VISITANTES

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ESPELHO


ESPELHO

Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.

Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um peixe terrível.


Sylvia Plath

Um comentário:

  1. Pois é amiga. Que vida essa do espelho. Não pode elogiar, não pode criticar, nem sequer, pode fazer cara feia ou bonita. É ter que aceitar tudo e esperar pelo que lhe possa aparecer caladinho e com resignação.

    Como sempre, fizeste uma bela escolha.

    Beijos,

    Furtado.

    ResponderExcluir