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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

POEMA DO AMOR


POEMA DO AMOR
Penso: agora serei feliz
pois ao meu lado está o Amor.
Sob a terra escondo a raiz,
árvore a rebentar em flor.

Feliz como o campo de trigo
que após a chuva se aqueceu.
Enfim o Amor está comigo,
de coração unido ao meu!

Contudo, agonias estranhas,
estranhas amarguras trago-as
caladamente nas entranhas,
como um lago de fundas águas.

Tua presença – arco triunfal -
cobre-me a vida de esplendor.
E eu sei que não há dor nem mal
que atinja a presença do Amor.

Porém se teus olhos profundos
seguem como barcos à vela
o roteiro de novos mundos,
que distância se me revela!

Se despiedoso ou distraído
quebra de nossos dedos o elo,
- pássaro que tomba ferido,
nas minhas mãos morre este anelo.

Se teu carinho promissor
pela manhã se me anuncia,
pressentindo de sol-pôr
enubla o cristal de alegria.

Teu silêncio é trama de espinhos
em que se laceram meus véus.
Tua voz – espuma de vinhos
que te embriagaram noutros céus.

Nesta paixão que nos separa
quanto mais no que une a aparência,
sofro – minha volúpia rara! -
toda a nostalgia da ausência.

Amor – espada de dois gumes,
cada qual mais frio e mais forte:
se a vida está no que resumes,
és o caminho para a morte.


Henriqueta Lisboa –
do livro: Prisioneira da Noite (1935 – 1939)

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