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terça-feira, 11 de maio de 2010

ODYLO COSTA FILHO


Odylo Costa, filho, jornalista, cronista, novelista e poeta, nasceu em São Luís, MA, em 14 de dezembro de 1914, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de agosto de 1979. Eleito em 20 de novembro de 1969 para a Cadeira n. 15, na sucessão de Guilherme de Almeida, foi recebido em 24 de julho de 1970 pelo acadêmico Peregrino Júnior.
Filho do casal Odylo Costa Moura Costa e Maria Aurora Alves Costa, transferiu-se ainda criança do Maranhão para o Piauí, onde fez estudos primários e secundários em Teresina, os primeiros no Colégio Sagrado Coração de Jesus e os segundos no Liceu Piauiense. Desenvolveu, assim, dupla afetividade de província, fraternalmente desdobrada entre as duas cidades, e estendida a Campo Maior, no Piauí, onde nasceu sua mulher, D. Maria de Nazareth Pereira da Silva Costa, com quem se casou em 1942, sob a bênção de três poetas: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade, padrinhos do casamento. Mas já aos 16 anos, em março de 1930, Maranhão e Piauí ficaram para trás e Odylo Costa, filho, em companhia dos pais, fixou-se no Rio de Janeiro, bacharelando-se em Direito, pela Universidade do Brasil, em dezembro de 1933. Desde os 15 anos, porém, já se revelava no jovem maranhense a vocação de jornalista, que encontrou, aliás, seu primeiro abrigo no semanário Cidade Verde, de Teresina, fundado em 1929. Por isso mesmo, em janeiro de 1931, conduzido por Félix Pacheco, entrou Odylo para a redação do Jornal do Commercio, onde permaneceu até 1943. O jornalismo, entretanto, embora ocupando boa parte de sua atividade intelectual, não o fazia esquecer a literatura e, em 1933, com o livro inédito Graça Aranha e outros ensaios, publicado no ano seguinte, obtinha o Prêmio Ramos Paz da Academia Brasileira de Letras. Em 1936, em colaboração com Henrique Carstens, publica o Livro de poemas de 1935, seguido, nove anos mais tarde, do volume intitulado Distrito da confusão, coletânea de artigos de jornal em que, nas possíveis entrelinhas, fazia a crítica do regime ditatorial instaurado no país em 1937. Mas o jornalismo, apesar desses encontros sempre felizes com a literatura, foi na verdade sua dedicação mais intensa, exercido com notável espírito de renovação e modernidade. Deixando o Jornal do Commercio, Odylo Costa, filho, foi sucessivamente fundador e diretor do semanário Política e Letras (de Virgílio de Melo Franco, de quem foi dedicado colaborador na criação e nas lutas da União Democrática Nacional); redator do Diário de Notícias, diretor de A Noite e da Rádio Nacional, chefe de redação do Jornal do Brasil, de cuja renascença participou decisivamente; diretor da Tribuna da Imprensa; diretor da revista Senhor; secretário do Cruzeiro Internacional; diretor de redação de O Cruzeiro e, novamente, redator do Jornal do Brasil, função que deixou em 1965, ao viajar para Portugal como adido cultural à Embaixada do Brasil. Mas nem sempre, ao longo dessa extraordinária atividade, foi apenas o jornalista de bastidores, o técnico invisível. Em 1952 e 1953, exerceu a crítica literária no Diário de Notícias, onde também criou e manteve a seção "Encontro Matinal", juntamente com Eneida e Heráclio Salles. Durante prolongado período, publicou uma crônica diária na Tribuna da Imprensa.

SONETO DA FELICIDADE


Não receies, amor, que nos divida
um dia a treva de outro mundo, pois
somos um só, que não se faz em dois
nem pode a morte o que não pode a vida.

A dor não foi em nós terra caída
que de repente afoga mas depois
cede à força das águas. Deus dispôs
que ela nos encharcasse indissolvida.

Molhamos nosso pão quotidiano
na vontade de Deus, aceita e clara,
que nos fazia para sempre num.

E de tal forma o próprio ser humano
mudou-se em nós que nada mais separa
o que era dois e hoje é apenas um.

SERENIDADE

Meu coração é hoje um mar moreno
onde brincam sereias inocentes.
Peixes cegos do mar que o desnorteiam
calaram sua luz fosforecente.

Mesmo os mortos que pensam no meu sangue,
e me fazem andar torto de um lado,
ajudam-me a marchar, leve lembrança,
numa respiração transfigurada.

Afundo aos pés sem vê-los nos sargaços,
com os olhos postos longe, onde nem asas
cortam silêncios pelo céu que dorme.

Vem comigo nos barcos uniarbóreos.
Espera-nos a máquina do mundo
entre o folguedo astuto das baleias.


AMOR CALADO

Ainda que o canto desça, de atropelo
como abelhas no enxame alucinante
em torno a um tronco, e me penetre pelo
ouvido, em sua música incessante,

Juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo.
Hei de fechá-lo em mim como diamante
dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo
na minha alma cansada e navegante.

E nunca mais proclamarei que te amo.
Antes o negarei como os namoros
secretos de menino encabulado.

Que se cale este verso em que te chamo.
Cessem para jamais risos e choros.
Meu amor mineral é tão calado!

OFERTA

Trago-te alegrias
que tristezas não:
grito de arapongas
despertando a aurora,
rosas cor-de-rosa
filtradas na fonte,
madrugadas quietas
a florir em trens,
nuvens acordadas
no rumor das asas,
água de riacho
nas mãos pequeninas
pressentindo a tarde,
castelos de areia
sob os buritis,
xexéus assobiando
gargalhadas finas,
galos-de-campina
de canto solar,
cores de tucano
recortando o ar,
carne adivinhada
pela solidão ...
Assim o menino
pressabia lúcido
que lhe descerias
sobre seu destino
e juntava os risos
da manhã nascente
para as amarguras
de uma vida inteira
a fim de criar
sobre a dor mais funda
uma escancarada
frágil alegria
para te trazer
só para te amar,
a pura alegria,
tênue, transparente,
feita só de vôo,
feita só de areia,
feita só de riacho,
feita só de mar ...


Odylo Costa Filho
In Cantiga incompleta

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