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quinta-feira, 4 de março de 2010

REENCONTRO



Não deixem eu calar minha saudade agora;
busquei o mundo, passei muito tempo fora.
Ponham copos nesta mesa abandonada,
onde jogamos cartas e destinos.

Não abram as janelas já tão carcomidas
pelo tempo passado, pó da vida,
nesta casa que gentil nos abrigou
em algazarras e momentos distraídos.

As gavetas devem estar abarrotadas
de tanta coisa inútil e empoeirada:
poemas murchos, flores ressecadas,
entristecidos à espera de algum gesto.

Não acendam a luz, meus pés conhecem,
os vícios dos degraus, os corredores,
as portas que abrem sempre suas asas
aos quartos amplos e acolhedores.

Ouço risos de crianças pela sala
a deslizar no já gasto corrimão
sobre colchões das camas retirados,
sempre correndo em busca de emoção.

Nas paredes há sombras que estremecem
com o bater dos corações, velhos rumores,
que preencheram um dia minha infância
e me mostraram um mundo de bonança.

Quero sentar-me no colo da mamãe,
adormecer com histórias do papai,
e despertar ao som dos passarinhos
que trinavam saltitantes nos beirais.

Agora parto, saciada de fantasmas:
são eles que abrem a porta do jardim
e ternamente beijam minhas faces.
Já vou, já vou! Só vim saber de mim.


Ceres Marylise

2 comentários:

  1. Tão lindas poesias e imagens que dão alegria e prazer de passar por aqui. Amo tudo que vejo e leio! Parabéns com admiração!

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  2. Eu gosto de sentir saudades porque somente as sinto, das coisas boas que marcaram a minha vida. Eu nunca ouvi falar de alguém que tenha sentido saudades de coisas ruins.

    Lindo poema, bela escolha.

    Beijos e fique com DEUs.

    Furtado.

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