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sexta-feira, 13 de maio de 2011

As Velhas Negras...

As velhas negras, poema de Gonçalves Crespo, no dia 13 de maio, comemoração da Lei Áurea


-As velhas negras, coitadas,
Ao longe tão assentadas
Do batuque folgazão.
Pulam crioulas faceiras
Em derredor das fogueiras
E das pipas de alcatrão.
-
Na floresta rumorosa
Esparge a lua formosa
A clara luz tropical.
Tremeluzem pirilampos
No verde-escuro dos campos
E nos côncavos do val.
-
Que noite de paz! que noite!
Não se ouve o estalar do açoite,
Nem as pragas do feitor!
E as pobres negras, coitadas,
Pendem as frontes cansadas
Num letárgico torpor!
-
E cismam: outrora, e dantes
Havia também descantes,
E o tempo era tão feliz!
Ai! que profunda suaddade
Da vida, da mocidade
Nas matas do seu país!
-
E ante o seu olhar vazio
De esperanças, frio, frio
Como um véu de viuvez,
Ressurge e chora o passado
– Pobre ninho abandonado
Que a neve alagou, desfez…
-
E pensam nos seus amores
Efêmeros como as flores
Que o sol queima no sertão…
Os filhos quando crescidos,
Foram levados, vendidos,
E ninguém sabe onde estão.
-
Conheceram muito dono:
Embalaram tanto sono
De tanta sinhá gentil!
Foram mucambas amadas,
E agora inúteis, curvadas,
Numa velhice imbecil!
-
No entanto o luar de prata
Envolve a colina e a mata
E os cafezais ao redor!
E os negros mostrando os dentes,
Saltam lépidos, contentes,
No batuque estrugidor.
-
No espaço e amplo terreiro
A filha do Fazendeiro,
A sinhá sentimental,
Ouve um primo-recém-vindo,
Que lhe narra o poema infindo
Das noites de Portugal.
-
E ela avista entre sorrisos,
De uns longínquos paraísos
A tentadora visão…
No entanto as velhas, coitadas,
Em
Cismam ao longe assentadas
Do batuque folgazão…


Gonçalves Crespo

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