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domingo, 23 de maio de 2010

NAS RUAS DA CIDADE...


Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
importa aonde vai no tempo dividido.
Já não é o meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda. Quem de fato o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares.
O espaço que percorre é a minha fidelidade.
Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a.
Ele é preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço.
Sem que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro.
No grande meridiano onde inscreve o seu curso,
é a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor.
Pouco importa aonde vai no tempo dividido.
Já não é o meu amor, todos podem falar-lhe.
Ele já não se recorda.
Quem de fato o amou e de longe o ilumina para que não caia?


René Char

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