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quarta-feira, 7 de abril de 2010

OLHARES CANSADOS


Corpos:
Suados, cansados, mirrados,
Que pela seara* vêm caminhando.
Olhares:
Mortos, vagos, parados,
Sem forças para olhar.
Cérebros que pensam sem pensar,
Pernas que andam sem andar,
Obedecendo a uma rotina
Que a mente já não pode controlar.
A vida passou ao lado,
Mas nem a morte quis ficar!
Ficou apenas um sono,
Uma letargia,
Que transforma os homens
Em mortos vivos,
Que nem ousam sequer pensar.
Não ousam...
Não ousam, ou já esqueceram,
Pois há já muito tempo que não pensam.
Trabalham, apenas....
II
Olhares cansados que se cruzam,
Sem se dar conta de que o fazem,
Pois que se esquecem de olhar.
Olhares mortos, vagos, parados,
Guardam ainda na retina
A seara* de tomate que todo o dia contemplaram...
O dia alongou-se, parecia não ter fim...
E quando o corpo se vergava, por fim,
O pôr-do-sol chegou...
E com ele, um vermelho quente, sem vida, desmaiado
(como os olhos voltando da seara*),
Inundou tudo, como se a seara* fosse de fogo.
E depois a noite desceu...
Agora, a caminho da aldeia,
As mentes fatigadas, as pernas cansadas,
Os olhares parados, as mãos calejadas,
Querem apenas o repouso merecido.
Comem não para viver,
Mas para cumprir o mesmo ritual...
Espera-os uma noite agitada,
Trabalhando como sempre na seara*,
Pois a mente, cansada,
Nada mais consegue sonhar!
E levantam-se antes do nascer do sol,
Para mais um dia de trabalho.
A noite não lhes deu repouso:
A mente não descansou, só o corpo.
E lá vão...
Olhares cansados,
Mortos, vagos, parados,
A caminho, como voltaram,
Da seara*...

Luis Beirão

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