VISITANTES

quarta-feira, 12 de maio de 2010

OFÍCIO DE INTENSIDADE E CALMA



Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz

E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria

E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo

Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios.


António Ramos Rosa,
"Poemas Inéditos"

Nenhum comentário:

Postar um comentário