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domingo, 8 de novembro de 2009

BARCO DE PAPEL


Relembro um dia dos meus tempos de menino:
larguei a flutuar
um barco de papel na água de um fosso.
Era no mês de julho, e era um dia chuvoso;
eu estava sozinho e era feliz
com o meu brinquedo... Sobre o fosso eu fiz
o meu barquinho de papel boiar...

Súbito, as nuvens carregadas de tormenta
se adensaram; os ventos, em rajadas,
assopraram, e a chuva, em bátegas, tombou.
Jorros de água barrenta
arremeteram e engrossaram a corrente,
e o meu barquinho de papel lá se afundou...

Pensei comigo amargamente
que a tempestade viera expressamente
para destruir minha felicidade:
era bem contra mim toda a sua maldade.

Aquele dia nublado
de julho já vai hoje bem distante,
e tenho muitas vêzes meditado
em todos os brinquedos desta vida
que eu
fui sempre quem perdeu...
Culpava assim o meu destino
dos desenganos todos que me deu,
mais eis que me lembrei sùbitamente
do barco de papel lá no fosso afundado.


(Rabindranath Tagore)

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