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quarta-feira, 2 de junho de 2010

MENINO ESCONDIDO


Há um menino por baixo das coisas,
Por tão dentro assim que se diz âmago.
Ali, no mais distante e só do nosso ser,
Onde não acontecem palavras nem sol.
Ele vive de roer umas migalhas de vida,
Sob o regime vigilante do bom senso...

Às vezes joga verdades pela nossa boca,
Mas logo rejeitado retorna para sua cela.
Está sempre sozinho, ausente das horas,
Com destino de eterno breu e silêncio.
Lá não há escada que facilite sua fuga,
Nem verdades que clareiem o caminho.

Esse menino levaremos calado até o fim,
Para que vençam nossas meias-verdades,
E façam de nós homens que não fomos,
E sagrem mulheres que jamais existiram,
E que assim a estrada de viver siga planos,
E a sociedade não seja afetada pelo real.

Esse garoto e sua bandeira pequenina,
Assim guardado talvez seja o único jeito
De manter no caminho a raça humana;
Driblando verdades, maquiando desejos.
Que durma pois nosso menino em sigilo,
Deixado para um acaso qualquer adiante.

Hoje não, que viver ainda é de disfarces,
Um contrato assinado antes de nascermos:
Por um quase-caminho vai uma quase-vida;
Um seguir de regras sumariamente prontas.
É só viver do tamanho que morre o âmago,
E agendar para outra vez o que silencia.


Ricardo Fabião

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