisto dos meus sonhos. O mundo está nas mãos daqueles que tem coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos.”




"Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os
segredos, inclusive o da felicidade."

"Carlitos é a síntese de muitos ingleses que conheci em Londres. O bigodinho
simboliza a vaidade, o resto é a caricatura do nosso comportamento ridículo e
desajeitado."

"A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe."

"O som aniquila a grande beleza do silêncio."

"Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação."


PRECISO DE ALGUÉM...


Que me olhe nos olhos quando falo.
Que me ouça as minhas tristezas e
neuroses com paciência.
E, ainda que não compreenda,
respeite os meus sentimentos.
Preciso de alguém, que venha brigar ao
meu lado sem precisar ser convocado;
alguém Amigo o suficiente para dize-me às
verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo
que posso odiá-lo por isso.
Nesse mundo de céticos, preciso de alguém que creia,
nessa coisa misteriosa, desacreditada,
quase impossível: - A Amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo,
que não vá embora se algum dia
Eu perder o meu ouro e não for mais a
sensação de festa.


Charles Chaplin








FOTOGRAFIA


Seu sorriso me atrai como
Chamo a uma flor

Fotografia Você é o fungo escuro
Na selva
Esta é a sua beleza
Os brancos não são
Luar
Em um jardim tranquilo
Cheio de jardineiros água viva e diabólico

Foto você está soltando fumaça
Esta é a sua beleza
E em você
Fotografia
tons Languid
Onde você pode ouvir
Uma melodia

Você é a sombra de fotografias
Do Sol
Esta é a sua beleza.


Guillaume Apollinaire

CALVIN HARRIS - I'm Not Alone -

JON MCLAUGHIN - Beautiful Disaster -

quinta-feira, 15 de abril de 2010

PINK FLOYD - Pigs On The Wing -

AYREON - Valley Of The Queens -

LUÍS GUIMARÃES JÚNIOR


Luís Guimarães Júnior (L. Caetano G. J.), diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17 de fevereiro de 1845, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 20 de maio de 1898. Foi um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís
Era filho de Luís Caetano Pereira Guimarães, português, e de Albina de Moura, brasileira. (Há uma divergência na data de seu nascimento: Sílvio Romero indica o ano de 44; outras fontes registram 1847. A filha do poeta, D. Iracema Guimarães Vilela, forneceu a Múcio Leão a data de 45.) Fez os primeiros estudos no Rio de Janeiro.Aos dezesseis anos escreveu o romance Lírio branco, dedicado a Machado de Assis. Partiu para São Paulo, a fim de continuar os estudos preparatórios, e lá recebeu uma carta de Machado de Assis animando-o a prosseguir na carreira das letras. Fez o curso de Direito no Recife entre 1864 e 1869. Ali assistiu ao desenvolvimento da "escola condoreira", em que tomou parte mais ou menos diretamente. Continuou a escrever, multiplicando-se no jornalismo e escrevendo livros de contos, comédias e poesias.Aos 28 anos, apaixonado por Cecília Canongia, cogitou de se casar. Sua situação no jornalismo e nas letras, embora brilhante, não lhe proporcionava os meios para viver estavelmente. O poeta e amigo Pedro Luís, então ministro dos Negócios Estrangeiros, oferece-lhe um lugar na diplomacia como secretário de Legação em Londres. De 1873 a 1894, passou por vários outros postos, em Santiago do Chile, em Roma, onde serviu sob as ordens de Gonçalves de Magalhães, e em Lisboa; foi, depois, como enviado extraordinário, para Veneza. Em 1894, transferiu-se, já aposentado, para Lisboa, onde veio a falecer.


NOITE TROPICAL


Desceu a calma noite irradiante
Sobre a floresta e os vales semeados:
Já ninguém ouve os cantos prolongados
Do negro escravo, estúpido e arquejante.

Dorme a fazenda: — apenas hesitante
A voz do cão, em uivos assustados,
Corta o silêncio, e vai nos descampados
Perder-se como um grito agonizante.

Rompe o luar, ensangüentado e informe,
Brotam fantasmas da savana nua ...
E, de repente, um berro desconforme

Parte da mata em que o luar flutua,
E a onça, abrindo a rubra fauce enorme,
Geme na sombra, contemplando a lua.


O SONO DE UM ANJO


Quando ela dorme, como dorme a estrela
Nos vapores da tímida alvorada,
E a sua doce fronte extasiada,
Mais perfeita que um lírio, e tão singela,

Tão serena, tão lúcida, tão bela,
Como dos anjos a cabeça amada,
Repousa na cambraia perfumada,
Eu velo absorto o casto sono dela.

E rogo a Deus, enquanto a estrela brilha,
Deus que protege a planta e a flor obscura,
E nos indica do futuro a trilha,

Deus, por quem toda a criação se humilha,
Que tenha pena dessa criatura,
Desse botão de flor — que é minha filha


VISITA À CASA PATERNA


Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.

Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.

Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
Minhas irmãs e minha mãe... O pranto

Jorrou-me em ondas... Resistir, quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.


Luís Guimarães Júnior, 1876

SYD BARRET - Here I Go -

PINK FLOYD - Marooned -

SOLIDÃO


A rotina persuade a resistência
O cansaço persuade a desistência
A esperança empilha grãos de areia
Para deixar alguma história
Como se uma página nova
Fosse contar algo novo
Ou o esquecimento
Apagando algumas palavras
Refizesse algum sentido
Ao refazer sentenças
Como se sentido fosse fato
E não o eterno refazer-se
De quem deu por si no terremoto de si mesmo
E nunca usou os ouvidos
Para se acreditar o único
A gritar em silêncio
Depois do branco, do vermelho e do cinza
O negro ainda será uma metáfora
Do insípido e do incolor
Da mesma e única solidão
Onde cada um chora sua dor.


André Díspore Cancian

FRONTEIRA


É doce
a tentação do labirinto
assim que o sono chega e se propaga
ao contorno das coisas. mal as sinto
quando confundo a onda sempre vaga

deste falso cansaço que regressa
ao som da minha estranha e dócil fala
cada vez mais submersa como essa
pequena luz da rua que resvala

plo interior da noite. É quase um sonho
A respirar lá fora enquanto o quarto
se dilui na fronteira que transponho
e afoga a consciência de onde parto

agora sem direito nem avesso
no incerto momento em que adormeço.


Fernando Pinto do Amaral
.

GLORIANA - Wild At Heart -

HOLE - Best Sunday Dress -

MARIA MENA - Cause And Effect -

quarta-feira, 14 de abril de 2010

CARLOS PENA FILHO


Filho de pais portugueses, Carlos Souto Pena, comerciante, e Laurinda Souto Pena. Em 1937, com a separação dos pais, mudou-se para Portugal, com sua mãe e irmãos, Fernando e Mário, indo morar na casa dos avós paternos. Lá viveu dos oito aos doze anos de idade quando então retornou para o Brasil. O pai permaneceu no Recife, onde era proprietário de uma sorveteria. Fez seu curso primário enquanto esteve em Portugal e o curso secundário no Recife.
Carlos Pena Filho foi um poeta político, interessado em cada aspecto da vida de sua cidade e do seu Estado, Pernambuco. Estudante de Direito, formou-se pela Faculdade de Direito do Recife, tendo participado ativamente da política universitária, empenhando-se em campanhas eleitorais.Em 1954, ao chegar Parnamirim, município pernambucano, com outros estudantes universitários que apoiavam o então candidato a governador Cordeiro de Farias, foi baleado (31 perfurações no corpo), durante uma briga entre um morador do município e a Polícia Militar local.Como advogado atuou em repartição do Estado e, em paralelo, trabalhou como jornalista no Diário de Pernambuco, Diário da Noite e Jornal do Commercio, onde fez reportagens, escreveu crônicas e publicou alguns de seus poemas. Casou com Maria Tânia Tavares Barbosa, com quem teve uma filha, Clara Maria de Souto Pena, que lhe deu três netos: Maria Joana, Maria Luiza e Carlos Souto Pena.Durante a vida contou com a amizade e a admiração de muitos escritores e poetas de renome. Conviveu estritamente com Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota, Gilberto Freyre e Jorge Amado, dentre outros. Faleceu aos 31 anos, vítima de um acidente automobilístico, em 1º de julho de 1960, no Recife.
(1929-1960)


SONETO À FOTOGRAFIA



Libertar-se ligeiro da moldura
é o desejo da face, onde, o desgosto
emigrado do poço de água impura,
vai se aninhar na hora do sol posto.
Do lugar da prisão vem a tortura,
pois vê, do seu retângulo, teu rosto
e acorrentado na parede escura,
não pode engravidar-te para agosto.

Guarda ainda no olhar instante e viagem:
o instante em que foi presa pela imagem
e o roteiro que fez em mundo alheio.

E eterna inveja do seu sósia ausente
que, embora prisioneiro da corrente,
habita num subúrbio do teu seio.




DESMANTELO AZUL


Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.


A SOLIDÃO E SUA PORTA


Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.


Carlos Pena Filho

THE CRANBERRIES - When yuo're Gone -

FÍMBRIA DE MELANCOLIA


Fímbria de melancolia,
memória incerta da dor,
ouço-a no gravador,
no fado que não se ouvia
quando ouvia o seu clamor.

Porque era já no passado
o presente dessa hora
e que me ressoa agora
a um outro mais alongado.

Assim a dor que se sente
no outro obscuro de nós
nunca fala a nossa voz
mas de quem de nós ausente,
só a nós próprios consente
quando não estamos nós
mas mais sós do que ao estar sós.

Onde então estamos nós?


Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

O CORAÇÃO TEM RAZÕES...


Você se lembra daquela tocante história do livro O Pequeno Príncipe? Bom, existe uma história mais tocante ainda que aconteceu de fato com o criador do Pequeno Príncipe, o escritor francês Antoine de St. Exupéry. Poucas pessoas sabem que ele lutou na Guerra Civil Espanhola, quando foi capturado pelo inimigo e levado ao cárcere para ser executado no dia seguinte. Nervoso, ele procurou em sua bolsa um cigarro, e achou um, mas suas mãos estavam tremendo tanto que ele não podia nem mesmo levá-lo à boca. Procurou fósforos, mas não tinha, porque os soldados haviam tirado todos os fósforos de sua bolsa. Ele olhou então para o carcereiro e disse: "Por favor, usted tiene fósforo?". O carcereiro olhou para ele e chegou perto para acender seu cigarro. Naquela fração de segundo, seus olhos se encontraram, e St. Exupéry sorriu.
Depois ele disse que não sabia por que sorriu, mas pode ser que quando se chega perto de outro ser humano seja difícil não sorrir. Naquele instante, uma chama pulou no espaço entre o coração dos dois homens e gerou um sorriso no rosto do carcereiro também. Ele acendeu o cigarro de St. Exupéry e ficou perto, olhando diretamente em seus olhos, e continuou sorrindo. St. Exupéry também continuou sorrindo para ele, vendo-o agora como pessoa, e não como carcereiro.
Parece que o carcereiro também começou a olhar St. Exupéry como pessoa, porque lhe perguntou: "Você tem filhos?". "Sim", St. Exupéry respondeu, e tirou da bolsa fotos de seus filhos. O carcereiro mostrou fotos de seus filhos também, e contou todos os seus planos e esperanças para o futuro deles. Os olhos de St. Exupéry se encheram de lágrimas quando disse que não tinha mais planos, porque ele jamais os veria de novo. Os olhos do carcereiro se encheram de lágrimas também. E de repente, sem nenhuma palavra, ele abriu a cela e guiou St. Exupéry para fora do cárcere, através das sinuosas ruas, para fora da cidade, e o libertou. Sem nenhuma palavra, o carcereiro deu meia-volta e retornou por onde veio. St. Exupéry disse: "Minha vida foi salva por um sorriso do coração".

SLICK - CHEW LIPS -

PERGUNTA


Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?


Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

SONETO


Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?
Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.


José Carlos Ary dos Santos

SYD BARRETT - She Took A Long Cold Look -

KIP WINGER - Pages And Pages -

segunda-feira, 12 de abril de 2010

HOLOCAUSTO

Dia 12 de abril, Dia do Holocausto, que lembra o extermínio de seis milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.



CINZAS DO HOLOCAUSTO



Banalidade do mal,
Um retrocesso, imoral,
Pensou a Poeta, um dia…
E veio à tona o temor
De, ante tanto desamor,
Não haver mais poesia.
Como pensar poesia
(Que a luz humana irradia),
Diante de tal horror?
Tormento que assola a gente,
Que torna o ser impotente,
Perplexo, puro estupor?
Como entender tanta injúria,
Tanta atividade espúria,
Maldosa, feroz, insana?…
A revelação mais dura
Da face mais obscura
Da natureza humana…
Quantas ilusões perdidas,
Infâncias interrompidas,
Esperanças decepadas…
Quantas lúbricas medidas
Transformando sobrevidas
Em almas atormentadas…
Infelizmente herdamos
Todos nós, que aqui estamos,
Esse espólio de maldade.
Como vítimas de um Fausto
Sobre as cinzas do Holocausto,
Caminha a Humanidade.
Mas podemos, conscientes,
Eliminar as sementes
Que a intolerância traz.
Acabar com toda guerra,
E reinventar a Terra,
Dar-lhe um futuro de paz…
Semear fraternidade,
Colher só felicidade
E combater toda dor…
Abrir coração e mente,
Batalhando, simplesmente,
Nas trincheiras do amor…
Defender a liberdade
Não deve ser, em verdade,
Mera preocupação.
Combater a injustiça
Tem de ser uma premissa,
Verdadeira obsessão.
O inferno do Holocausto,
Algoz, fruto da infâmia,
Não pode ser repetido!
E justamente por isso
Não pode – e não deve – ser
Nunca, jamais, esquecido!


Oriza Martins


Judeus relembram Holocausto
Rosa é colocada sob arame nas proximidades do portão de Auschwitz, sul da Polônia (Foto: Peter Andrews/Reuters)

Hoje o mundo, mais uma vez homenageia todos os judeus que vivenciaram, sucumbiram (6 milhões) ou sobreviveram ao terror do Holocausto. Que ninguém se esqueça desse episódio hediondo, racista e covarde.
Arrancados de suas casas, destituidos de seus bens, humilhados, feitos de cobaia, encerrados em campos de concentração, mortos de fome como animais...comandados por uma mente doentia e paranóica e desequilibrada...