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sábado, 28 de abril de 2012

Sistema Sombrio


De cada um destes dias negros como velhos ferros,
e abertos pelo sol como grandes bois vermelhos,
e apenas sustidos pelo ar e pelos sonhos,
e desaparecidos irremediavelmente e de súbito,

nada substitui as minhas perturbadas origens,
e as desiguais medidas que circulam no meu coração
aí se forjam de dia e de noite, solitariamente,
e abarcam desordenadas e tristes quantidades.

Assim,pois, como um vigia tornado insensível e cego,
incrédulo e condenado a uma dolorosa espreita,
diante da parede na qual cada dia do tempo se une,

os meus rostos diferentes se apóiam e se encadeiam
como grandes flores pálidas e pesadas
tenazmente substituídas e defuntas.


Pablo Neruda

quinta-feira, 26 de abril de 2012

As Cores Do Sol


Ao cair da tarde
Penso sempre mais
E a luz que me invade
São as cores naturais
Cada figura
que passa por mim
nem me perturba
e eu fico assim
Longe me leva este silêncio
e o sentir que se altera
são as cores do sol
E eu fico encantada
e eu sinto-me a arder
quando o dia se apaga
fica tanto por fazer.


Pedro Ayres Magalhães

terça-feira, 24 de abril de 2012

Na Saliva No papel...


Na saliva no papel
no eclipse em todas as linhas
em todas as cores em todas as jarras
no meu peito fora, dentro
no tinteiro na dificuldade de escrever na maravilha dos meus olhos, nas últimas luas do sol (mas o sol não tem luas) em tudo e dizer em tudo é estúpido e magnífico Diego na minha urina Diego na minha boca no meu coração na minha loucura no meu sonho no mata-borrão na ponta da caneta nos lápis nas paisagens na alimentação no metal na imaginação nas doenças nas montras nas suas astúcias nos seus olhos na sua boca nas suas mentiras.


Frida Kahlo

domingo, 22 de abril de 2012

Quando Chegaste


Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo.
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.


Alphonsus de Guimarães