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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

PERGUNTA-ME


PERGUNTA-ME

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
.
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
.
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
.
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer .


Mia Couto

Um comentário:

  1. Enfeite-se com margaridas e ternuras
    E escove a alma com flores
    Com leves fricções de esperança
    De alma escovada e coração acelerado
    Saia do quintal de si mesmo
    E descubra o próprio jardim...


    Carlos Drummond de Andrade


    Encantador seu blog........Parabéns!!

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