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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Lisboa


De Lisboa recordo os jardins
sonolentos, as ruas tortuosas
do bairro de Alfama e a luz
secreta das tardes junto ao cais
onde juntos bebemos os movimentos da água.
E recordo as noites sem penumbra,
o mar azul, a rota dos comboios
que perdemos naquele junho radiante
e luminoso.
Hoje escuto o seu eco
enquanto a névoa flutua nas colinas
e rangem de saudade os carris,
a hera, os postigos e os fundos
de água entre sereias desaparecidas.
Não sei se o recordo ou somento esqueço
o peso intransitável das sombras.
Pois ainda que o tempo arraste para o nada
a juventude, a felicidade, os tesouros,
ainda que não volte jamais o paraíso,
será sempre primavera em Lisboa:
é que não vejo na memória nem nos seus mapas
esse ónus obscuro do regresso.


Sara Gutiérrez Caballero

2 comentários:

  1. Eu que estou dividida entre a minha Lisboa,que
    amo de paixão e o Porto que mora no meu coração,
    tocou-me este poema!
    A parte final é magnífica!
    Parabéns pela escolha.
    Obrigada pela partilha!
    Beijo.
    isa.

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  2. Bonito...bonito...bonito....e a imagem que o
    Ilustra.....Maravilhosa..
    Beijo

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