VISITANTES

sábado, 19 de março de 2011

Cem Anos Sem Assis Valente



José de Assis Valente (Santo Amaro, 19 de março de 1911- Rio de Janeiro, 6 de março de 1958) foi um compositor brasileiro, levado ao suicídio por dívidas.
Irônico, sempre usou de muita verve para esconder uma vida carregada de agruras. Raptado, utilizado como escravo nos seus primeiros anos de vida, no interior baiano, Valente é um sobrenome muito apropriado para o notável compositor. Até o seu suicídio, por envenenamento, a 10 de março de 1958, sua trajetória misturou talento e uma alegria de viver que quase conseguiram vencer as tragédias que se sucederam em sua vida. Em suas canções, pedaços suculentos de brasilidade e o toque de poeta que herdou, quem sabe, de uma iluminação divina.
Seu universo musical, porém, vai muito além dos horizontes da malandragem, beira os campos do lirismo e a pureza inocente e contundente de letras imortais como a da sua popularíssima “Boas Festas”:

Boas Festas-Assis Valente
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem




Dentre suas composições mais famosas está "Brasil Pandeiro", sucesso dos Novos Baianos.

Chegou a hora dessa gente bronzeada
Mostrar seu valor
Eu fui à penha fui pedir à padroeira para
Me ajudar
Salve o morro do vintém, pindura-saia,
Eu quero ver
Eu quero ver o tio sam tocar pandeiro
Prara o mundo sambar
O tio Sam está querendo conhecer
Anossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana
Melhorou seu prato
Vai entrar no cuscuz, acarjé e abará
Na casa branca já dançou a batucada
De ioiô i iaiá
Brasil, esquentai vossos pandeiros iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar
Há quem sambe diferente
Noustras terras, outra gente
Um batuque de matar
Batucada, reuni vossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressoes que nâo tem par
Oh! Meu Brasil
Brasil, esquentai vossos pandeiros...




Na década de 30 compõe seus primeiros sambas, bastante incentivado por Heitor dos Prazeres. Muitas de suas composições alcançam o sucesso, nas vozes de grandes intérpretes da época, como Carmem Miranda, Orlando Silva, Altamiro Carrilho e muitos outros.
Graças a uma dívida cobrada por Elvira Pagã, que lhe cantara alguns sucessos, junto com a irmã, tenta o suicídio pela primeira vez, cortando os pulsos.
Casou-se, em 23 de dezembro de 1939, com Nadyli da Silva Santos. Em 1941 (13 de maio) havia tentado o suicídio mais uma vez, saltando do Corcovado – tentativa frustrada por haver a queda sido amortecida pelas árvores.
Em 1942 nasce sua única filha, Nara Nadyli, e separa-se da esposa.
Anos depois, em 1958, encontra a morte na sua terceira tentativa de suicídio... Num parque infantil, ingere uma garrafa de guaraná com formicida, num final de tarde de março. De maneira trágica com uma literal dose de absurdo, ele finalmente entregava os pontos. Cumpria os versos de seu último samba, “Lamento”, também de 1958:

“Felicidade afogada morreu
A esperança foi fundo e voltou
Foi ao fundo e voltou
Foi ao fundo e ficou”.

A polícia encontrou em seu bolso um último bilhete, um pedido ao amigo Ary Barroso para que lhe pagasse dois meses de aluguel em atraso. O texto finalizava com seu último suspiro, cheio de poesia: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário